Macapá é reincidente
em não cumprir a LRF
Reinaldo Coelho
Apesar
de o Brasil ter uma das maiores cargas tributárias do mundo, o ajuste das
contas públicas passou a ser o principal problema econômico do país. Diversos
estados e municípios estão à beira da insolvência, tendo como agravante o fato
de que já estão descumprindo os limites impostos pela Lei de Responsabilidade
Fiscal – LRF. Isso significa que, além dos riscos fiscais, há riscos sociais e
político-institucionais.
Infelizmente
o Tribuna Amapaense vem apresentando semanalmente denúncias dos macapaenses
contra a atual administração do município de Macapá, são denúncias políticas,
de administração relapsa, de não cumprimento das promessas e o pior da má
administração dos recursos públicos municipais. E o assunto, como dizia os
antigos, vem caindo no “ouvido mouco” do Ministério Público Estadual, quando se
trata do assunto é a atual gestão macapaense e dão de ombros à vontade e à
necessidade da população.
Não
é muito fácil entender o que se passa na cabeça dos gestores públicos, aqueles
que teoricamente deveriam traduzir na condução da máquina pública a vontade
daqueles e daquelas que estão sob sua gestão. E, por certo, os macapaenses
teriam o apoio do filósofo francês Voltaire, que afirmou que a “política tem a
sua fonte na perversidade, e não na grandeza do espírito humano”.
As
denúncias apresentadas sempre foram baseadas em fatos, fotos e dados
estatísticos apresentados por órgãos fiscalizadores e, principalmente, pelo
cidadão. Desde sua primeira eleição, em 2012, Clécio Luís vem produzindo escândalos,
com seus auxiliares direitos se envolvendo em tramoias financeiras, com
recursos federais e do próprio município.
1ª Gestão – Inchaço
na folha de pessoal
Em
2016 um artigo titulado “2016, ano de maquiagem, do analista e articulista do
Tribuna Amapaense, Adrimauro Gemaque, o inchaço da folha de pagamentos dos
municípios e Macapá estava entre os municípios que descumpriram da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF).
...
Nos últimos dez anos o funcionalismo municipal cresceu 37,4%. Em 2015, esse
número atingiu a marca de 6,5 milhões de pessoas. Tanto é assim que o
porcentual de servidores municipais passou de 2,6% para 3,2% da população.
Trata-se de uma perigosa tendência seja pelo aspecto fiscal, seja porque esse
inchamento da máquina pública local não representou melhora na qualificação
técnica das prefeituras.
Aqui
no Amapá também não foi diferente, o número de servidores municipais aumentou
no mandato dos atuais prefeitos, em 2013 eram 18.166 e 2015 fechou com 20.223,
isto representou um aumento médio de 10,17%.
Os
prefeitos ainda foram responsáveis por aumentar em 498 a quantidade de
nomeações em cargos comissionados na administração municipal. Em 2014 eram 2.022
cargos em comissão, nos 16 municípios do Amapá. Já em 2015 atingiu 2.520
comissionados. No município da capital (Macapá) as nomeações saltaram de 966 em
2014 para 1.411 no ano de 2015. ...
Essas
informações estão baseadas no estudo denominado Panorama da Crise, elaborado
pela Confederação Nacional dos Municípios–CNM, com base no ano de 2014, que aponta
o elevado números de municípios que estão comprometendo a Receita Líquida (RL),
acima do estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – que é a Lei
Complementar nº 101/2000 com o pagamento de pessoal.
A
LRF tornou impositivo o acompanhamento da despesa com pessoal realizada nas
esferas de governo. De acordo com art. 18, da Lei nº 101/2000, o limite
estabelecido para os municípios é até 54% da RL com o pagamento de pessoal. O
estudo, porém, mostra que lei não vem sendo respeitada pelos gestores
municipais Brasil afora. E a realidade aqui no Amapá não foi diferente. Macapá
naquele ano tinha R$ 344.190 milhões comprometido com a folha de pagamento e
pessoal, para uma receita liquida de R$ 520.443 milhões ou seja estava com
66,13% (Emergencial) comprometida ou seja 12,13% acima do que limita a LRF.
2ª Gestão – Mais uma
vez Macapá está fora da lei
Este
ano outro estudo Índice FIRJAN de Gestão Fiscal 2017 – IFGF, ano de referência
2016, avaliou a situação fiscal de 4.544 municípios, onde vivem 177,8 milhões
de pessoas (87,5% da população brasileira). Apesar da determinação da lei, os
dados do exercício fiscal 2016 de 1.024 prefeituras não estavam disponíveis ou
não eram consistentes (informações que não foram passíveis de análise). Nesse
contexto, já fica demonstrado um grave problema de transparência na gestão
destes municípios.
