SETAP ameaça
extinguir a Tarifa Social em Macapá.
O usuário macapaense aguarda até duas horas pelo seu
transporte e paga um preço salgado. Ele tira de seu bolso R$ 330,00 reais/mês,
1/3 do salário mínimo por pessoas. Em uma família que tem 4 membros usuários do
transporte público o resultado é catastrófico, R$ 1.320,00 precisaria ganhar
dois salários mínimos para poder se locomover para ir e vir do trabalho e
escola. E cortando lazer, pois a Taxa Social caiu e precisando de “carona” para
o hospital. Quem perde é o contribuinte, a prefeitura e o SETAP nada.
Reinaldo Coelho
Macapá pode amanhecer, neste domingo, sem a tarifa social do transporte
coletivo, uma decisão unilateral das empresas de transporte coletivo que operam
em Macapá, através do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do
Amapá (SETAP). Em revelia a Companhia de Trânsito de Macapá (CTMac) declara que
a suspensão de cobrança da tarifa social é ilegal. A companhia afirmou que vai
fiscalizar o serviço neste domingo.
Décio Melo, presidente do Setap |
A tarifa criada em 2008 que corresponde à metade de uma tarifa normal nos
ônibus, hoje em R$ 2,75, deve ser cobrada R$ 1, 40 por arredondamento, aos
domingos e feriados.
O SETAP pediu que o valor devido de Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza (ISSQN) à PMM fosse compensado por meio da tarifa social o que segundo
o presidente da CTMac, André Lima, não seria possível.
“A tarifa social, criada pelo prefeito anterior, dizia que era pura e
simplesmente tarifa social, não indicava fonte de custeio. Quando foi feita a
indicação sob custeio foi feita por decreto, não por lei, ou seja, uma medida
errada” explicou André Lima.
Ele garantiu que haverá fiscalização e caso as empresas desrespeitem a
lei receberão notificação e serão multadas. Lima garantiu que a equipe de
fiscalização estará aos domingos nas ruas realizando blitz.
O presidente pediu que os usuários denunciem caso as empresas não cumpram
a lei. Segundo o presidente, o SETAP pode tentar por meio da Justiça a
revogação da lei.
Tarifa Social
A Tarifa Social foi criada em 2008 através de lei, porém sem indicativo
de sua fonte compensatória. Perdurou essa situação nas gestões do então
prefeito João Henrique (PSB/PT), permanecendo nos governos de Roberto Góes
(PDT) e Clécio Luís (PSol e Rede) que seria custeado pelo ISSQN, mas nunca
houve regulamentação. Por decisão política, a diferença relativa ao benefício
seria compensada nos débitos referentes aos impostos devidos pelas empresas,
especialmente o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN).
Agora o SETAP questiona
sua validade e que a taxa social deveria ter uma legislação própria, que foi
elaborada, aprovada, mas nunca sancionada. Esse reconhecimento da ilegalidade
do decreto só aconteceu, porque houve uma decisão da secretaria de Fazenda do
município de Macapá, com base nos pareceres fiscais de números 007, 008, 009,
010 de 2017, da Coordenadoria de Arrecadação e Fiscalização, de não reconhecer
a compensação da tarifa social com débitos de ISSQN, ao mesmo tempo em que não
informou como será compensada ou paga a diferença relativa ao benefício.
Enquanto era favorável as empresas o decreto era bom, mudou é ilegal.
Mas essa decisão pode ter
outras motivações, o aumento da tarifa que encontra-se justicializada. Essa majoração
foi aprovada, em abril, por maioria no Conselho Municipal de Transportes (com
votos favoráveis da Procuradoria da Prefeitura de Macapá, Câmara de Vereadores,
CTMac e Movimento Estudantil), tendo sido encaminhado para a discussão na
Câmara de Vereadores de Macapá e de acordo com o SETAP, em Nota de
Esclarecimento publicado em suas redes sociais, onde esclarecem sobre a omissão
dos vereadores macapaense sobre o aumento. “A Câmara Municipal se omitiu em não se manifestar sobre decisão tomada
ainda em abril pelo Conselho Municipal de Transportes e permitir que mais uma
vez a decisão sobre a tarifa fosse definida nos tribunais. Essa letargia dos
vereadores se confunde com prevaricação”.
