Para executarem o programa de saúde bucal, realizando extrações e
ensinando os alunos a escovar os dentes, passaram 90 dias de viagens pelo
oceano, pelos rios e pelos difíceis caminhos do Lourenço, Cunani e
conhecendo os municípios de Oiapoque, Amapá e Mazagão,
sempre perseguido pelas muriçocas e pela malária que não perdoavam ninguém.
Dr. Sylla de Oliveira Salgado – Odontólogo - “in memoriam”
Reinaldo Coelho
Esta semana a editoria foi buscar a história de desbravamentos de jovens
médicos, que aqui chegaram para começar a estruturação e implantação do sistema
médico no recém criado Território Federal do Amapá e atendendo aos planos de
atendimento a Saúde do governo de Janary Nunes e entre estes tivemos os
odontólogos Armando Andrade, Luiz
Queiroz Brasiliense e nosso homenageado da semana Sylla de Oliveira
Salgado.
O nascimento do Sylla de Oliveira Salgado ocorreu no início
da Grande Guerra quando as populações do norte viviam
sobressaltadas com as notícias de torpedeamento de navios brasileiros e a
escassez de alimentos.Nascido em Belém, estado do Pará, no dia 9 de julho de
1914, filho do dentista Carmelino Henrique Salgado, formado pela Faculdade de
Odontologia do Rio de Janeiro e professor da Faculdade de Odontologia do Pará e
da jovem Hortênsia de Oliveira Salgado, de naturalidade portuguesa.
O professor conseguiu dominar todo os empecilhos,
vencer as dificuldades e educar os filhos: Mário (médico), Lúcia,
Sara, Sylla e Ruth. O pai queria que o Sylla fosse
médico, mas, depois de cursar a Faculdade de Medicina por 3
anos, transferiu-se para a Faculdade de Odontologia, seguindo os
passos do pai e amigo professor.
Ao
ser diplomado em 1932 passou a prestar serviços
de dentista nos postos de Saúde de Belém e Mosqueiro.
No ano de 1933 aceitou convite e foi trabalhar no Estado do Acre onde
conheceu a jovem acreana Maria Magalhães Costa com quem se
casou no dia 7 de maio de 1936. Exerceu a profissão de dentista cumprindo um
programa de saúde bucal nos bairros e periferia da Capital. Com o nascimento da
primeira filha Lúcia, decidiu retornar para Belém,
voltando a prestar serviços nos Postos de Belém, Capanema,
Mosqueiro e localidades vizinhas.
O seu espírito aventureiro e o interesse de
trabalhar no interior fez com que aceitasse a proposta do Governador do
recém-criado Território Federal do Amapá, para exercer o cargo de
dentista da Divisão de Saúde, chegando à Macapá em
1948. Depois de montar sua casa, começou a grande odisseia do jovem Sylla,
quando foi designado para percorrer todas as localidades do Território em
companhia dos dentistas Armando Andrade e Luiz Queiroz
Brasiliense para executarem o programa de saúde bucal, realizando
extrações e ensinando os alunos a escovar os dentes.
Foram 90
dias de viagens pelo oceano, pelos rios e pelos difíceis caminhos do Lourenço,
Cunani e conhecendo os municípios de Oiapoque, Amapá e Mazagão,
sempre perseguido pelas muriçocas e pela malária que não poupavam ninguém. O
trabalho foi feito, ninguém podia falhar ou esmorecer. Aquela
equipe representava a saga dos pioneiros e dos homens fortes. Sylla foi
para Oiapoque em 1950, passou três meses em companhia do
médico Dr. Amílcar Pereira.
Em 1952 foi
nomeado chefe do Posto de Saúde de Mazagão e foi nesse
município que deixou as marcas indeléveis do seu trabalho, da sua dedicação
durante mais de dez anos. Foi Dr.Sylla que desenvolveu a comunidade; que criou
o Mazagão Atlético Clube e foi seu presidente. Nomeado chefe
do Setor da LBA de Mazagão; juiz de futebol; juiz de
paz; programador de todos os eventos, formando em torno de si uma plêiade de
amigos, destacando-se o Deputado Coaracy Nunes e o promotor
público Hildemar Maia, grandes líderes políticos. Fez centenas de
amigos em Mazagão e em Macapá.
O Hospital
Geral de Macapá era como se fosse sua casa. Estava sempre no gabinete.
Os filhos de Sylla de Oliveira Salgado: Lucia, Sylla,
Mairsylla, Sylamar, Belmar, Mary, Mario, Symar, Janary, Camilo, Belchior,
Augusto e Hortênsia assistiram a todas as lutas. Ouviram-no esbravejar
com sua voz possante, os ralhos e afagos do homem que lagrimava com os abraços
apertados da esposa que amava e que nunca fraquejou.
Este é o
retrato de um dos homens mais sérios que conheci, tais como: o Cleveland
Cavalcante, o Pires da Costa, o Brasiliense e
o Guilherme "Querido", jogávamos a nossa canastra
nas noites do bairro Alto. Foi
um grande homem e é uma das personalidades que, de forma inequívoca,
engrandeceram o estado do Amapá.
Fonte:
Texto de Coaracy Barbosa - extraído do Livro
Personagens Ilustres do Amapá Vol. III -
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