sábado, 31 de março de 2018

Artigo do Rei


 

Máquinas de escrever ainda têm seus adeptos

“Fui criado na época da máquina de escrever. É um hábito que se enraizou de tal maneira que não consigo me livrar. Isso não me impediu de ganhar quatro prêmios Jabuti. A cabeça não funciona se não tenho a máquina. Se vou direto ao computador, a coisa não encaixa”, sentencia o poeta e jornalista Ivan Junqueira (79 anos), com 37 livros datilografados.
Metódico, Junqueira divide seu processo criativo em três atos. Começa com o texto escrito à mão. Em seguida o transpõe na máquina. Por fim, quando dá o datiloscrito por pronto, o repassa ao computador para enviar aos editores.

Bom, eu entrei na adolescência na década de 1970, e uma das exigências de deixar de usar bermudas, considerada roupa de criança, naquela época, meu avô, Mestre Benedito, estabeleceu que minha primeira calça comprida ele me daria aos completar 15 anos, se quisesse usar antes, tinha de comprar com meu dinheiro, ou seja trabalhar.
Naquela época não era crime jovem trabalhar, ao contrário, era incentivo para ser tornar logo cedo cidadão e se preparar para ter uma família, e os recursos, deveriam vir cumprindo o ditos bíblicos, com o ‘suor do seu rosto’.
Vizinho a residência de meus avós, localizada na Avenida Presidente Vargas, 770, na esquina da Rua Eliezer Levy, passou a residir a professora municipal Maria Augusta Ventura Costa, de origem portuguesa e membro de uma família que trouxe muitos valores profissionais para o Amapá, médicas, as irmãs Ventura, Clara (falecida), Emília e Alice. Maria Augusta montou uma escola de datilografia e fui um dos seus primeiros alunos, aos 13 anos de idade e empolgado, fazendo um curso de seis meses, consegui atingir o nível máximo em um mês e passei a ajudar os colegas e reconhecendo minha evolução, Maria Augusta, entregou-me uma turma de 15 alunos, e passei a ganhar meu primeiro salário. E a recompensa de ter desses alunos, 8 matriculados em concurso, todos aprovados com mérito em datilografia.
Bom, esse prólogo é para explicar meu amor pelas máquinas de Datilografia, e as décadas que ela me ajudou no meu emprego no Governo do extinto Território Federal do Amapá, atuando no SEAD, PMM, SEED, e nas secretarias do Dom Aristides Piróvano, Sebastiana Lenir e Colégio Amapaense. Veio a era da tecnologia, nasceram os computadores, retiraram as máquinas de escrever, dos escritórios e repartições públicas e o ultimo nicho, foi as residências, isso pelas exigências dos filhos e netos, também foram descartadas, viraram peças de museu ou relíquias familiar.
Mas o importante não tiraram, a essência da máquina de escrever, o teclado, que é o mesmo, somente com alguns adendos que facilitam o trabalho e colocaram uma tela. Mas o básico continua. Há, acabou a exigência de teclar com os dedos certinhos (asdfg) e a rapidez textual, que era competitiva e valia pontos nos antigos concursos (tantos toques em 1 minuto).
— O computador absolve o erro, parece que não houve luta ele sinaliza os erros e não exige que você se aprofunde na gramatica, ortografia e concordância. E quanta luta houve, nas escritas pela máquina de escrever!  Com a idade a gente vai ficando meio conservador. Tenho um PC, porém, é uma questão emocional, uma nostalgia de papel e tinta. Gosto de livro impresso e de jornal impresso. Faz um ano que o Tribuna Amapaense não é mais impresso e sinto falta do cheiro dele. E muitas pessoas pensam igual, cobram o impresso e leem as revistas e livros impressos, mesmo tendo os sites, blogues e portais.
Bom, essa semana iniciei uma checagem médica e ao chegar ao consultório médico, para fazer as preliminares, deparo com uma cena insólita, em cima da mesa do médico em vez de um computador ou Note book (PC), estava uma máquina Olivetti elétrica PII, fabricada na década de 80 e funcionando perfeitamente e era com ela que o médico preenchia os relatórios dos prontuários de seus pacientes. Pedi permissão, fiz umas fotos, uma delas retrata esse artigo e Emocionado me empolguei e perguntei ao médico, Doutor Walcy – ainda usa essa preciosidade? Uso, pois recebi reclamação de pacientes que não entediam minha letra e o CFM passou a pedir que as fossem expedidas as receitas digital e impressa. Como ‘ela’ estava em casa e funcionando, trouxe e faço o serviço perfeitamente, até hoje após mais de 30 anos ela não deu defeito e me acompanha sempre.
Nossa, eu pensei, quando o médico, começou a teclar minha receita, aquele barulho, o “tec-tec-tec”, que era a minha meditação e o barulho da alavanca do rolo que fazia o papel subir, para escrever a próxima linha e o aviso da ‘campainha’, que estava terminando a linha. Quanto tempo, a memória afetiva voltou com tudo e emoção da minha juventude veio à tona. “Eu quero meus pecados de escrita, para ver se são de fato pecados”. Saudade!

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