DESAFIOS
E PERSPECTIVAS DOS JOVENS MÉDICOS E O FUTURO DA PROFISSÃO
O II Fórum Nacional de
Integração do Médico Jovem, ocorrido de 22 a 23.08.2017, em Belém-PA, mostrou
uma série de questões desafiadoras que questionam a escolha e atuação do jovem
médico em relação ao sistema de saúde. Esse encontro mostrou as percepções dos
egressos Médicos das Universidades em relação a vida profissional e sua visão
da atuação da Medicina. Ao tecer esses comentários, lembrei-me de minha
reflexão da época de acadêmico de Medicina (1985), que indagava: “Porque ser Médico?”
Na atual conjuntura vemos os
jovens médicos se depararem com a corrupção institucional das unidades em que
atuam, algumas vezes com o envolvimento direto (ativo), na busca de se
beneficiar financeiramente ou indiretamente (passivo), sendo usado por uma
engrenagem de falcatruas que o envolve, visando obter regalias e atuando em
tráfico de influencia para benefícios de outrem. Assim, seu ato deixa de ser de relação
médico-paciente para passar para o campo da criminalização e judicialização da Medicina.
Acompanhando esse processo
globalizado e mercadológico, o jovem médico se depara com a precarização das
relações de trabalho, se submetendo a vínculos temporários, não emergenciais,
que o levam a não ter segurança e instabilidade nas relações de trabalho.
Depara ainda com as inadequadas condições de trabalho, que o afasta do serviço
público. Essa questão das péssimas condições foi apontada por 91,6 % dos jovens
médicos pesquisados, como o principal motivo para não atuar no SUS.
O resultado da pesquisa com
jovens Médicos avaliou 4.601 questionários de um total de 16.323 médicos
inscritos nos CRMs de 2014 a 2015. Constatou-se que apesar dessa conjuntura
caótica e desestimuladora, essa parcela de profissionais “manifesta um forte
espírito humano no momento em que se habilita formalmente para o mercado de
trabalho”.
Porém, a sua visão da saúde
publica não é nada alentadora. Cerca de 46,7% dos entrevistados referiram que
se “as condições de trabalho, remuneração e extensão de jornadas fossem
equivalentes em serviço do SUS e particulares ou de plano de saúde, a opção seria atuar exclusivamente na rede
pública”. Do total pesquisado apenas 12,2 % disseram que atuariam no setor
privado e 41% independia do vínculo empregatício. Esse perfil contraria
totalmente a visão deturpada de que o jovem médico se nega a atuar no SUS.
A visão humanitária de
cuidado e do interesse pelo organismo humano (54,5%) e a valorização da relação
medico-paciente ficou patente nas respostas de 41,5 % dos entrevistados, o que
indica um forte apelo ético que ainda norteia a formação. Depois da qualidade
das condições de trabalho (84%) os fatores que mais influenciam sua fixação em
um emprego é o nível de qualidade de vida (66,2 %) e a remuneração (63,1%).
Em relação à educação
continuada, 80, 2% desejariam fazer
Residência Médica, o que mostra o interesse pela qualificação. Mas o
aprimoramento não para por ai, pois 57,8 % desses queriam fazer pós-graduação
em uma instituição diferente daquela que estudou e 22,4 % pretendiam fazer na
mesma escola de formação.
Essa pesquisa responde aos
anseios dos estados da Amazônia em relação às grandes áreas de atuação, já que
56,7% dos jovens egressos têm interesse em atuar na área de maior necessidade:
a Clínica Médica, e 30,6 % na Cirurgia. Uma percentagem baixa de 3% pretende se
preparar para atuar no ensino, pesquisa e gestão. Esse percentual inferior
mostra que poucos jovens querem seguir a docência ou da gestão das unidades,
repercutindo na qualidade do ensino e na condução técnica das instituições, que
ficam nas mãos das indicações políticas.
Todo esse perfil contraria
as alegações e opções do MS em convocar médicos estrangeiros para atuar nos
interiores e não apoiar a aprovação da Carreira de Estado do SUS. (Fonte:
Jornal Medicina, nº 270, Agosto/2017). JARBAS
ATAÍDE, 13.11.2017.
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