PISCICULTURA
NO AMAPÁ
CADEIA
PRODUTIVA: UM NOVO COMEÇO
Joselito
Santos Abrantes
A criação de peixes em cativeiro no Brasil está em expansão e o país
fechou o ano de 2016 com um crescimento de 10%. O faturamento ficou em R$ 4,5
bilhões. A indústria do peixe emprega, entre tanques, frigoríficos, comércio e
indústrias, cerca de um milhão de pessoas.
Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), a aquicultura terá expansão nos próximos anos no Brasil.
Ainda de acordo com o relatório da FAO, o consumo de pescados no Brasil chegará
a 12,7 quilos em 2025, cerca de 32% a mais do que os 9,6 quilos consumidos por
ano entre 2013 e 2015.
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Joselito Abrantes |
Dados do relatório da FAO apontam que em dez anos a
produção de pescados
em cativeiro no Brasil mais do que dobrará. A expectativa é que em 2025 a
produção já seja de 1,145 milhão de toneladas.
A Piscicultura brasileira
produziu 691.700 toneladas de peixes de cultivo em 2017. Esse resultado é 8%
superior ao de 2016 (640.510 t). Rondônia e Amazonas (região Norte), Mato
Grosso e Goiás (região Centro-Oeste) e Maranhão (região Nordeste) são os
maiores produtores de peixes nativos do Brasil. A pesquisa da Associação
Brasileira da Piscicultura (PEIXE BR) não detalha, em percentual, as espécies
nativas mais produzidas, porém a liderança é do Tambaqui, Pirapitinga, Pacu e
seus híbridos, principalmente Tambatinga.
A piscicultura continental é
bastante promissora na Amazônia Brasileira, pois além da existência de uma
grande malha hidrográfica possui temperatura constante durante todo o ano e
variedade de espécies nativas com potencial para o cultivo. Além disso, o peixe
é um dos recursos naturais mais abundantes e consumidos na região, onde o
consumo per capita é de 55 kg/ano (MACEDO-VIEGAS et al., 2000; SUFRAMA, 2003).
O número estimado de espécies biológicas gira em torno de 2.500, o que
representa aproximadamente 8% dos peixes de todo o mundo, e que corresponde a
30% dos peixes de água doce do mundo e a 75% dos peixes de água doce do Brasil
(SUFRAMA, 2003).
Potencial
amapaense
O Estado do Amapá apresenta
grande potencial para o crescimento da piscicultura continental, por apresentar
também uma ampla variedade de espécies, disponibilidade de recursos hídricos e
clima propício ao longo de todo o ano, sem período de entressafra como ocorre
em outras regiões brasileiras (GAMA, 2008). No Estado do Amapá, há 269
pisciculturas, a maioria está localizada no Município de Macapá (55,4%) e
municípios próximos, como Santana, Mazagão e Porto Grande (21,2%). Nessas
propriedades, as pisciculturas correspondem a 94,7%; pesque-pague a 3,5% e 1,7%
mantém piscicultura e pesque-pague (EMBRAPA/AP, 2011).
De acordo com a Embrapa a
maioria dessas pisciculturas usa o sistema de cultivo semi-intensivo ou o
sistema intensivo. Além disso, essas pisciculturas são de pequeno porte e
produzem uma média de 2,0 – 3,0 toneladas/ano. No período de 2000 a 2010, a
produção da piscicultura no Estado do Amapá saltou de 198 para 1.000
toneladas/ano. Este estudo aponta que essa produção de 2010 representou o
incremento de 53,2% em relação a 2009 e foi estimada no valor de R$ 10 milhões.
A pesquisa apontou um
aumento significativo na produção a partir de 2005, devido ao início da
política de financiamento do Governo Waldez, para implantação de pisciculturas,
por meio da Pescap, demonstrando que o acesso ao financiamento poderia aumentar
o crescimento dessa atividade no Estado do Amapá, para muitos produtores, em
especial para o pequeno produtor, que é a maioria.
Falta
infraestrutura
O Estudo ainda evidenciou
que o Estado do Amapá quase não possui infraestrutura para o processo de
beneficiamento, armazenamento e distribuição de pescado. A pouca estrutura
existente beneficia somente peixes oriundos da pesca extrativista. Não há uma
produção da aquicultura suficiente para beneficiamento e, em geral, o hábito
local, assim como na Amazônia, é de consumir peixe fresco e inteiro. Com uma
produção suficiente da aquicultura, incentivos de infraestrutura incluiriam a
criação de estabelecimentos para beneficiamento do pescado, que além de
auxiliar na venda imediata, no caso de peixes frescos, iriam beneficiar também
pescados da pesca extrativa. A industrialização permite a popularização do
consumo do produto, além da consolidação da atividade com a mudança significativa
na forma de apresentação dos produtos (LEE; SARPEDONTI, 2008).