O
estudo apontou que muito embora a Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, em seus
artigos 48 e 51, determine que até 30 de abril de cada ano os municípios
encaminhem suas contas referentes ao exercício anterior para a Secretaria do
Tesouro Nacional, até o dia 3 de julho de 2017 os dados de 1.024 municípios não
estavam disponíveis, o que representou 22,53% do total das prefeituras
analisadas.
A
região Norte apresentou o maior percentual de municípios sem transparência, 159
de um total de 450 prefeituras analisadas (35,3%). No Estado do Amapá, apenas 2
das 16 prefeituras declararam suas informações, ou seja, 87,5% dos municípios
não haviam disponibilizado as informações.
Veja o gráfico:
Os
gastos com pessoal é o principal elemento que compõe o orçamento das
prefeituras brasileiras. Considerando o disposto na rígida LRF, que fixou um
limite prudencial e um teto para essas despesas de 57% e 60% da Receita
Corrente Líquida, respectivamente, o comprometimento excessivo das receitas
municipais com essa despesa continua acontecendo e precisa ser evitado.
O
estudo aponta que mais da metade das prefeituras brasileiras analisadas (2.503
ou 55,1%) finalizaram o ano de 2016 comprometendo mais de 50% de seus
orçamentos com a folha de pagamento e, por isso, ficaram com o Conceito C no
IFGF – Gastos com Pessoal. Destas, 406 atingiram o limite prudencial de 57% da
RCL definido pela LRF, e 575 ultrapassaram o limite legal de 60% da RCL (nota
zero e Conceito D).
Macapá
foi a única capital a fazer parte deste grupo. E quando a despesa total com
pessoal ultrapassar o percentual de 54% da Receita Corrente Líquida. Neste
cenário há um extenso rol de vedações que vão desde a aplicação de penalidades
ao gestor até a proibição de celebrar convênios com os governos estadual e
federal. Já as sanções pessoais, como o próprio nome indica, “são aplicáveis
diretamente à pessoa do agente público que violar a legislação fiscal”, no
caso, o prefeito Clécio Luís Vieira. Elas podem ser nas esferas penal, civil e
administrativa.
O
próprio prefeito, como gestor, pode ser punido até com a perda de mandato. Além
disso o município deixa de receber benefícios e concessões, o que pode piorar
ainda mais a situação do caixa. E Macapá chegou a 66,13%.
Situação Fiscal de
Macapá
As
capitais concentram 22,7% da população brasileira (46 milhões de pessoas, em
2016) e administram 28,1% dos recursos em posse das prefeituras. Diferentemente
dos pequenos municípios – onde em muitos casos sequer há competência contábil
adequada para a gestão fiscal – as capitais têm acesso facilitado às
ferramentas para uma administração.
A
posição de Macapá no Ranking Nacional ficou em 3.970º, entre os 4.544
municípios que foram avaliados em todo o país.
No
Amapá a capital ficou em segundo lugar, abaixo de Vitória do Jarí que ficou na
posição 3.127º. Dos 16 municípios amapaenses, Macapá e Vitória do Jarí foram os
únicos avaliados, portanto apenas 12,5% do total. Na Região Norte, 291
municípios foram analisados pelo estudo e Macapá se posiciona entre aqueles com
os piores resultados com gasto de pessoal.
Macapá
foi a penúltima colocada entre as capitais com um cenário de extremos. Se por
um lado a capital amapaense atingiu Conceito A no IFGF Liquidez e no IFGF Custo
da Dívida, por outro ficou com Conceito D nos outros três indicadores, com
destaque para os gastos com pessoal, que ultrapassaram o limite de 60%
determinado pela LRF, atingindo 73,7% da RCL.
Na
última semana, mais precisamente na edição 598 do Tribuna Amapaense, o
articulista Adrimauro Gemaque, que é graduado em Administração Pública, volta a
tratar o assunto, contido no artigo: Municípios “fora da lei”.
A
bem da verdade o Índice FIRJAN nos revela que a situação fiscal dos municípios
é tão grave que milhares já estão descumprindo as principais legislações sobre
finanças públicas, como está evidenciado com a Lei de Responsabilidade Fiscal -
LRF. O descumprimento está presente em todas as regiões do país. Em algumas,
contudo, há maior concentração em função dessa decorrência o estudo chama de
“municípios fora da lei”.
