sábado, 21 de outubro de 2017

SAÚDE EM FOCO




MÉDICO:  O CARISMA COMO INTERMEDIADOR  ENTRE  VOCAÇÃO E PROFISSÃO.


          Temas éticos e espiritualizados, relacionados à Medicina, sempre foram motivo de meus escritos ao longo de mais de 30 anos.  A que marcou minha trajetória foi a poesia declamada no Teatro da Paz, em Belém, em 07.12.1985, em minha graduação em Medicina: “Cristãos vestidos de branco”. Nela ficou apenas implícito o meu carisma. Mas foi com “Medicina: Profissão, Vocação e Carisma”, de 1980, ainda na fase acadêmica, que  externei minha visão sobre o assunto.
Passados todos esses anos, mesmo com os avanços da tecnologia e das várias qualificações, permanece a semente em meu íntimo a instigar, questionar e influenciar minha formação.
O termo carisma vem do grego khalisma (= “graça”, “favor”) e do latim charisma(=“dom da natureza”); “graça divina”. Na atualidade é atribuição “comum entre políticos, artistas e pessoas com lideranças na tentativa  de encantar e persuadir o povo de maneira sutil”. Mas esse conceito cai mais como persuasão e não como carisma.
A ideia de carisma abrange 2000 anos, iniciando com São Paulo, o apóstolo dos gentios, quando tratou dos “dons do Espírito” em suas cartas apostólicas aos gregos de Corinto ( 1 Cor 12,4-11). Na visão de S. Paulo não existe carisma de liderança. Deveriam ser destinados a servir a unidade da comunidade, sem necessidade de um líder imposto. Em função disso a Igreja suprimiu essa ideia libertária e autônoma no século IV.
Foi somente no século 20 que o sociólogo alemão Max Weber pegou as ideias de S. Paulo e deu um cunho de liderança e autoridade, definindo 3 tipos: a racional-legal, a tradicional e a carismática. Definiu-a como “certa qualidade da personalidade de um indivíduo em virtude da qual ele é considerado extraordinário e tratado como dotado de poderes ou qualidades sobrenaturais, super-humanos ou, ao menos, especificamente  excepcionais”.
Na visão cristã o carisma é considerado um dom ofertado por Deus, conforme  S. Paulo. Não é uma simples habilidade ou atributo natural humano, manifestado a todos os homens, como habilidade manual, intelectual, verbal. A essa habilidade chamamos de vocação, que pode ser despertada, aprendida e aprimorada com conhecimentos especifico.
Muitos médicos são excelentes técnicos vocacionados para seu aprendizado: são corretos no diagnóstico, na prescrição, na internação, na avaliação e até na prevenção, dominando as questões técnico-profissionais. Mas diante de uma questão humana mais profunda, que exija a interpretação e atitude subjetiva, reagem de maneira insensível e sem dar uma resposta adequada, sem dar uma dimensão maior à profissão, pois lhes falta a inspiração carismática.
O terceiro aspecto a ser considerado é a condição de profissão, quando o médico vocacionado utiliza seu aprendizado como meio de sustento e ganho econômico, devendo receber um salário capaz de suprir suas necessidades básicas. Porém, não tira um minuto a mais ou um empenho extraordinário senão for favorecido ou pago pelo serviço. Aqui não estou dizendo que o Médico deve fazer  seu serviço como um “sacerdote”, pois todo trabalho exige o justo salário.
Em minha poesia o carisma assume uma posição de intermediador e conciliador entre a vocação e o serviço, contrabalançando a técnica e trabalho profissional,  dando uma dimensão maior à pratica da Medicina, que deixa de ser puramente conhecimento técnico-cientifico e meio de troca salarial, para ter uma intervenção e abordagem que suplanta a hegemonia materialista, racional e comercial.
Assim, podemos ter excelentes médicos com sucesso e prosperidade material, qualificados tecnicamente e capacitados para o exercício da nobre e secular profissão, com habilidades vocacionadas, mas pobres em carisma cristão, pois executam seu labor unicamente visando ganho material, desprovidos de sensibilidade, cultura humanitária e espiritualidade.     

  


  

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