Minamata matou o
Lourenço
Vou novamente meter
minha colher enferrujada nas operações da Polícia Federal. A última realizada
no Estado do Amapá, mas precisamente no Distrito do Lourenço denominada de
Minamata, foi mais uma daquelas ações pirotécnica e, sinceramente, com doses
cavalares de exagero.
Não digo coloco em
xeque o seu objetivo, mas exagerada pelo seu aparato logístico. Senhores, a PF
disponibilizou dois Helicópteros, mais uma dezena de viaturas e 120 homens.
Caramba! Uma verdadeira operação de guerra. E o alvo? Nove garimpeiros e um
Promotor aposentado. São de alta periculosidade? Já conversei com alguns.
Parecem crianças assustadas. E o pior. Garimpeiros pobres, acusados de lavagem
de dinheiro, formação de quadrilha, crime ambiental e pratica trabalho análogo
a escravidão.
Bem! Não entro no
mérito da pratica dos ilícitos, mas um cara que deve quatro anos de IPVA de um
caminhão velho, que está sendo acossado pelo Banco para que atualize as
prestações do carro que comprou financiado, não tem o perfil de um gangster bem
sucedido. Nada comparado às figuras da Lava Jato.
O Distrito do
Lourenço sempre foi considerado uma grande reserva mineral (ouro) e uma empresa
de nome “Novo Astro” tirou ouro às toneladas de lá e lógico, dentro da lei,
pelo menos assim o Estado brasileiro considerou. Vários garimpeiros da Novo
Astro morreram soterrados. Quantos? Não se tem notícia. Era proibida entrada de
estranho nas dependências do acampamento da empresa. E o mercúrio era utilizado
fartamente, porém para a Novo Astro não era crime.
O fato é que a
Minamata matou o Lourenço, Município de Calçoene no Norte do Amapá, com uma
população, segundo o IBGE Censo de 2010 de 1.866 habitantes. Esse povo vive da
faiscagem do ouro. É essa sim a única fonte de receita do Distrito que vive
agora em “petição de miséria”. Hoje a suspensão da atividade garimpeira está
provocando um terror nesse povoado, o terror da fome, da falta de perspectiva.
Na realidade a
situação do Lourenço sempre foi caótica, mas agora ficou impossível classificar
a situação desse povo. O fato é que no garimpo nunca houve trabalho fácil, a
vida do garimpeiro é rude e sua atividade é mexer com terra e carregar peso.
Desculpem-me, mas a
cada intervenção contra o homem da Amazônia fico mais inclinado a crer que por essas
bandas do Brasil somos apenas arranjo menos importante de um bioma que só
interessa a natureza. Aqui a pesca é controlada, a atividade madeireira é
controlada, a agricultura e a pecuária são controladas. Aqui quase nada pode,
porém o Estado só se faz presente de uma forma massiva na Amazônia quando é pra
prender o homem da região. Tirando isso a presença da União é tímida.
Só para ilustrar a
afirmativa, a ANTAQ-Agência Nacional e Transporte Aquaviário possui um único
funcionário no Amapá, isso porque sua territorialidade na absoluta maioria é
composta por hidrovias, mas aqui não precisamos da ANTAQ não é? A não ser
quando for preciso fazer uma operação repressiva. Putz!
Perdemos a completa
noção de quando a Operação da Policia Federal contribuiu para a normalidade na
vida brasileira ou quando serve para desorganizar o que minimamente estava
organizado. Esse não é um exemplo isolado. A Mãos Limpas teve até um registro
cinematográfico da chegada da Polícia Federal, com direito a narração e tudo e
o que dizer da carne fraca?
Nós, os fracos,
diante na onipotência do Estado só nos resta contabilizar mais uma tapa na cara
da sociedade amapaense. O Vereador Piaba que sempre defendeu o povo sofrido do
Lourenço, também virou bandido, pelo menos pro Estado nacional.
Vamos aguardar os
desdobramentos de tudo isso. Não se espantem se amanhã o noticiário for de que
os garimpeiros foram todos inocentados.
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