Senhores políticos, em 2018 cuidem melhor
da democracia
Besaliel Rodrigues
Já estamos na contagem regressiva para
adentrarmos ao novo ano de 2018, ano de eleições, ano de nova peregrinação dos
candidatos, ano em que se espera intensa renovação na representação popular.
Assim,
como sabemos que muitos políticos nos leem, queremos fazer um pedido a todos
vocês: Cuidem melhor da democracia, pois dela depende vossa existência. Todos
já sabemos o que acontece com o enfraquecimento da democracia. Não brinquem;
não ignorem esse apelo!
Só
relembrando, “Foi na Grécia de Homero que surgiu uma maneira até então
desconhecida de fazer política: o rei deixou de ser onipotente e seu poder foi
paulatinamente partilhado e disputado entre os cidadãos. Era o início de um
fenômeno que se consolidaria a partir do século 6º a. C., na Atenas de Sólon e
Clístenes, e que se tornaria um dos fundamentos da civilização ocidental: a
democracia.” (Folha de São Paulo,
Caderno “Mais!”, 31, out. 1999, p. 4, artigo “Os gregos inventaram tudo” de
Jean-Pierre Vernant).
Conforme explicações do historiador
francês Jean-Pierre Vernant, foram os gregos os definidores do tipo de vida
coletiva que se desenvolveu na história do Ocidente. Sobre a origem da política
e da democracia, disse que foi a partir do século VII a. C. que ambas surgiram
na Grécia, como resultado de um comportamento social e práticas institucionais
existentes naquele período (Id., p. 4. Da mesma forma Maria Cristina Castilho
Costa, O que todo cidadão precisa saber
sobre democracia, São Paulo: Global, passim.).
Cita Vernant os precedentes históricos
dessa mudança de comportamento político, dizendo que a Grécia, entre os anos
1450 e 1200 a. C., era uma monarquia que, em certos aspectos, “lembrava os
reinos orientais; o rei, ‘anax’, controla o conjunto da vida social, econômica
e mesmo religiosa, ao que parece.”. Os gregos irão refletir sobre essa situação
de inferioridade, submissão e de obediência em relação ao poder soberano, que
ainda evocava para si status de
divindade e intermediário entre os deuses e os homens, por vários séculos. Os
historiadores chamaram de “séculos obscuros” esse período de reflexão.
Foi nesse contexto que os gregos
descobriram algo totalmente novo: “a idéia de que só existe sociedade humana
digna desse nome se essa soberania de valor quase religioso se achar
despersonalizada e, para falar como os gregos, situada no centro, ou seja, se
tornar uma coisa comum.”.
Assim, essa mentalidade “revolucionária”
vai tomando conta do pensamento grego, ganha corpo, a ponto de o poder sair
desse debate dessacralizado. Surgem, em seguida, as assembleias que, com o
tempo se ampliam. A democracia finca-se, fazendo existir “ao mesmo tempo
‘demos’ - o conjunto da população, inclusive sua parte mais pobre, e ‘cratos’ -
poder arbitrário e soberano.”.
Estava
criada a democracia, como consta dos escritos de Aristóteles (A política, trad. Nestor Silveira
Chaves, Rio de Janeiro: Ediouro, s. d., p. 58) e como nos informa Manoel
Gonçalves Ferreira Filho (Curso de
direito constitucional, São Paulo: Saraiva, p. 70). Entretanto, da época
dos antigos gregos até o início da Idade Moderna, diz Ferreira Filho que, salvo
raríssimas exceções históricas, não havia eleições. As exceções, quando
ocorreram, ficaram adstritas aos “Estados de exíguo território e pequeníssima
população”.
Na
Idade Média, a Igreja Católica prestou uma grande contribuição para o
desenvolvimento da ideia de democracia quando instituiu a eleição do Papa pelo
Colégio de Cardeais. Foi o rascunho para o que hoje temos por democracia
representativa.
Segundo Dalmo de Abreu Dallari, foi após
os episódios históricos da Revolução Industrial - 1689, da Revolução Americana
- 1776 e da Revolução Francesa - 1789 que a democracia tomou o impulso que a
transformou no que ela é hoje, ou seja, o principal assunto eleitoral e
político da atualidade (Elementos de
teoria geral do Estado, São Paulo: Saraiva, p. 124-8).
Ensina Dallari que é com o surgimento do
Estado que a democracia consolida-se como ideal supremo dos povos. Assim,
políticos, em 2018 reinventem-se e resgatem os valores perdidos da democracia
em nosso país. Se ignorarmos tão urgente mudança de comportamento, pagaremos um
preço muito caro. Mas, creio, isso não vai acontecer, se Deus quiser. Feliz
2018 para você. Amém.
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