O Cinema no
Brasil
POR: MARCO ANTÔNIO
Uma câmera na mão e
uma ideia na cabeça. Foi-se o tempo em que essa máxima de um dos gênios do
Cinema Novo, Glauber Rocha, teve algum sentido. Agora, com a facilidade do
Cinema digital, vários pseudoscineastas danaram a pegar a câmera, sem nenhuma
ideia na cabeça – nem deles e nem de ninguém da equipe – e a pegar recursos
federais para fazer “comídias”.
Glauber Rocha nasceu na cidade de
Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia e era o mais o dos 4 irmãos e único menino
da família. Começou a realizar filmagens. Seu filme Pátio, de 1959, ao mesmo
tempo em que ingressou na Faculdade de Direito da Bahia, hoje da Universidade
Federal da Bahia, entre 1959 a 1961), que logo abandonou para iniciar uma breve
carreira jornalística, em que o foco era sempre sua paixão pelo cinema. Sempre
controvertido, escreveu e pensou cinema. Queria uma arte engajada ao pensamento
e pregava uma nova estética, uma revisão crítica da realidade. Era visto pela
ditadura militar que se instalou no país, em 1964, como um elemento subversivo.
Antes de estrear na realização de uma longa metragem (Barravento, 1962),
Glauber Rocha realizou vários curtas-metragens, ao mesmo tempo que se dedicava
ao cineclubismo e fundava uma produtora cinematográfica. Deus e o Diabo na
Terra do Sol (1963), Terra em Transe (1967) e O Dragão da Maldade contra o
Santo Guerreiro (1969) são três filmes paradigmáticos, nos quais uma crítica
social feroz se alia a uma forma de filmar que pretendia cortar radicalmente
com o estilo importado dos Estados Unidos.
Essa pretensão era compartilhada
pelos outros cineastas do Cinema Novo, corrente artística nacional liderada
principalmente por Rocha e grandemente influenciada pelo movimento francês
Nouvelle Vague e pelo Neorrealismo italiano. Glauber foi um cineasta
controvertido e incompreendido no seu tempo, além de ter sido patrulhado tanto
pela direita como pela esquerda brasileira. Ele tinha uma visão apocalíptica de
um mundo em constante decadência e toda a sua obra denotava esse seu temor.
Para o poeta Ferreira Gullar, "Glauber se consumiu em seu próprio
fogo".
E hoje os tempos mudaram? Mudaram. O
cinema é digital, antes ótico. Esse fato tonou a produção cinematográfica bem
mais barata. Antes uma lata de película ou celuloide custava caro e uma vez
usada não tinha uma segunda chance. Isso encarecia e muito a obra. Hoje as
filmadoras têm a capacidade de registrar a filmagem com uma qualidade similar
ao cinema ótico. Poucos são os saudosistas que ainda mantem esse tipo de
produção. Bem mais cara. As filmadoras digitais também permitem revisar a
tomada e refazer a gravação no mesmo cartão ou HD, se necessário. E muitas
outras vantagens, aproveitadas por muitos iniciantes à sétima arte, ou ao
audiovisual, no geral. Um computador médio basta para editar um filme e inserir
uma gama de efeitos profissionais.
Mas acham que isso facilitou ao
realizador do Cinema Profissional? Não! Entretanto, antes de “decuparmos” esse
assunto, iremos nos ater aos, digamos, seguidores de Glauber. Lutando contra a
maré, há, em todo o Brasil, os realizadores que insistem em Fazer Cinema de
qualquer maneira. Entendo muito bem disso. São uns verdadeiros guerrilheiros da
sétima arte. Cinema de Guerrilha é uma expressão utilizada para designar filmes
de baixo ou nenhum orçamento, muito comum em países onde não há fomento
adequado da produção audiovisual. Utiliza táticas de guerrilha para produzir
filmes com toda a qualidade possível livrando-se dos mecanismos engessados da
burocracia e/ou dos vários níveis de hierarquias e formalismos do cinema
convencional. Apesar de envolver a palavra "guerrilha", não está
necessariamente envolvido com militâncias políticas e movimentações sociais
específicas.
Daniel Mattos, de 35, fez concurso
para o cargo de especialista em regulação da atividade cinematográfica.
Atualmente é membro do comitê de investimento do Fundo Setorial do Audiovisual
- justamente o instrumento criado para ajudar realizadores que vivem recebendo
"não" das empresas financiadoras. "A empresa que investe não é
da área de cinema, quer lucro. É uma "lógica jabuticaba", só existe
no Brasil. As estratégias das empresas levam em conta o potencial do mercado de
consumo, a renda, a estrutura de custos em que o câmbio tem sido a variável
mais volátil. O cara que não conhece nada, mas dá dinheiro para um nome famoso.
A barreira de entrada é muito cruel, a grande maioria dos novos cineastas fica
marginalizada", afirma Daniel. A frustração o levou ao concurso para
Ancine. Entrou "por militância", mesmo sabendo que o novo trabalho
dificultaria um futuro filme. Nas horas livres, escreveu, junto com outros
guerrilheiros, o roteiro de Dia de Preto, que agora finalizaram. Como? Filmando
de sexta a domingo, quando deveriam estar em casa com os filhos (são sete,
somando as famílias), desembolsando gradualmente R$ 270 mil das economias,
contraindo dívidas. E negociando uma permuta para alimentar a equipe,
caprichando num "rascunho", feito com câmeras amadoras, para que na
hora do "ação!" tudo estivesse amarrado. E fechando acordo com um
shopping para locação, e com uma produtora de filmes publicitários, que cedeu
câmera (digital), luz e maquinaria, e se tornou sócia. A trilha seguiu na mesma
linha. Os atores trabalharam de graça.
Enquanto isso, produtoras de renome
internacional continuam captando financiamento de editais (De quase todos eles)
e cobrando ingresso como se fora uma produção independente. O que os
realizadores profissionais mais esperam é que as operações cheguem aos cinemas
e que se possa descobrir “Se realmente há luz no projetor!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário