A MUDEZ
DA DOENÇA E O SILÊNCIO DA PAZ INTERIOR
Faz parte da evolução humana o uso da
palavra para nos comunicarmos com o mundo e as pessoas. Mas o silêncio, o não
uso da palavra, o calar e, algumas vezes, a solidão são mais benéficos do que o barulho e as palavras.
Existe também a manifestação muda e doentia do silêncio, demonstrada pelas
doenças mentais.
O maior exemplo disso é o poder da
oração, ensinado por Jesus : “ quando
orardes, não sejais como os hipócritas...que o fazem para serem vistos pelos
outros...Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao
teu Pai que está no escondido. E o teu Pai , que vê no escondido, te dará a
recompensa. Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos.
Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras”. ( Mt 6,5-8).
Essa constatação também está presente
nas culturas e religiões orientais, onde prepondera a linguagem não verbal nos
rituais e momentos de reflexão. Os shadus,
místicos indianos, abstêm-se de falar; para eles, calar-se é indispensável
para o desenvolvimento da espiritualidade.
O silêncio e o não uso da verbalização
recebem várias interpretações: por renuncia e escolha pessoal (monges, místicos
e religiosos confinados), falar não significa se comunicar (ostentação, megalomania,
tagarelice) ou necessidade de manter-se calado para proteger-se ou não provocar
desconforto no outro ( mecanismo de personalidade).
O espaço urbano é considerado
barulhento e conflituoso, como nas grandes cidades. O excesso de sons e ruídos
com altos decibéis são prejudiciais à saúde. Nesses ambientes conturbados, com
sons de toda ordem ativam o sistema neurovegetativo (simpático), que é
interpretado pelo cérebro como um sinal de alarme, provocando a produção do hormônio do estresse, o cortisol. Esse
estado de alerta, desencadeia:
Aumento da
frequência cardíaca e da pressão arterial, com aumento do risco de doenças
cardiovasculares; diminuição das defesas imunológicas; alterações da função das
glândulas endócrinas (tireoide, hipófise, adrenais); alterações do humor,
irritabilidade, distúrbios do sono e dores de cabeça.
No mundo
conturbado e ocidental, a ausência de sons é percebida como negativa,
provocando desconforto. Quem não fala é julgado e taxado de antissocial,
introvertido, tímido e inibido. O “desejo de não falar” desencadeia a ansiedade
de interpretação. Já a quietude, o recolhimento interior, pode representar a
“fuga das distrações e das preocupações que conturbam a alma que reza”.
Mas há o lado
sombrio e dramático do silêncio que extrapola todas as culturas, religiões e
interpretações humanas: as manifestações doentias do silêncio, da depressão ou
da esquizofrenia, do autismo, nas doenças degenerativas cerebrais, dos drogados ou outras formas de afastar-se da realidade.
Esses devem ser encarados como pessoas que precisam de ajuda e não praticarmos
o mutismo seletivo e segregador.
Os efeitos
positivos do silencio não estão somente na espiritualidade, mas no cotidiano da
vida e da saúde física e mental: é parte das técnicas de relaxamento, da
meditação, da introspecção psicológica; é indispensável nas interações com a
natureza e as relações humanas; ativa o sistema neurovegetativo positivo
(parassimpático) que comanda o sono, a calma e a quietude.
Aproveitar
os momentos de silêncio, do calar consciente ou afastar-se do barulho, também
tem o seu lado terapêutico e não devemos exigir sempre de nós ou dos outros que
tenham a resposta imediata ou sempre uma a atitude barulhenta diante da vida.
(Fonte: Revista Mente & Cérebro, 53).
JARBAS ATAÍDE, 21.08.2017.
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