Ao perceber essa
“manobra” o SETAP teria pedido a tutela antecipada a Justiça amapaense em julho
o que foi atendido pelo juiz Mário Mazurek, da 2ª Vara Cível e de Fazenda
Pública de Macapá, que concedeu antecipação de tutela ao SETAP e determinou o aumento
da tarifa de ônibus de Macapá de R$ 2,75 para R$ 3,25.
Porém menos de 15 dias
após a decisão judicial em primeira instancia de reajustar em R$ 0,50 a tarifa
dos coletivos foi revogado pelo TJAP após ação da prefeitura da capital.
O presidente do SETAP,
Décio Melo, disse que a queda na arrecadação pode impactar diretamente no
serviço oferecido à população. Ele informou não descartar a redução de até 50%
na frota para reduzir custos, além da suspensão de reajuste salarial dos
rodoviários.
"A ordem tem que ser
cumprida, mas o sistema ninguém sabe o que vai acontecer. Vamos ter que baixar
salários de funcionários, pode acontecer redução de frota. Como vamos manter?
Se já estamos desde janeiro no prejuízo", adiantou o presidente do
sindicato das empresas.
Aliado a isso, houve as
manifestações individuais de vereadores que tinham o único objetivo de se
promover às custas do tema, sem nenhum conhecimento sobre o sistema nem
intenção de melhorá-lo.
Ameaças do SETAP
Além da suspensão da
tarifa social, suspeição do decreto executivo, o sindicato patronal ameaça na
mesma Nota de Esclarecimento que: “Caso
essa decisão prospere, as empresas não terão outra solução senão rever o
reajuste dado aos trabalhadores rodoviários (concedido a partir da decisão da
tarifa) e nos investimentos na renovação da frota, assumidos junto à população.
A carga tributária, os constantes reajustes de combustíveis e de outros insumos
e a necessidade de reajuste anual aos trabalhadores que atuam no sistema
precisam ser equilibrados com uma política de reajuste tarifário que ao menos
garanta anualmente a reposição das perdas da inflação”.
Ou seja, aponta para que
os Sindicato dos Rodoviários acionem a greve da categoria, para manter os
salários de seus sindicalizados.
Posicionamento municipal
Na argumentação do pedido
para retorno do valor, a Procuradoria-Geral do Município (PROGEM) defendeu uma
discussão ampla em relação ao custo da tarifa, que beneficie tanto as empresas,
que devem cumprir obrigações com renovação da frota, quanto aos passageiros.
"Queremos a partir
dessa decisão sentar com as empresas e fazer essa atuação conjunta para que
possamos chegar num valor condizente com o serviço prestado. Também não podemos
quebrar as empresas para poder prestar um serviço à população", declarou
Evandro Milhomem, titular da Secretaria Municipal de Assuntos Extraordinários.
Transporte público e o alto preço das passagens – prejuízo
somente para o usuário
Reinaldo Coelho
Praticamente todos os
grandes municípios vivem sérios problemas de transporte público. A cidade de
Macapá, em especial, tem vivenciado sérios problemas. No ano de 2015 a passagem
dos ônibus atingiu o valor de R$ 2,25, por decisão judicial. Estudantes,
principalmente, tem se mobilizado em passeatas e manifestações contra o alto
preço cobrado. Apesar das claras disparidades entre o valor cobrado, o número
de usuários e a qualidade do serviço, as manifestações não apontam uma solução
para o problema.
As estimativas de 2016 do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a população
de Macapá é de 465.495 habitantes, sendo o 51° município mais populoso do
Brasil e o quinto da Região Norte.
Além de capital é uma
cidade-estado, pois concentra 70% da população e tem 35 linhas de circulação de
ônibus divididas em cinco empresas responsáveis por 175 ônibus. Os dados são do
Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Amapá (SETAP). Mais de
1,2 mil trabalhadores, entre motoristas, cobradores e despachantes atuam no
transporte público de Macapá. Pouco mais de 100 mil passageiros dependem do
transporte, ou seja ¼ da população utiliza o transporte público, os outros ¾
não usam por falta de mais ônibus e de mais linhas, pois a população cresceu,
mas as empresas não ampliaram sua frota, fizeram as substituições dos velhos e
a prefeitura de linhas.
