MÉDICO: O CARISMA COMO INTERMEDIADOR ENTRE VOCAÇÃO
E PROFISSÃO.
Temas éticos e espiritualizados,
relacionados à Medicina, sempre foram motivo de meus escritos ao longo de mais
de 30 anos. A que marcou minha
trajetória foi a poesia declamada no Teatro da Paz, em Belém, em 07.12.1985, em
minha graduação em Medicina: “Cristãos
vestidos de branco”. Nela ficou apenas implícito o meu carisma. Mas foi com “Medicina:
Profissão, Vocação e Carisma”, de 1980, ainda na fase acadêmica, que externei minha visão sobre o assunto.
Passados
todos esses anos, mesmo com os avanços da tecnologia e das várias
qualificações, permanece a semente em meu íntimo a instigar, questionar e influenciar
minha formação.
O
termo carisma vem do grego khalisma (=
“graça”, “favor”) e do latim charisma(=“dom
da natureza”); “graça divina”. Na atualidade é atribuição “comum entre
políticos, artistas e pessoas com lideranças na tentativa de encantar e persuadir o povo de maneira
sutil”. Mas esse conceito cai mais como persuasão e não como carisma.
A
ideia de carisma abrange 2000 anos, iniciando com São Paulo, o apóstolo dos
gentios, quando tratou dos “dons do Espírito” em suas cartas apostólicas aos gregos
de Corinto ( 1 Cor 12,4-11). Na visão de S. Paulo não existe carisma de liderança.
Deveriam ser destinados a servir a unidade da comunidade, sem necessidade de um
líder imposto. Em função disso a Igreja suprimiu essa ideia libertária e
autônoma no século IV.
Foi
somente no século 20 que o sociólogo alemão Max Weber pegou as ideias de S.
Paulo e deu um cunho de liderança e autoridade, definindo 3 tipos: a
racional-legal, a tradicional e a carismática. Definiu-a como “certa qualidade
da personalidade de um indivíduo em virtude da qual ele é considerado
extraordinário e tratado como dotado de poderes ou qualidades sobrenaturais,
super-humanos ou, ao menos, especificamente
excepcionais”.
Na
visão cristã o carisma é considerado um dom ofertado por Deus, conforme S. Paulo. Não é uma simples habilidade ou
atributo natural humano, manifestado a todos os homens, como habilidade manual,
intelectual, verbal. A essa habilidade chamamos de vocação, que pode ser despertada, aprendida e aprimorada com
conhecimentos especifico.
Muitos
médicos são excelentes técnicos vocacionados para seu aprendizado: são corretos
no diagnóstico, na prescrição, na internação, na avaliação e até na prevenção,
dominando as questões técnico-profissionais. Mas diante de uma questão humana
mais profunda, que exija a interpretação e atitude subjetiva, reagem de maneira
insensível e sem dar uma resposta adequada, sem dar uma dimensão maior à
profissão, pois lhes falta a inspiração carismática.
O
terceiro aspecto a ser considerado é a condição de profissão, quando o médico
vocacionado utiliza seu aprendizado como meio de sustento e ganho econômico,
devendo receber um salário capaz de suprir suas necessidades básicas. Porém,
não tira um minuto a mais ou um empenho extraordinário senão for favorecido ou
pago pelo serviço. Aqui não estou dizendo que o Médico deve fazer seu serviço como um “sacerdote”, pois todo
trabalho exige o justo salário.
Em
minha poesia o carisma assume uma posição de intermediador e conciliador entre
a vocação e o serviço, contrabalançando a técnica e trabalho profissional, dando uma dimensão maior à pratica da Medicina,
que deixa de ser puramente conhecimento técnico-cientifico e meio de troca
salarial, para ter uma intervenção e abordagem que suplanta a hegemonia materialista,
racional e comercial.
Assim,
podemos ter excelentes médicos com sucesso e prosperidade material,
qualificados tecnicamente e capacitados para o exercício da nobre e secular
profissão, com habilidades vocacionadas, mas pobres em carisma cristão, pois
executam seu labor unicamente visando ganho material, desprovidos de
sensibilidade, cultura humanitária e espiritualidade.
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