terça-feira, 5 de setembro de 2017

SAÚDE EM FOCO

                       

              A MUDEZ DA DOENÇA E O SILÊNCIO DA PAZ INTERIOR



          Faz parte da evolução humana o uso da palavra para nos comunicarmos com o mundo e as pessoas. Mas o silêncio, o não uso da palavra, o calar e, algumas vezes, a solidão são mais  benéficos do que o barulho e as palavras. Existe também a manifestação muda e doentia do silêncio, demonstrada pelas doenças mentais.
         O maior exemplo disso é o poder da oração, ensinado por Jesus : “ quando orardes, não sejais como os hipócritas...que o fazem para serem vistos pelos outros...Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai , que vê no escondido, te dará a recompensa. Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras”. ( Mt 6,5-8).
         Essa constatação também está presente nas culturas e religiões orientais, onde prepondera a linguagem não verbal nos rituais e momentos de reflexão. Os shadus, místicos indianos, abstêm-se de falar; para eles, calar-se é indispensável para o desenvolvimento da espiritualidade.
         O silêncio e o não uso da verbalização recebem várias interpretações: por renuncia e escolha pessoal (monges, místicos e religiosos confinados), falar não significa se comunicar (ostentação, megalomania, tagarelice) ou necessidade de manter-se calado para proteger-se ou não provocar desconforto no outro ( mecanismo de personalidade).
        O espaço urbano é considerado barulhento e conflituoso, como nas grandes cidades. O excesso de sons e ruídos com altos decibéis são prejudiciais à saúde. Nesses ambientes conturbados, com sons de toda ordem ativam o sistema neurovegetativo (simpático), que é interpretado pelo cérebro como um sinal de alarme, provocando a produção do hormônio do estresse, o cortisol. Esse estado de alerta, desencadeia:
         Aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, com aumento do risco de doenças cardiovasculares; diminuição das defesas imunológicas; alterações da função das glândulas endócrinas (tireoide, hipófise, adrenais); alterações do humor, irritabilidade, distúrbios do sono e dores de cabeça. 
        No mundo conturbado e ocidental, a ausência de sons é percebida como negativa, provocando desconforto. Quem não fala é julgado e taxado de antissocial, introvertido, tímido e inibido. O “desejo de não falar” desencadeia a ansiedade de interpretação. Já a quietude, o recolhimento interior, pode representar a “fuga das distrações e das preocupações que conturbam a alma que reza”.
       Mas há o lado sombrio e dramático do silêncio que extrapola todas as culturas, religiões e interpretações humanas: as manifestações doentias do silêncio, da depressão ou da esquizofrenia, do autismo, nas doenças degenerativas cerebrais, dos drogados  ou outras formas de afastar-se da realidade. Esses devem ser encarados como pessoas que precisam de ajuda e não praticarmos o mutismo seletivo e segregador. 
      Os efeitos positivos do silencio não estão somente na espiritualidade, mas no cotidiano da vida e da saúde física e mental: é parte das técnicas de relaxamento, da meditação, da introspecção psicológica; é indispensável nas interações com a natureza e as relações humanas; ativa o sistema neurovegetativo positivo (parassimpático) que comanda o sono, a calma e a quietude.
           Aproveitar os momentos de silêncio, do calar consciente ou afastar-se do barulho, também tem o seu lado terapêutico e não devemos exigir sempre de nós ou dos outros que tenham a resposta imediata ou sempre uma a atitude barulhenta diante da vida. (Fonte: Revista Mente & Cérebro, 53). JARBAS ATAÍDE, 21.08.2017.




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