Máquinas de escrever ainda têm seus adeptos
“Fui criado na época da máquina de escrever. É um
hábito que se enraizou de tal maneira que não consigo me livrar. Isso não me
impediu de ganhar quatro prêmios Jabuti. A cabeça não funciona se não tenho a
máquina. Se vou direto ao computador, a coisa não encaixa”, sentencia o poeta e
jornalista Ivan Junqueira (79 anos), com 37 livros datilografados.
Metódico, Junqueira divide seu processo criativo em
três atos. Começa com o texto escrito à mão. Em seguida o transpõe na máquina.
Por fim, quando dá o datiloscrito por pronto, o repassa ao computador para
enviar aos editores.
Bom, eu entrei na adolescência na década de 1970, e
uma das exigências de deixar de usar bermudas, considerada roupa de criança,
naquela época, meu avô, Mestre Benedito, estabeleceu que minha primeira calça
comprida ele me daria aos completar 15 anos, se quisesse usar antes, tinha de
comprar com meu dinheiro, ou seja trabalhar.
Naquela época não era crime jovem trabalhar, ao
contrário, era incentivo para ser tornar logo cedo cidadão e se preparar para
ter uma família, e os recursos, deveriam vir cumprindo o ditos bíblicos, com o
‘suor do seu rosto’.
Vizinho a residência de meus avós, localizada na
Avenida Presidente Vargas, 770, na esquina da Rua Eliezer Levy, passou a
residir a professora municipal Maria Augusta Ventura Costa, de origem
portuguesa e membro de uma família que trouxe muitos valores profissionais para
o Amapá, médicas, as irmãs Ventura, Clara (falecida), Emília e Alice. Maria
Augusta montou uma escola de datilografia e fui um dos seus primeiros alunos,
aos 13 anos de idade e empolgado, fazendo um curso de seis meses, consegui
atingir o nível máximo em um mês e passei a ajudar os colegas e reconhecendo
minha evolução, Maria Augusta, entregou-me uma turma de 15 alunos, e passei a
ganhar meu primeiro salário. E a recompensa de ter desses alunos, 8
matriculados em concurso, todos aprovados com mérito em datilografia.
Bom, esse prólogo é para explicar meu amor pelas
máquinas de Datilografia, e as décadas que ela me ajudou no meu emprego no
Governo do extinto Território Federal do Amapá, atuando no SEAD, PMM, SEED, e
nas secretarias do Dom Aristides Piróvano, Sebastiana Lenir e Colégio
Amapaense. Veio a era da tecnologia, nasceram os computadores, retiraram as
máquinas de escrever, dos escritórios e repartições públicas e o ultimo nicho,
foi as residências, isso pelas exigências dos filhos e netos, também foram
descartadas, viraram peças de museu ou relíquias familiar.
Mas o importante não tiraram, a essência da máquina
de escrever, o teclado, que é o mesmo, somente com alguns adendos que facilitam
o trabalho e colocaram uma tela. Mas o básico continua. Há, acabou a exigência
de teclar com os dedos certinhos (asdfg) e a rapidez textual, que era
competitiva e valia pontos nos antigos concursos (tantos toques em 1 minuto).
— O computador absolve o erro, parece que não houve
luta ele sinaliza os erros e não exige que você se aprofunde na gramatica,
ortografia e concordância. E quanta luta houve, nas escritas pela máquina de
escrever! Com a idade a gente vai
ficando meio conservador. Tenho um PC, porém, é uma questão emocional, uma
nostalgia de papel e tinta. Gosto de livro impresso e de jornal impresso. Faz
um ano que o Tribuna Amapaense não é mais impresso e sinto falta do cheiro dele.
E muitas pessoas pensam igual, cobram o impresso e leem as revistas e livros
impressos, mesmo tendo os sites, blogues e portais.
Bom, essa semana iniciei uma checagem médica e ao chegar
ao consultório médico, para fazer as preliminares, deparo com uma cena
insólita, em cima da mesa do médico em vez de um computador ou Note book (PC),
estava uma máquina Olivetti elétrica PII, fabricada na década de 80 e
funcionando perfeitamente e era com ela que o médico preenchia os relatórios
dos prontuários de seus pacientes. Pedi permissão, fiz umas fotos, uma delas
retrata esse artigo e Emocionado me empolguei e perguntei ao médico, Doutor
Walcy – ainda usa essa preciosidade? Uso, pois recebi reclamação de pacientes
que não entediam minha letra e o CFM passou a pedir que as fossem expedidas as receitas
digital e impressa. Como ‘ela’ estava em casa e funcionando, trouxe e faço o
serviço perfeitamente, até hoje após mais de 30 anos ela não deu defeito e me
acompanha sempre.
Nossa, eu pensei, quando o médico, começou a teclar
minha receita, aquele barulho, o “tec-tec-tec”, que era a minha meditação e o
barulho da alavanca do rolo que fazia o papel subir, para escrever a próxima
linha e o aviso da ‘campainha’, que estava terminando a linha. Quanto tempo, a
memória afetiva voltou com tudo e emoção da minha juventude veio à tona. “Eu quero meus pecados de escrita, para ver
se são de fato pecados”. Saudade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário