sexta-feira, 9 de março de 2018

Artigo do Velleda Coluna CISMANDO






Floresta ou Lavoura?

Em 2010 escrevi um artigo para o Tribuna abordando natureza, água, desenvolvimento, e claro, a Amazônia. Oportuno compartilhá-lo novamente.
Floresta Amazônica, a mais bela e exuberante região do planeta. Uma colossal máquina natural capaz de produzir matérias primas para indústrias farmacêuticas e de cosméticos. Tudo mágico, tudo incrível. Mas é preciso refletir...
Vida e água não se concebe uma sem a existência da outra. Mares, lençóis freáticos e a chuva que cai constantemente, nos leva a pensar nesse recurso abundante e inesgotável, e que estará sempre à nossa disposição. Doce ilusão. Ledo engano. Mais de 97% da água existente é salgada, imprópria para o consumo humano e o pouco que resta é de água doce, e mesmo diante do problema da escassez, continuamos a desperdiçar esse precioso líquido. E não bastasse o desperdício, a urbanização e industrialização, contaminam a pouca água disponível. Inúmeros países do mundo já enfrentam o problema. E em poucos anos bilhões de pessoas não disporão do mínimo de água para satisfazer suas necessidades básicas. Mesmo assim, o Brasil parece não se preocupar, pois possui de 12 a 13% de toda água doce disponível no mundo. Mas esquece que o nosso principal problema é que os grandes mananciais estão localizados aqui, na região amazônica, distante dos grandes centros consumidores.
A Água, o dom da vida, que é hoje uma das maiores assassinas do mundo, matando 25 mil pessoas todos os dias por beberem água poluída.
Ficam perguntas que não querem calar. O que pode ser feito? Evitar o desperdício e parar de poluir?
Investimentos em saneamento básico e usinas de tratamento de água, além da aplicação de pesadas multas para indústrias poluidoras poderão aliviar bastante o problema da contaminação, mas evitar o desperdício e a poluição é tarefa de cada um de nós.
A dessalinização da água do mar pode amenizar, embora possua, ainda, custos proibitivos.
A exploração racional de madeira obtém resultado 19% maior e o Manejo florestal rende mais. Mesmo assim, os madeireiros fogem dessa ideia sustentável optando pela exploração convencional, que custa muito menos.
Áreas próximas das estradas, margens dos rios e igarapés e no entorno dos cinturões das cidades e povoados concentram-se a maioria dos desmatamentos ilegais e clandestinos. E ainda as queimadas, feitas nos períodos mais secos, visando pastagens ou agricultura, completam o descontrole e a devastação, que não cessam apesar dos projetos de monitoramento aplicados pelo IBAMA.
Que futuro queremos para esse colossal ecossistema que a natureza presenteou ao mundo? Um lugar de terras devastadas e cidades miseráveis?
Hoje, vê-se a recusa do governo brasileiro em incluir a maior floresta tropical do mundo no que pode ser o mercado do futuro, a compra e venda de estoques de carbono. Países industrializados assumiram compromisso de reduzir suas emissões de gás carbônico no Protocolo de Kyoto, e comprar emissões economizadas no Terceiro Mundo. O governo federal não aceita incluir florestas virgens na discussão. Nas negociações internacionais, fala-se em “chantagem florestal”.
Por outro lado, estão querendo colocar a Amazônia numa redoma e transformá-la numa imensa reserva natural. Alguns partidários do não-desenvolvimento da Amazônia dão prioridade absoluta à conservação do planeta Terra e chegam a considerar os seres humanos como parasitas.
Mas o não-desenvolvimento da Amazônia é totalmente inaceitável para os brasileiros dessa região. E enquanto os países industrializados do Norte não modificarem seus modos de vida e de consumo, os conselhos que prodigalizam a favor do não-desenvolvimento podem muito bem taxarem como colonialismo ecológico.
A atual política ambiental do Brasil propõe substituir o desenvolvimento a qualquer preço através do ecodesenvolvimento. Intenção louvável, mas de difícil execução, pois depende de uma reforma do regime de propriedade e do sistema agrícola a fim de diminuir a corrida de migrantes para a Amazônia.
A proteção dos recursos florestais, daqui, requer também um programa ambicioso de reflorestamento em outras regiões do país. Recuperação de terras já desmatadas e no fim do avanço da fronteira da colonização e dos novos desmatamentos.
Querem tornar a Amazônia habitável, descartando a visão colonialista de uma região produtora de recursos para o exterior, reduzindo custos sociais e ecológicos, com a melhoria das condições de vida nos centros urbanos e o controle das doenças tropicais, a começar pela malária.
São cinco milhões de km2 e 20 milhões de habitantes, cobrindo mais da metade da superfície do Brasil, num calor úmido, ventos abundantes e chuvas torrenciais.
Aqui corre o gigante Amazonas, que banha um magistral laboratório da natureza. Mas não podemos sair do foco de que preservar significa mudar nossa maneira de progredir, destruindo menos os recursos naturais e distribuindo melhor os frutos do progresso entre países ricos e pobres.
Afinal, somos o segundo país em desmatamento, atrás apenas da China. E apesar disso, a floresta Amazônica continua a ser uma das maiores do planeta. Uma flora riquíssima, de mais de 30 mil espécies de plantas, que inclui um terço de toda a madeira tropical disponível no mundo.
E apesar de tudo, o ciclo se repete. A madeira desbasta a selva. O colono derruba a floresta restante para plantar suas pastagens e a agroindústria estabelece as lavouras nas terras limpas.
Somente unidos por uma mesma certeza estaremos contribuindo para a preservação da nossa maior riqueza. A floresta Amazônica.
Pulmão do mundo? Lavoura ou Floresta?

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