sexta-feira, 13 de abril de 2018

Pioneirismo


O Crioulo Branco vivia de uma aposentadoria do INSS e gostava de ficar em casa ouvindo as notícias do rádio e da televisão; havia deixado de ir a campo de futebol, e na casa de poucos cômodos dividia espaço com pessoas que amava; fazia questão de dizer que, em sua casa, visita não pagava imposto.
Mr George Thomas - "O Crioulo Branco" - O Pioneiro de Mãos Santas.


Reinaldo Coelho
Esta semana mais uma vez encontramos entre as crônicas do Jornalista e pioneiro do rádio amapaense João Silva, reminiscências históricas sobre o Amapá e seus personagens pioneiros. Esta semana falamos sobre Mr. George Thomas, que ninguém conhecia e hoje dificilmente sabia quem era o dono desse nome, mas se falarmos sobre o Crioulo Branco, de imediato, cada um dos antigos de Macapá, tem uma história e um causo a contar sobre ele, principalmente os jogadores de futebol, que tiveram suas pernas e pés, salvos pelo conhecimento naturalista deste homem que teve suas origens nas Antilhas escolheu o Amapá, para se assentar. Mas, como frisa João Silva seu dom da cura se estendia a todos os que procuravam e eram recebidos em sua residência localizada na Raimundo Alvarez da Costa, entre a General Rondon e Tiradentes, na fronteira entre o Bairro Central e o Laguinho.

George Thomas, assim chamava-se o Pioneiro centenário da foto, que viveu no Amapá, desde 1938, conhecido como “Crioulo Branco”.  Era um cidadão, magro, baixinho, de sorriso acanhado; homem bondoso que aportou suas esperanças em Macapá, vindo de Santa Lúcia, uma ilha de  origem vulcânica, situada nas Pequenas Antilhas, no Caribe, próximo à Martinica, São Vicente e Granadinas e Barbados, América Central.

Mr George vai ser lembrado pelas mãos santas dos nossos campos de futebol. Não só dos nossos campos de futebol, já que toda Macapá – crianças, jovens, idosos - o procurou por muito tempo como ‘solução’ para espinhela caída, estiramentos, bursite, tendinite, pé torcido, dor nas cadeiras, tornozelos inchados, braços e ombros deslocados no calor de uma partida de futebol ou não. As mãos de Thomas, o massagista, fizeram fama e prodígios, graças aos unguentos cuja fórmula não ensinava a ninguém, era segredo de estado.
Mas justiça se lhe faça: atendia a todos com a mesma fidalguia, inclusive jogadores dos clubes adversários, já que sua paixão sempre fora o São José, a quem dava um pouco mais daquilo que dava aos outros. Devoção ao Padroeiro começou no tempo do presidente Messias do Espírito Santo, anos depois que chegou à Macapá, e viu a classe do Segura-o-Balde na meta tricolor.
Percorreu o Araguary, o Vila Nova acima da região de Serra do Navio atrás de ouro e diamante; depois ingressou na força de trabalho que construiu as primeiras obras do Território do Amapá, já no Governo Janary Nunes, na década de 40. No futebol, sua entrega ao São José era comovente, de acompanhar os treinos, trabalhar de massagista nos jogos oficiais, várias vezes com a missão de colocar em forma craques lesionados a poucos dias de uma decisão.
O Crioulo Branco completou 100 anos no dia 18 de maio de 2006, em sua residência, na Raimundo Álvares da Costa, trecho do Laguinho arborizado ainda pela Turma do Buraco, como fez questão de dizer. O cronista esteve lá. A recepção foi calorosa, estava de bom humor – filhos, netos, bisnetos, todos amapaenses, cercando o patriarca sentado na sua cadeira preferida!
Na verdade, o Crioulo Branco vivia de uma aposentadoria do INSS e gostava de ficar em casa ouvindo as notícias do rádio e da televisão;  havia deixado de ir a campo de futebol, e na casa de poucos cômodos dividia espaço com pessoas que amava; fazia questão de dizer que, em sua casa, visita não pagava imposto.
Thomas fazia questão de declarar seu amor ao Amapá, lugar a quem devia tudo que possuía; Tudo que não era muita coisa, mas o suficiente para descansar dignamente de um século de travessia em que nem todos têm a sorte do Crioulo Branco.
Ver o próprio centenário e mais um pouco disso, lúcido, gozando saúde, declarando amor ao povo de Macapá, cidade que enlaçou como se fosse a árvore mais bonita da floresta amazônica, onde repousa para sempre, como era seu desejo, desde que se foi, em maio de 2012…
(Texto de João Silva, publicado e adaptado para o blog “Porta-Retrato” e para a  Editoria Pioneirismo do TA)

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