domingo, 8 de outubro de 2017

Entrevista com Joel Lima da Silva


Entrevista com Joel Lima da Silva
Supervisor de Disseminação de Informações do IBGE

Reinaldo Coelho

Nas últimas décadas, a questão migratória no Brasil deixou de concentrar-se apenas no clássico movimento rural-urbano que, nos anos 50 e 60, preocupou e mobilizou a maior parte dos estudos. As migrações inter-regional, intra-regional, internacional e a mobilidade pendular (commuting) e a sazonal são cada vez mais reconhecidas como faces distintas desse fenômeno demográfico que aflora e ganha importância qualitativa e quantitativa em função das modificações ocorridas nas dimensões econômica, social e política em nível nacional e internacional.
O Tribuna Amapaense produziu uma reportagem sobre o assunto com referência ao retorno e a opção de moradias nos municípios interioranos do Estado do Amapá, o que tem se verificada uma melhoria na qualidade de vida dessas comunidades e o amapaense tem optado em passar a residir em pequenas cidades, evitando os diversos transtornos causados pelos grandes centros urbanos, como: trânsito, violência e o mais importante a qualidade de vida, proporcionado pelo contato maior com a exuberante natureza local.
No caso da migração pode-se dizer que muitos desses fenômenos dificilmente poderiam ser estudados a partir das informações recolhidas nos Censos ou na Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares – PNAD. Tal é o caso, por exemplo, das migrações sazonais, uma vez que os levantamentos têm o cuidado de acontecerem justamente em momentos em que esse tipo de movimentação é menos significativo. O mesmo ocorre com certas facetas dos movimentos migratórios que aparentemente não poderiam ser estudadas com as informações tradicionalmente disponíveis – como seriam os casos das "redes", as trajetórias migratórias, as estratégias familiares para migração, etc.
Para a confirmação dessa realidade no Amapá, a reportagem conversou com Joel Lima da Silva, supervisor de disseminação de informações do IBGE/AP, que possui graduação em Licenciatura Plena e Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal do Amapá (2001). Atualmente é Técnico em Informações Geográficas e Estatísticas da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Humana, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento regional, educação ambiental e desenvolvimento sustentável. Acompanhe a pequena entrevista:

Tribuna Amapaense – O fluxo migratório entre regiões diminuiu no Brasil?
Joel Lima da Silva – No Brasil é possível identificar que a partir da década de 1980 os deslocamentos de população iniciam uma fase de mudanças no sentido das correntes principais, com antigos espaços de atração migratória perdendo expressão. Rompe-se o processo bipolar da distribuição espacial no Brasil, que se mantinha desde o início do Século XX. De modo que surgem novos eixos de deslocamentos envolvendo expressivos contingentes populacionais, onde se destacam: - A inversão nas correntes principais nos Estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro; - A redução da atratividade migratória exercida pelo Estado de São Paulo; - O aumento da retenção de população na Região Nordeste; - Os novos eixos de deslocamentos populacionais em direção às cidades médias no interior do País; - O aumento da importância dos deslocamentos pendulares; - O esgotamento da expansão da fronteira agrícola; e, - A migração de retorno para o Paraná.

TA – A migração interna de grandes centros urbanos para as cidades de médio e pequeno porte, tem crescido?
Joel Lima da Silva – O redirecionamento dos fluxos migratórios para as cidades médias tem, notadamente, a presença do Estado (des)regulando o mercado de trabalho em favor do capital. Além disso a estratégia do capital para a locação das atividades econômicas recebeu vários tipos de incentivos públicos, tais como renúncia fiscal, investimentos em infraestrutura industrial e de serviços, formação profissional, sistemas de informação, dentre outros.

TA – No Amapá tem se acentuado a troca das cidades com maior concentração populacional para Porto Grande, Pedra Branca do Amapari, Laranjal do Jari. O que caracteriza essa procura?
Joel Lima da Silva – As pessoas procuram os lugares onde há a possibilidade de conseguir emprego. Portanto, o atrativo desses locais são os empreendimentos que se estabelecem: mineração, construção de hidrelétricas, etc.

TA – Os poderes estaduais e o governo federal têm descentralizado a administração pública e econômica, investindo nos municípios e instalando sede de entidades institucionais, isso vem ajudando o crescimento de procura de emprego nesses locais?
Joel Lima da Silva – Não.

TA – Muitos aposentados têm fugido de Macapá e Santana devido à falta de segurança, agitação da cidade e melhoria de qualidade de vida, e os locais pontuados são os que atendem esse anseio?
Joel Lima da Silva – Esse número chega a ser ínfimo para ter impacto no volume populacional e na economia local.

TA – Os municípios do interior do Amapá tem crescido a população e muitos tem retornado devido existir, principalmente no segmento educação escolas de Ensino Médio e Superior, é uma vantagem para atrair e manter seus habitantes?
Joel Lima da Silva – A descentralização desses serviços pode servir como fator para os moradores ficarem nos seus municípios. Não necessitando vir à Macapá. Mas é limitado. Não tem como instalar polos universitários em todos os municípios.

TA – Mas em compensação os êxodos rurais nesses municípios continuam, muitos deixam o campo e procuram as sedes dos municípios atrás de mais renda e garantia de estudos pros filhos. Isso aumenta a população carente e traz mais problemas a esses locais?
Joel Lima da Silva – Não necessariamente.

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