sábado, 3 de março de 2018

Artigo do Rei





As gerações de mulheres

“Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga”, como já lembrava o poeta Carlos Drummond de Andrade. E se este amor é incondicional, o que dizer daquele que nutre cinco gerações? Mulheres de realidades diferentes, cujo legado está impresso além dos sorrisos que estampam o vasto álbum de família e figura como modelo de criação repassado para filhos, netos e bisnetos. Independente da forma como educam, sejam elas professoras que falam pelo olhar, cúmplices que abrem a casa e o coração para abrigar a todos, mais rígida ou carnavalesca, fato é que, para elas, filho não tem idade.
Mas como também se padece no paraíso, chega a hora em que essas “crianças” casam e têm filhos, e estes, têm os seus e assim segue a cadeia reprodutiva. E o convívio familiar – que é privilégio – entre pessoas com pensamentos que refletem épocas distintas podem e costumam gerar conflitos. Entender e aceitar que o que é considerado adequado ou impróprio em um momento podem ganhar novo sentido, nem sempre é tarefa fácil. O equilíbrio, ensinam as matriarcas, está em extrair o melhor das experiências e valores transmitidos pelos mais velhos e acrescentar os ensaios adquiridos no dia-a-dia.
Segundo José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado ENCE/IBGE, a pirâmide populacional brasileira mostra que as mulheres já são e serão a maioria no Brasil em 2030; a maior faixa etária feminina será de mulheres entre 35 e 59 anos. Em 2000, o maior grupo era de mulheres entre 15 e 19 anos. As mulheres ainda são minoria no mercado de trabalho brasileiro, mais precisamente 25%, menos do que nos países desenvolvidos; apesar do Brasil apresentar um aumento significativo de 39% para 60% da participação feminina no mercado de trabalho nas últimas décadas.
É nesta balança entre o peso do tradicional e do novo que as mulheres de uma família encontram a medida certa para criar os rebentos de quatro gerações. Criada em uma década onde mulheres tinham pouco espaço no cenário político e social, a bisavó inovou sem pretensões de ser feminista. A rigidez em que cumpria o que lhe cabia como mulher, não impediram de ter forte participação nas decisões da família.
Ao tempo em que é considerada rigorosa é também venerada pelo pulso suave que mantém ainda hoje as rédeas da família. O amor à vida é o legado deixado aos netos. Aos filhos, é uma figura de segurança pessoal.
Para a matriarca, educação vem “de mesa”. O trocadilho se traduz no aprendizado que ultrapassa as regras de etiquetas e recai na partilha de alimento e afeto. Os horários de refeições, obedecidos religiosamente, não eram as únicas regras. “Só se podia se servir ou comer depois que meu pai iniciasse”, lembram-se, a criação se deu sem excessos. Entre as filhas, por exemplo, o vestido das mais velhas eram transmitidos às menores. Era a forma de pôr limites, de mostrar que o fato de ter e poder deve ser valorizado. O reflexo do pensamento chega a quarta geração que deverá levar as subsequentes.

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