A vida dos Anjos não lhes pertence.
Roberto Gato
Bem lá atrás, em 2011 pra eu ser
exato, numa certa manhã o Juracy da Silva Freitas, Jupaty, para os íntimos,
entrou num estabelecimento comercial de minha propriedade. Objetivo era mostrar
um artigo, cuja inspiração foi um pedinte, que coincidentemente no dia do
aniversário dele, Juracy, lhe pedira R$ 1,00. Míseros um real. Quantia
insignificante e quase sem nenhum valor mercadológico. Aliás, nenhum reparador
de carro quer receber como paga por não fazer nada, apenas olhar seu carro no
acostamento público, a tal quantia. Mas naquele dia, justo no dia do
aniversário dele, Juracy não tinha R$ 1,00.
Essa é a forma que encontrei para
dizer a vocês como nossas vidas se cruzaram. E hoje estou a ocupar esse espaço,
que de forma magnifica, Juracy ocupa semanalmente há seis anos. Socializando
com os leitores deste jornal suas reflexões. Mas nesta edição, Juracy,
diferente de 2011 está triste. O motivo não é ausência de dinheiro no bolso. Não!
Sua tristeza é mais e mais profunda. Irreparável. Deus chamou sua eterna
companheira, Maria Bastos Freitas para sua eterna morada. Essa figura leve,
simpática, altiva, inteligentíssima e educadíssima cumpriu sua missão nesse
plano terreno. Sua matéria feneceu, para libertar sua alma para habitar o Céu
ao lado do Pai Celestial. Sou Cristão, Católico, Apostólico, Romano. Creio que
é assim que se sucede a vida. Nascimento, vida e morte. A matéria, conforme nos
ensina o Livro dos Livros, foi feita do pó e para o pó volta, mas nossa alma é
imortal.
Juracy é homem de fleuma forte. Uma
saúde de ferro. Aos 78 anos bem vividos, sofreu seu mais duro golpe. Sentiu o
abalo nas suas estruturas. Percebia que jazia inerte em uma sala estranha sua
companheira de longos anos. A mulher da sua vida. A mulher que garantiu sua
perpetuação na terra, dando-lhes os filhos, Ulisses e Enimara. Disse-me: “a
conheci em 1958 na Escola Normal. Éramos colegas de turma. Dando aula de
matemática ao grupo de estudo da qual ela fazia parte, nos apaixonamos. Casamos
e dividimos momentos felizes e tristes. Sempre tranquila e serena ela foi me
moldando, me transformando num Ser mais sociável. Viajamos pelo mundo. E nossas
experiências foram as mais maravilhosas. Tivemos problemas e não foram poucos,
mas todos solucionados com sua extrema habilidade. A habilidade inerente às
damas, esposas convictas e com conceito profundo sobre a família, como célula
mater da sociedade.”
Juracy não deixou cair uma lágrima na
minha presença. Como sempre foi firme e forte. Porém tropicou nas palavras. Ao
relembrar a última frase da sua amada. A voz saiu embargada. “Não pensei que no
final da minha vida iria dar trabalho a vocês.” Depois desse lamento. Partiu.
Minha amiga Maria, os Anjos vão e
chegam assim. Quando menos esperamos. A vida dos Anjos não lhes pertence. É
Deus o orientador. A missão a ser cumprida é dada por ele. O início e o fim
estão desde logo traçados. Mas choramos. Pranteamos e saudosos silenciamos. Eu
aprendi a lhe respeitar rápido. Não precisamos de muitos anos para estabelecer
essa relação de respeito mútuo. Lógico que meu amigo, irmão faria milhões de
vezes melhor relato de quem foi e o que representou pra todo o Amapá Maria
Bastos Freitas, mas diante da impossibilidade momentânea não poderia me furtar
de lhe dizer que eu também estou sentindo sua falta. Aquela figura discreta,
esquálida e silenciosa e sempre tão presente a dizer: Doutor, como está sua
mãezinha?
Um beijo na sua alma que a essa
altura está orando no Plano etéreo.
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