sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Fique Informado

 O Cinema no Brasil


POR: MARCO ANTÔNIO
 Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Foi-se o tempo em que essa máxima de um dos gênios do Cinema Novo, Glauber Rocha, teve algum sentido. Agora, com a facilidade do Cinema digital, vários pseudoscineastas danaram a pegar a câmera, sem nenhuma ideia na cabeça – nem deles e nem de ninguém da equipe – e a pegar recursos federais para fazer “comídias”.
Glauber Rocha nasceu na cidade de Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia e era o mais o dos 4 irmãos e único menino da família. Começou a realizar filmagens. Seu filme Pátio, de 1959, ao mesmo tempo em que ingressou na Faculdade de Direito da Bahia, hoje da Universidade Federal da Bahia, entre 1959 a 1961), que logo abandonou para iniciar uma breve carreira jornalística, em que o foco era sempre sua paixão pelo cinema. Sempre controvertido, escreveu e pensou cinema. Queria uma arte engajada ao pensamento e pregava uma nova estética, uma revisão crítica da realidade. Era visto pela ditadura militar que se instalou no país, em 1964, como um elemento subversivo. Antes de estrear na realização de uma longa metragem (Barravento, 1962), Glauber Rocha realizou vários curtas-metragens, ao mesmo tempo que se dedicava ao cineclubismo e fundava uma produtora cinematográfica. Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963), Terra em Transe (1967) e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969) são três filmes paradigmáticos, nos quais uma crítica social feroz se alia a uma forma de filmar que pretendia cortar radicalmente com o estilo importado dos Estados Unidos.
Essa pretensão era compartilhada pelos outros cineastas do Cinema Novo, corrente artística nacional liderada principalmente por Rocha e grandemente influenciada pelo movimento francês Nouvelle Vague e pelo Neorrealismo italiano. Glauber foi um cineasta controvertido e incompreendido no seu tempo, além de ter sido patrulhado tanto pela direita como pela esquerda brasileira. Ele tinha uma visão apocalíptica de um mundo em constante decadência e toda a sua obra denotava esse seu temor. Para o poeta Ferreira Gullar, "Glauber se consumiu em seu próprio fogo".
  
E hoje os tempos mudaram? Mudaram. O cinema é digital, antes ótico. Esse fato tonou a produção cinematográfica bem mais barata. Antes uma lata de película ou celuloide custava caro e uma vez usada não tinha uma segunda chance. Isso encarecia e muito a obra. Hoje as filmadoras têm a capacidade de registrar a filmagem com uma qualidade similar ao cinema ótico. Poucos são os saudosistas que ainda mantem esse tipo de produção. Bem mais cara. As filmadoras digitais também permitem revisar a tomada e refazer a gravação no mesmo cartão ou HD, se necessário. E muitas outras vantagens, aproveitadas por muitos iniciantes à sétima arte, ou ao audiovisual, no geral. Um computador médio basta para editar um filme e inserir uma gama de efeitos profissionais.
Mas acham que isso facilitou ao realizador do Cinema Profissional? Não! Entretanto, antes de “decuparmos” esse assunto, iremos nos ater aos, digamos, seguidores de Glauber. Lutando contra a maré, há, em todo o Brasil, os realizadores que insistem em Fazer Cinema de qualquer maneira. Entendo muito bem disso. São uns verdadeiros guerrilheiros da sétima arte. Cinema de Guerrilha é uma expressão utilizada para designar filmes de baixo ou nenhum orçamento, muito comum em países onde não há fomento adequado da produção audiovisual. Utiliza táticas de guerrilha para produzir filmes com toda a qualidade possível livrando-se dos mecanismos engessados da burocracia e/ou dos vários níveis de hierarquias e formalismos do cinema convencional. Apesar de envolver a palavra "guerrilha", não está necessariamente envolvido com militâncias políticas e movimentações sociais específicas.

Daniel Mattos, de 35, fez concurso para o cargo de especialista em regulação da atividade cinematográfica. Atualmente é membro do comitê de investimento do Fundo Setorial do Audiovisual - justamente o instrumento criado para ajudar realizadores que vivem recebendo "não" das empresas financiadoras. "A empresa que investe não é da área de cinema, quer lucro. É uma "lógica jabuticaba", só existe no Brasil. As estratégias das empresas levam em conta o potencial do mercado de consumo, a renda, a estrutura de custos em que o câmbio tem sido a variável mais volátil. O cara que não conhece nada, mas dá dinheiro para um nome famoso. A barreira de entrada é muito cruel, a grande maioria dos novos cineastas fica marginalizada", afirma Daniel. A frustração o levou ao concurso para Ancine. Entrou "por militância", mesmo sabendo que o novo trabalho dificultaria um futuro filme. Nas horas livres, escreveu, junto com outros guerrilheiros, o roteiro de Dia de Preto, que agora finalizaram. Como? Filmando de sexta a domingo, quando deveriam estar em casa com os filhos (são sete, somando as famílias), desembolsando gradualmente R$ 270 mil das economias, contraindo dívidas. E negociando uma permuta para alimentar a equipe, caprichando num "rascunho", feito com câmeras amadoras, para que na hora do "ação!" tudo estivesse amarrado. E fechando acordo com um shopping para locação, e com uma produtora de filmes publicitários, que cedeu câmera (digital), luz e maquinaria, e se tornou sócia. A trilha seguiu na mesma linha. Os atores trabalharam de graça.

Enquanto isso, produtoras de renome internacional continuam captando financiamento de editais (De quase todos eles) e cobrando ingresso como se fora uma produção independente. O que os realizadores profissionais mais esperam é que as operações cheguem aos cinemas e que se possa descobrir “Se realmente há luz no projetor!”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...