UM CONVITE À FÉ RACIOCINADA
*Flávio Nunes
Brito. MSC.
A
Ciência vem escrutinando os livros considerados sagrados de algumas das maiores
religiões do mundo (judaísmo, cristianismo e islamismo). Desse modo, à luz da
razão, muito dos conteúdos das escrituras não passam de narrativas lendárias. E
sob o prisma científico, esses textos
não de ter inegável valor histórico, cultural e literário.
Entre
os profissionais da ciência, que se debruçam sobre o estudo de escrituras sagradas,
arqueólogos e antropólogos apresentam aqueles textos provas concretas da
existência da visão cosmológica de povos antigos como os hebreus e os árabes, descendentes
do personagem Abraão. Diz-se personagem porque os estudiosos não garantem
cientificamente ter existido de fato um homem real chamado Abraão.
Um indivíduo na condição de adepto, qualquer
que seja seu credo religioso, pode e deve, caso se permita, aprofundar nos
estudos da crença que professa. No entanto, ao fazê-lo de um ponto de vista
científico, consultando os pesquisadores, a fim de superar a visão superficial,
própria do senso comum. E para superar o reducionismo na compreensão das
‘’coisas divinas’’, não precisamos ser todos cientistas ou teólogos. É só
colocar sua crença entre o polo da razão e da fé cega.
Em sã
consciência, isto é, livre das amarras dos dogmas, seria necessária uma boa
dose de coragem para permitir colocar sua fé ou crença, na condição de objeto
de uma análise baseada nos critérios de cientificidade, no mínimo, fundada num
bom senso.
O indivíduo, em geral, embutido de uma
orgulhosa, e nem sempre fé sincera, só excepcionalmente teria motivos para pôr
em questionamento suas convicções religiosas. O risco seria demasiadamente
grande, pois o que para ele hoje representa uma verdade inabalável, amanhã
poderá se transformar num castelo de areia.
É possível, dada a evolução do pensamento
religioso, adotarmos uma fé que não se baseia mais no princípio: “não
compreenda, creia’’, e passarmos a adotar o princípio inverso: ‘’antes de crer,
compreenda’’. Trata-se do princípio da fé raciocinada. A fé cega, infelizmente,
tem conduzido milhões de pessoas ao fanatismo e à loucura. Haverá um tempo no
qual não existirá mais espaço para a cegueira da fé irracional.
A fé irracional, vale lembrar, tem sido usada
desde tempos imemoriais, por alguns inescrupulosos, para ludibriar as pessoas.
Eles transformam o sagrado em profano, isto é, fazem da religião uma mercadoria
que aumenta seu valor na medida em que aumenta os adeptos da fé cega. Esse tipo
de fé levou milhares de pessoas ao crime coletivo como nas Cruzadas.
Atualmente, pelo menos nas sociedades democráticas, todos temos opção de
escolha.
É preciso notar que não se está aqui
questionando a existência de Deus. Questionar a Bíblia, o Alcorão, a Torá, o
Talmude ou qualquer escritura considerada sagrada, não corresponde negar a
existência da religiosidade humana. Acreditar em Deus diz respeito à opção
religiosa de cada um garantida constitucionalmente.
A questão diz
respeito à fé que não se fundamenta mais numa religiosidade cega, irracional.
Mas sim na razão, na fé raciocinada. Ela é necessária, sobretudo em nossos dias,
porque os atuais falsos profetas deixarão de ter plateias e terão que mudar de
profissão. A fé raciocinada acaba com a vulnerabilidade frente à falácia, à
demagogia, ao sofisma, ao engodo, à mentira e à retórica mesquinha dos
oportunistas de plantão.
Faço lembrar, para concluir, as palavras
cunhadas no campo do espiritualismo científico: ‘’NÃO HÁ FÉ INABALÁVEL SENÃO AQUELA QUE PODE ENCARAR A RAZÃO FACE A
FACE, EM TODAS AS ÉPOCAS DA HUMANIDADE’’.
Autor: Flávio Nunes
Brito.MSC. Estudos Linguísticos pela UFPA (2005).Acadêmico de Direito da
Faculdade Estácio-AP
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