Se a idade média geral
dos veículos no Brasil é de 8 anos e 8 meses, a idade da frota de ônibus em
Macapá, tanto rodoviários como urbanos, é de 9 anos e 2 meses, em média.
Se os 469 mil habitantes
de Macapá resolvessem se locomover de ônibus pela cidade, cada veículo teria
que ter a capacidade de acomodar cerca de dois mil passageiros. A frota atual,
de 175 veículos, é insuficiente para atender à população. Carros superlotados,
com passageiros ocupando todos os espaços possíveis são vistos com frequência
nos horários de pico e indicam o déficit histórico.
Os dados não são
deficitários apenas em uma relação de possível adesão de todos os moradores ao
transporte coletivo, mas a média atual também demonstra o que milhares de
passageiros vivem no dia a dia. Segundo o SETAP, 100 mil pessoas, passam por
dia pelas catracas dos ônibus locais. A média, considerada a frota atual, é de 60
passageiros para cada veículo, o que ainda demonstra um déficit acima do comum.
É certo que ao analisar o
problema do transporte público pode-se perceber que a culpa é da gestão pública
dos transportes. Entretanto, os governantes não erram apenas por tabelar o alto
preço, em conluio com as empresas de transporte. Há diversas outras falhas no
sistema de transportes públicos.
Primeiramente, a rede de
ônibus é gerida pela CTMac. De acordo com o site institucional do governo
municipal, "as atividades operacionais são terceirizadas e executadas por
empresas que foram contratadas por licitações públicas". O que nunca
aconteceu em Macapá. Existe um compromisso para que isso aconteça de acordo com
uma audiência na Justiça em 2014, que garantiu à prefeitura o direito à
promoção de novas licitações para contratação de empresas de ônibus para Macapá.
Mas, até agora nada foi feito, com transparência.
Se não há concorrência
enquanto se presta o serviço, é óbvio que a empresa vencedora não terá
estímulos para a melhoria de sua frota. Porém, devido ao fato de dividirem a
cidade em diversas regiões, e em cada uma dela haver mais de um empresa
atuando, a prefeitura não considera que exista um monopólio. Mas, ao
analisarmos de perto, podemos perceber que não há concorrência entre empresas
pois a origem e o destino é sempre diferenciado, mesmo que percorram uma mesma
parte do percurso.
A partir da crítica às
licitações, dissemos que não há incentivo para a melhoria de um serviço se não
há concorrência deste serviço. É estranho que as empresas peçam o reembolso da
Taxa Social.
É estranho pois estão
transportando 100 mil passageiros em média por dia, as empresas ainda precisem
de auxílios para suas frotas. Com a passagem a R$ 2,75, as empresas faturam
juntas algo em torno de R$ 2,750 milhões por dia e R$ 66 milhões/mês (apenas
contando os 6 dias úteis). É claro que apresentando estas cifras pode-se pensar
que as manifestações estão certas em protestar contra um preço exorbitante.
E Macapá apresenta além do déficit de ônibus, a
péssima qualidade dos veículos, a falta de treinamento de relacionamentos dos
funcionários, as ruas e avenidas de Macapá em péssimas condições de
trafegabilidade, a falta de locais de parada de ônibus, devidamente
padronizadas, com segurança e iluminação pública desses locais onde o usuário
aguarda até duas horas pelo seu transporte e paga um preço salgado que tira de
seu bolso R$ 330,00 reais/mês, 1/3 do salário mínimo por pessoas. Em uma
família que tem 4 membros usuários do transporte público o resultado é
catastrófico, R$ 1.320,00 precisaria ganhar dois salários mínimos para poder se
locomover para ir vir do trabalho, escola, cortando lazer, pois a Taxa Social
caiu e precisando de “carona” para o hospital. Quem perde é o contribuinte.
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