Produção e resíduos
de alimentos
Artigo de Roberto Naime
Cada vez mais, se
utilizam recursos naturais devido ao crescimento das populações, pelas
alterações do estilo de vida e devido ao crescente consumo pessoal. Para se
contrapor ao consumo insustentável, a comunidade europeia propõe atuar sobre o
sistema de recursos de forma integral, incluindo os métodos de produção, os
padrões de procura e as cadeias de distribuição.
O sistema alimentar
inclui todos os materiais, processos e infraestruturas relacionados com a
agricultura, comércio, venda por atacado e varejo, transporte e consumo de
produtos alimentares. Tal como a água e a energia, a alimentação é uma
necessidade humana básica. Há também uma forte ligação entre a saúde e o
bem-estar, com os alimentos. Tanto a subnutrição como a obesidade são problemas
de saúde diretamente relacionados com a forma como os produz, comercializa e
ocorre o consumo.
O consumo de
alimentos pelos europeus mudou consideravelmente ao longo do tempo. Atualmente
se consome mais do que o dobro da carne por pessoa que se ingeria há cerca de
50 anos. Em contrapartida, desde 1995 que o consumo de carne de bovino por
pessoa diminuiu 10 %. Ao mesmo tempo, os europeus comem mais carne de aves,
pescados e mariscos, frutas e produtos hortifrutigranjeiros.
A União Europeia é
um dos maiores produtores mundiais de alimentos. Utiliza sistemas de produção
agrícola modernos, e possui terras vocacionadas para a agricultura. A
produtividade aumentou muito, particularmente na segunda metade do século
passado. Em virtude da sua diversidade climática e de terras agrícolas, a
Europa produz uma grande variedade de produtos, mas também depende das
importações para complementar e suprir as suas necessidades de alimentos.
A produtividade agrícola,
em termos de rendimento das culturas, aumentou devido à crescente prática da
monocultura isto é, a produção da mesma cultura em superfícies mais extensas. E
pela presença de irrigação, com o incremento da mecanização e pelos maiores
recursos de produção, como o uso de substâncias químicas e agrotóxicos.
Esta forma de
intensificação exerce pressões crescentes sobre o ambiente, pela perda de
agrobiodiversidade e pelas elevadas emissões de CO2, além de maior contaminação
do solo, dos rios e dos lagos. Mas quanto mais se investe em energia para
produzir alimentos, menos calorias são produzidas. Este é um paradoxo
fundamental.
É evidente que a
Comunidade Europeia necessita de reduzir os impactes ambientais da produção
agrícola. E também necessita produzir quantidades equiparáveis de alimentos
para satisfazer as demandas locais e globais.
A União Europeia é
um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. A questão que
se coloca é como poderá a Europa continuar a produzir alimentos de alta qualidade,
e em quantidades suficientes e a preços acessíveis, reduzindo também os
impactes ambientais gerados por este modelo agrícola.
É necessária a
adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis. Métodos agroecológicos permitem
intensificar a agricultura sem recorrer a substâncias químicas sintéticas,
graças à utilização de produtos naturais e à promoção de processos ecológicos
na sua produção. As técnicas agrícolas de precisão também facultam os meios
necessários para redução da utilização de químicos.
Os usos e ocupação
dos solos e a biodiversidade do local, são mais preservados, harmonizados e
sinergicamente potencializados desta forma. Em muitas regiões a agricultura e a
pecuária ainda são as principais fontes de geração de renda pelas comunidades locais.
Quaisquer medidas destinadas a melhorar o sistema de produção devem ter estas
dimensões sociais em consideração.
Ocorre estimar que
cerca de um terço dos alimentos produzidos na Europa não seja consumido,
havendo desperdício em todas as etapas da cadeia. A Comissão Europeia avalia
que apenas este cenário seja responsável pelo desperdício de 90 milhões de
toneladas de alimentos, o que equivale a cerca de 180 kg por pessoa.
Grande parte dos
quais ainda em bom estado para o consumo humano. O desperdício de alimentos é
identificado como um dos domínios a serem abordados no “Roteiro para uma Europa
Eficiente na Utilização de Recursos”.
Para reduzir os
desperdícios, uma das formas consiste em tentar preparar apenas a quantidade
certa de alimentos para determinada refeição considerada. Outro método é usar a
criatividade na utilização dos restos que sobram do dia anterior. Ainda assim,
por mais que ocorra esforço, é inevitável que alguns alimentos acabem se
transformando em resíduos sólidos de natureza orgânica. Os resíduos alimentares
produzidos pelas famílias são uma mera fração da quantidade total de alimentos
que se desperdiça.
Nos processos de
produção, colheita, armazenamento, transporte e distribuição, também ocorrem
muitas perdas relevantes. Não existem estimativas em nível de União Europeia
sobre a quantidade de alimentos desperdiçados nas diversas etapas. Contudo,
estão disponíveis algumas análises sobre países específicos.
A partir de um
estudo da Agência de Proteção Ambiental sueca, realizado em 2012, ocorre
indicação de que cada indivíduo desperdiça aproximadamente 127 kg de alimento
por pessoa. Esta estimativa não inclui alimentos desperdiçados na fase de
produção, tanto na agricultura como na produção de proteínas. Nem os resíduos
de alimentos gerados por industrialização.
Datas dos “prazos
de validade” apostas nos produtos alimentares não significam necessariamente
que o produto fique impróprio para consumo, mas sim que a sua qualidade diminua
a partir desse momento. Alguns produtos podem ser consumidos com segurança após
a data indicada, mas não podem ser comercializados. A satisfação das
expectativas dos consumidores também pode originar desperdício de alimentos na
fase da venda a varejo.
O destino dos
alimentos que não são vendidos depende das práticas de gestão dos resíduos.
Podem ser utilizados como alimentos para animais, na compostagem ou na produção
de energia, ou serem destinados para aterros sanitários. Sempre que se
desperdiçam alimentos, ocorre desperdiçar também todos os fatores de produção.
Assim, qualquer redução do desperdício de alimentos implica potenciais ganhos
para o meio ambiente.
Para inserir esta
questão no contexto mais geral da economia verde, o aumento da eficiência de
recursos num sistema ajuda a reduzir a utilização de recursos noutros sistemas.
Este é um cenário em que todos ganham. E onde ocorrem significativas melhorias
ambientais e na qualidade de vida das populações.
Referência:
http://www.eea.europa.eu/pt/sinais-da-aea/sinais-2014/artigos/da-producao-aos-residuos-o
Dr. Roberto Naime,
Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do
corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade
Feevale
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