Paulo Roberto
Brancatti (*)
Ao comemorar o Natal
que se aproxima novamente, faço um pequeno exercício de memoria para recuperar
alguns pontos que me tocavam e ainda me tocam quando assisto apresentação de
algum grupo denominado “Folia de Reis”. Isso, porque, a participação popular
enraizada na cultura popular favorece esse momento cultural numa comunidade ou
numa igreja que possa experimentar a alegria de pessoas que representam com
suas músicas, com seus trajes próprios, com suas danças e com suas ladainhas,
os belos momentos que significaram e significam o nascimento do menino Jesus na
caminhada do povo de Deus e a visita dos Reis Magos a família de Nazaré.
E, numa dessas
lembranças, busquei em mim uns momentos que vivenciei da Folia de Reis quando
meus pais e meus avôs participavam dum grupo que percorria as ruas do bairro da
Cidade onde moravam e ao chegar às casas, os mesmos adentravam e no interior
dela, o evento acontecia. Era muito interessante, por que haviam músicos instrumentistas, cantores
e muitas vezes se compunham de dançarinos, palhaços e com outros trajes
característicos do folclore e das lendas e tradições da Cidade. As
canções eram e ainda hoje, sempre religiosas culminam com alguns intervalos
para a casa servir a comida ou lanches aos participantes... Essa era a parte
mais gostosa que eu curtia. À hora da comida era sempre mais agradável e as
crianças faziam a festa após a cantoria dos foliões. Após aquela apresentação
numa determinada casa, o grupo partia para outra residência e lá ocorriam as
mesmas atividades.
Eu e meus amigos
seguíamos na caminhada junto aos foliões e cantávamos também algumas músicas
que sabíamos e dentre elas, uma que aprendi e gosto e canto até hoje quando me
lembro das histórias vindas da folia de Reis – Reisado: O galo cantou no
Oriente ai, ai, ai, ai... Surgiu a estrela da guia ai, ai... Anunciando a
humanidade ai, ai, ai, ai.. Que o menino Deus nascia ai, ai, ai, ai... Em uma
estrebaria ai, ai, ah... Vinte e cinco de Dezembro ai, ai, ai, ai... Não se
dorme no colchão ai, ai... Deus menino teve a cama ai, ai, ai, ai... De folha
seca do chão ai, ai, ai, ai... Pra nossa salvação ai, ai, ah... Senhora dona da
casa ai, ai, ai, ai... Olha a chuva no telhado ai, ai... Venha ver o Deus
Menino ai, ai, ai, ai. Como está todo molhado ai, ai, ai, ai... Os três reis a
seu lado, ai, ai ah... Deus lhe pague a bela oferta ai, ai, ai, ai. Que vós deu
com alegria, ai, ai.. O Divino Santo Reis ai, ai, ai, ai São José, Santa Maria
ai, ai, ai, ai. Há de ser a vossa guia ai, ai, ah...
E, assim a folia e a
cantoria iam acontecendo e como agradecimentos iam pedindo à família acolhedora
às benções, as proteções do Divino Espírito Santo e as graças do Pai criador. E
com essa lembrança eu cresci e hoje quando vou há uma festa popular como os da
Folia de Reis ou a Festa do Divino, penso o quanto ainda podemos fazer para que
a religiosidade popular enraizada nas figuras populares do presépio que
concedem graças a quem acredita, possam nos agraciar no Natal de Jesus com essa
bela expressão da cultura popular de envolvimento das pessoas na dinâmica da
vida religiosa sem receio de expressar com seu corpo a dança folclórica que
envolve a magia do nascimento e vida.
Paulo Roberto
Brancatti é professor da Unesp de Presidente Prudente
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