Matéria
publicada no jornal Valor Econômico em 27/11/2017 apontava que os investimentos
das capitais caíram 63,23% de janeiro a agosto de 2016. A queda de
investimentos no primeiro ano de mandato em relação ao ano de eleições foi
considerada, de certa forma, natural, dado à lentidão da economia. Entretanto, com receitas apertadas, um dos
indicadores que deteriorou foi o de gastos com pessoal. Nesta mesma matéria do
Valor Econômico, a Prefeitura de Macapá já apresentava gastos com pessoal de
51,3% da RCL.
Evidentemente
que os Órgãos de Controle e o Controle Social não devem ficar calados diante de
tais evidências. Os Órgãos de Controle são investidos de competência legal na
verificação das conformidades das atividades das instituições públicas com os
atos normativos legais e devem examinar se estão em consonância com os
princípios que regem a Administração Pública. O Controle Social é uma
fiscalização em sentido vertical, ou seja, a sociedade é o interessado direto
no bom desempenho da Administração Pública, averiguando a atuação dos
representantes eleitos para conduzirem os destinos de municípios, Estados e da
União, visando a boa gestão da coisa pública.
Como
constatamos, os prefeitos, que são os responsáveis pela gestão das prefeituras,
tem o dever da observância aos ditames legais. Eles não podem ficar omissos a
isso, transformando-os em municípios “fora da lei”.
A
Prefeitura de Macapá tem ainda uma oportunidade de fazer os ajustes perante a
LRF com a promulgação da Emenda Constitucional 98. Ela vai permitir que as
pessoas que tenham mantido, por um mínimo de 3 meses, qualquer tipo de relação
de trabalho com os ex-territórios de Roraima e do Amapá optem pelo quadro em
extinção do governo federal, caso esse vínculo tenha ocorrido até 5 anos após a
data de sua transformação em Estado (entre 5 de outubro de 1988 e 5 de outubro
de 1993. No Amapá a previsão é de que 1.350 servidores de 16 municípios possam
integrar-se ao quadro da União. Esta chance não pode ser desperdiçada ou
corremos o risco de perder “o bonde da nossa história”.
Escândalos na Gestão
Clécio Luís (REDE)
Prefeitura
pagou R$ 1 milhão, mas cerca de 30 mil kits uniformes não chegaram às escolas
da rede municipal. Autor da emenda cobrou publicamente a apuração da denúncia.
Mas está abafado, a ex-deputada professora Dalva, foi demitida, colocou a boa
no trombone. E até agora nada foi resolvido. Nem politicamente, o senador e o
prefeito mantém firme a amizade política. O MPF ainda não se manifestou. Pois
os recursos são federais.
Secretário
Municipal de Educação, promotor Moisés é preso por Operação Minamata que
investiga uma organização criminosa e um esquema de exploração e
comercialização ilegal de ouro no Amapá.
Delator
diz que campanha do prefeito de Macapá recebeu R$ 450 mil da Odebrecht. Por
prerrogativa de foro, STF encaminhou conteúdo da delação para a Procuradoria
Regional da República, que poderá, ou não, autorizar a investigação.
Clécio
usou dinheiro do FUNDEB para pagar presidente nacional do PSOL durante um ano.
Dinheiro foi pago à empresa L. Araújo Consultoria Educacional LTDA ME, com sede
em Brasília, vinculada a Luiz Araújo, presidente nacional do PSOL.
O
escândalo do Residencial São José, duplicidade de nome na relação dos
beneficiados com apartamentos.
Um
outro já havia "estourado" no começo do ano quando nem bem Clécio
Luís concluía as explicações da "farra dos aluguéis" de carros e
prédios alugados por valores acima do mercado local.
A
"Operação Limos" cumprindo mandados de busca e apreensão dentro da
Secretaria de Assistência Social e Trabalho. A operação foi resultado de
investigações na execução do programa Bolsa Família que apontaram fraudes no
benefício para incluir ilicitamente pelo menos 800 famílias passariam a receber
o dinheiro. O prejuízo chegaria a R$ 1,7 milhão. Completaram-se três anos da
operação, que aconteceu em Janeiro de 2015.
O
processo criminal resultante da Operação Limos corre em segredo de justiça e,
além do atual gestor da capital amapaense, servidores do alto escalão da
prefeitura também são alvos da operação, os quais respondem pelos crimes de
inserção de dados falsos em sistema de informações, estelionato contra o poder
público federal, falsificação de documento público, falsidade ideológica,
peculato, organização criminosa, corrupção passiva, corrupção ativa e
prevaricação.
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