Floresta ou Lavoura?
Em 2010 escrevi um artigo para o Tribuna abordando natureza, água,
desenvolvimento, e claro, a Amazônia. Oportuno compartilhá-lo novamente.
Floresta
Amazônica, a mais bela e exuberante região do planeta. Uma colossal máquina
natural capaz de produzir matérias primas para indústrias farmacêuticas e de
cosméticos. Tudo mágico, tudo incrível. Mas é preciso refletir...
Vida e água não se concebe uma sem a existência da
outra. Mares, lençóis freáticos e a chuva que cai constantemente, nos
leva a pensar nesse recurso abundante e inesgotável, e que estará sempre à
nossa disposição. Doce ilusão. Ledo engano. Mais de 97% da água existente
é salgada, imprópria para o consumo humano e o pouco que resta é de água
doce, e mesmo diante do problema da escassez, continuamos a desperdiçar esse
precioso líquido. E não bastasse o desperdício, a urbanização
e industrialização, contaminam a pouca água disponível. Inúmeros países do
mundo já enfrentam o problema. E em poucos anos bilhões de pessoas não disporão
do mínimo de água para satisfazer suas necessidades básicas. Mesmo assim, o
Brasil parece não se preocupar, pois possui de 12 a 13% de toda água
doce disponível no mundo. Mas esquece que o nosso principal problema é que os
grandes mananciais estão localizados aqui, na região amazônica, distante dos
grandes centros consumidores.
A Água, o dom da vida, que é hoje uma das maiores assassinas do
mundo, matando 25 mil pessoas todos os dias por beberem água poluída.
Ficam perguntas que não querem calar. O que pode ser feito? Evitar
o desperdício e parar de poluir?
Investimentos em saneamento básico e usinas de tratamento de água,
além da aplicação de pesadas multas para indústrias poluidoras poderão
aliviar bastante o problema da contaminação, mas evitar o desperdício e a
poluição é tarefa de cada um de nós.
A dessalinização da água do mar pode amenizar, embora possua, ainda, custos proibitivos.
A exploração racional de madeira obtém resultado
19% maior e o Manejo florestal rende mais. Mesmo assim, os madeireiros fogem dessa ideia sustentável
optando pela exploração convencional, que custa muito menos.
Áreas próximas das estradas, margens dos rios e igarapés e no
entorno dos cinturões das cidades e povoados concentram-se a maioria dos
desmatamentos ilegais e clandestinos. E ainda as queimadas, feitas nos períodos
mais secos, visando pastagens ou agricultura, completam o descontrole e a
devastação, que não cessam apesar dos projetos de monitoramento aplicados pelo
IBAMA.
Que futuro queremos para esse colossal ecossistema que a natureza presenteou ao mundo? Um lugar
de terras devastadas e cidades miseráveis?
Hoje, vê-se a recusa do governo brasileiro em incluir a maior floresta
tropical do mundo no que pode ser o mercado do futuro, a compra e venda de
estoques de carbono. Países industrializados assumiram compromisso de reduzir
suas emissões de gás carbônico no Protocolo de Kyoto, e comprar emissões
economizadas no Terceiro Mundo. O governo federal não aceita incluir florestas
virgens na discussão. Nas negociações internacionais, fala-se em “chantagem
florestal”.
Por outro lado, estão querendo colocar a Amazônia numa redoma e
transformá-la numa imensa reserva natural. Alguns partidários do
não-desenvolvimento da Amazônia dão prioridade absoluta à conservação do
planeta Terra e chegam a considerar os seres humanos como parasitas.
Mas o não-desenvolvimento da Amazônia é totalmente inaceitável
para os brasileiros dessa região. E enquanto os países industrializados do
Norte não modificarem seus modos de vida e de consumo, os conselhos que
prodigalizam a favor do não-desenvolvimento podem muito bem taxarem como
colonialismo ecológico.
A atual política ambiental do Brasil propõe substituir o
desenvolvimento a qualquer preço através do ecodesenvolvimento. Intenção
louvável, mas de difícil execução, pois depende de uma reforma do regime de
propriedade e do sistema agrícola a fim de diminuir a corrida de migrantes para
a Amazônia.
A proteção dos recursos florestais, daqui, requer também um
programa ambicioso de reflorestamento em outras regiões do país. Recuperação de
terras já desmatadas e no fim do avanço da fronteira da colonização e dos novos
desmatamentos.
Querem tornar a Amazônia habitável, descartando a visão
colonialista de uma região produtora de recursos para o exterior, reduzindo
custos sociais e ecológicos, com a melhoria das condições de vida nos centros
urbanos e o controle das doenças tropicais, a começar pela malária.
São cinco milhões de km2 e 20 milhões de habitantes,
cobrindo mais da metade da superfície do Brasil, num calor úmido, ventos
abundantes e chuvas torrenciais.
Aqui corre o gigante Amazonas, que banha um magistral laboratório
da natureza. Mas não podemos sair do foco de que preservar significa mudar
nossa maneira de progredir, destruindo menos os recursos naturais e
distribuindo melhor os frutos do progresso entre países ricos e pobres.
Afinal, somos o segundo país em desmatamento, atrás apenas da
China. E apesar disso, a floresta Amazônica continua a ser uma das maiores do
planeta. Uma flora riquíssima, de mais de 30 mil espécies de plantas, que
inclui um terço de toda a madeira tropical disponível no mundo.
E apesar de tudo, o ciclo se repete. A madeira desbasta a selva. O
colono derruba a floresta restante para plantar suas pastagens e a
agroindústria estabelece as lavouras nas terras limpas.
Somente unidos por uma mesma certeza estaremos contribuindo para a
preservação da nossa maior riqueza. A floresta Amazônica.
Pulmão do mundo? Lavoura ou Floresta?
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