Os principais entraves
apontados pelos piscicultores para a expansão da atividade no Estado do Amapá
conforme o estudo e reuniões realizadas no âmbito da Câmara Setorial de
Produção de Alimentos foram: altos preços das rações; atraso demasiado na
liberação da licença ambiental; carência de financiamento (linha de crédito
específica para esse segmento); processo burocrático para certificação
sanitária (SIE e SIF); falta de alevinos no mercado local; falta do título de
propriedade da terra da piscicultura, dentre outros fatores.
Quanto a Licença Ambiental,
esse gargalo foi minimizado quando o então prefeito Roberto Góes, sancionou a
LEI 1.876/2011, que, através de uma recomendação federal, deu poderes para o
município de Macapá realizar o Licenciamento Ambiental, e isto trouxe um alivio
para a classe e um crescimento da atividade. Hoje a Lei já favorece 09
municípios, fruto da parceria e apoio do SEBRAE-AP e do Instituto AQUIAP,
presidido por Emanuel Brito, que foi o mentor da Lei. Essa legislação que
desburocratiza e fomenta a piscicultura de forma organizada foi apresentada
pela AQUIAP no âmbito da Câmara Setorial de Produção de Alimentos do Amapá e
por meio da iniciativa do Governador está sendo encaminhada para aprovação da
Assembleia Legislativa.
Com a
expansão do agronegócio no cerrado amapaense, especialmente, com a produção de
soja e milho, a implantação de duas fábricas de ração animal favorecerão em
curto espaço de tempo um ambiente de negócios propício para a verticalização da
cadeia produtiva da piscicultura no Amapá, vide figura abaixo.
O estudo da Embrapa
corroborado pelas instituições que congregam a Câmara Setorial de Produção de
Alimentos revelou que a piscicultura no Estado do Amapá, que é quase
exclusivamente familiar, apresenta diversos empecilhos no crescimento e
consolidação da atividade, que estão ainda por ser resolvidos. Portanto, para a
melhoria da piscicultura como atividade, recomendam-se as seguintes ações
estratégicas:
• Realização prévia de
estudos sobre o solo, água e topografia para a seleção do local de construção
dos viveiros de cultivo, evitando assim a instalação em áreas de várzeas, as
quais são de preservação ambiental permanente (APP), e em outros locais
inapropriados.
• Centralização da compra de
rações, alevinos e outros insumos na AQUIAP.
• Licenciamento das
pisciculturas e cadastramento junto ao Ministério da Pesca e Aquicultura, que
além de ser ambientalmente correto, facilita ao produtor o comércio dos peixes,
conforme estabelece a nova legislação já debatida na Câmara Setorial.
• Tratamento dos efluentes
das pisciculturas, pelo menos com o método de decantação, antes da água ser
devolvida para os rios e igarapés.
• Maior cuidado com a água
de abastecimento dos viveiros, com telas apropriadas na entrada, para evitar
peixes invasores que além de competir por espaço e alimentos com os peixes do
cultivo, trazem consigo parasitos novos que podem causar problemas de doenças e
até devastação do plantel.
• Visitas técnicas de
extensionistas qualificados para monitoramento da qualidade da água e para
orientações adequadas para o cálculo correto de rações, do tamanho
granulometria para cada fase, reclassificação dos peixes quanto ao tamanho mais
apropriado para cada fase do cultivo e prevenções de doenças.
• Realização de mais cursos
para capacitação dos piscicultores e os indivíduos envolvidos na atividade de
piscicultura.
• Desenvolvimento de
projetos de incentivo à pesquisa dos melhores sistemas de produção para essa
região do estuário amazônico, bem como de espécies nativas de interesse
regional.
• Fiscalização sanitária e
tributária, principalmente, no transporte de peixes entre localidade estadual e
interestadual.
• Orientação junto a
produtores sobre a importância da implementação de medidas profiláticas na
piscicultura, reduzindo com isto a perda com mortalidades.
• Construção e melhoria de
estradas, uma vez que a dificuldade de transporte afeta diretamente a
disponibilidade de alevinos, ração e outros insumos, bem como a distribuição da
produção e o acesso de extensionistas.
• Pesquisa e estudo de
mercado para conhecimento da capacidade de suporte do crescimento da atividade.
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