sábado, 30 de junho de 2018

Tráfico de drogas via postal





Além dos assaltos aos carteiros no Amapá, grupos criminosos utilizam o serviço postal para tráfico de drogas. As apreensões são contínuas pela Polícia Federal e Correios do Amapá.

Reinaldo Coelho

Para que uma correspondência chegue ao destino, os carteiros precisam enfrentar barreiras diárias que os remetentes nem imaginam. Além dos cães raivosos, das caixas de correio mal posicionadas e da receptividade ruim de alguns destinatários, esses profissionais são vítimas constantes de assaltos e muitas das vezes são ‘mensageiros’ dos traficantes de drogas que utilizam a postagem para o tráfico de drogas em todo o território nacional.
Bem embalada, com garantia e acima de qualquer suspeita. Entre faturas, encomendas e cartas, os mais variados tipos de drogas são entregues pelos Correios nas casas dos usuários. A comodidade de fazer compras on-line que já conquistou o brasileiro é usada agora por traficantes para aumentar o lucro e expandir o mercado. A prática é investigada e combatida pela Polícia Federal do Estado do Amapá, com o apoio da Superintendência dos Correios local.
Durante uma entrevista com o superintendente regional dos Correios no Amapá, Heráclito Mendes Junior, ele destacou a grande incidência de ações criminosas com referência aos tráfico de drogas, através de postagens e que os Correios em todo o Brasil adotam ações em conjunto com os órgãos de fiscalização para combater o envio e o recebimento de objetos ilícitos nas remessas postais. “Além das ações são desenvolvidas com o uso de equipamentos de raios-x e espectrômetros de massa (que identificam substâncias por meio da análise de micropartículas), a Polícia Federal monitora esses ilícitos nos nossos terminais de cargas”.
Heráclito Mendes destaca que já foram feitas muitas identificações desse tipo de trafico Via Postal. “Diversas e continuamente. E são todos os tipos de drogas, cocaína, maconha, ecstasy, armas”.
O mecanismo utilizado pelos criminosos são embalagens comuns, mas com proteção interna com intenção de driblar o reconhecimento do produto entorpecente. “Mas como o scanner é exclusivo para esse serviço é difícil não ser identificado e apreendido”.
Os criminosos vendem as drogas por meio de um perfil falso nas redes sociais. Após o pedido de encomenda, os clientes faziam um depósito bancário e a droga – LSD ou ecstasy – chegava em casa pelo correio. Os entorpecentes eram fabricados pelos próprios traficantes.
A dificuldade maior é conseguir encontrar o remetente, pois os criminosos utilizam endereços e nomes falsos, porém ao tentarem resgatar a mercadoria nas agências do correio, o destinatário é preso em flagrante.

Carteiros assaltados

Outra demanda refere-se à segurança dos carteiros, tanto dentro das agências, quanto nas entregas em domicílios. Um deles que trabalha há 13 anos na função e não quis ser identificado fala sobre o medo de entregar correspondências em áreas periféricas e de difícil acesso.
"A demora na entrega não é culpa nossa, muitos colegas fazem das tripas coração para fazer o trabalho certo, fazemos de tudo. Às vezes, as cargas demoram para chegar. Tenho colegas que sofreram agressão de pessoas mal-humoradas, roubos de correspondência, além do clima quente de Macapá todos os dias", lamenta Palheta.
Além dessa constitucionalização feita um dos maiores problemas e crucial, devido lidar com vidas humanas é com referência a segurança dos carteiros, que no Amapá chegam a 150, dentro do universo de 384 servidores distribuídos em todo o Estado. “Os nossos carteiros estão diariamente nas ruas e suscetíveis a violência que acontece no seio da sociedade. O carteiro que está com encomendas postais, é posseiro de um patrimônio público, pois a carta ou afins, ainda não são do cliente, e sofre um assalto, quem age é a Polícia Federal”, resume Heráclito.

Heraclito Mendes da Costa Junior,
superintendente dos Correios no Amapá.
O superintendente regional dos Correios detalha que existe uma recomendação para que os carteiros não trabalhem com equipamentos pessoais, caso de celular e porta cédulas. E essas ações as pessoas físicas do carteiro que geram os maiores transtornos. “No Amapá, em 2018, já tivemos quatro eventos dessa natureza, pois, com o uso de smartphones, os carteiros atualizam em tempo real as informações sobre as entregas de encomendas. Todos os smartphones utilizados pelos carteiros contam com mecanismos de segurança que bloqueia remotamente seu funcionamento em caso de furto ou roubo. Nos quatro aparelhos roubados, três já foram localizados pela Polícia Federal, recuperados e os ladrões presos”
Os Correios do Amapá recomendam, inclusive em manuais, que os carteiros atuem nas ruas sem os objetos pessoais como celulares, fones de ouvido, carteiras e joias, que acabam chamando a atenção dos criminosos. Além disso, acrescentou que medidas de segurança são tomadas a partir do registro dos crimes através de boletins de ocorrência”.
Além dessas estratégias utilizadas no Amapá, para prevenir os roubos a regional utiliza a entrega em mutirão, principalmente nas áreas de riscos de Macapá e Santana, que os carteiros amapaenses não percorrem. Esses pontos considerados pelos correios como área de risco, são áreas que tem sido mais frequentes os assaltos ao Carteiros: Pedrinhas, Beco da CPA, Araxá, Congos, Jardim Marco Zero, Baixada do Pará, Perpétuo Socorro, em Santana – Baixada do Ambrósio.
Heráclito Mendes detalha que esse mutirão é organizado com mais de dois carteiros e um na supervisão, sempre avisando o policiamento de área. “Essa é uma maneira de minimizar e neutralizar qualquer ação delituosa. Não foram registrados assaltos a veículos de entrega de postagens, mas ao motorista desse carro já ocorreu”.
Decírio Belém, representante sindical dos carteiros
A reportagem também conversou com Decírio Belém, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa de Correios e Telégrafos no Amapá (SINTECT-AP), que acrescentou que as vítimas são os carteiros que fazem entregas de bicicleta ou a pé, mas as correspondências não são levadas. “Os carteiros e os Correios, em si, tornaram-se alvos frequentes de criminosos. Sempre pedimos para que durante as entregas os profissionais não levem celulares ou documentos próprios”, lembrou.
Quanto a pauta sobre o reconhecimento das áreas de risco já é uma cobrança antiga do sindicato, “Enviamos ofício ao Comando da Polícia Militar e Secretaria de Segurança solicitando o mapeamento das áreas potencialmente de riscos no Estado (Macapá e Santana), tanto a Secretária de Segurança como o Comando da PM, nos responderam que não existem áreas de risco catalogadas, mais reconhecem que determinadas áreas/bairros possuem índice de violência maior”.
As áreas que tem sido mais frequentes os assaltos ao Carteiros são: Pedrinhas, Beco da CPA, Araxá, Congós, Jardim Marco Zero, Baixada do Para, Perpétuo Socorro, em Santana – Baixada do Ambrósio. “Em todos os casos de assaltos os Carteiros são agredidos e ameaçados de morte, levam seus objetos pessoas (carteiras e celulares), como objetos postais (encomendas, SEDEX)”.

Os Correios agora estão utilizando Smartphone para agilizar o envio das informações da entrega das encomendas, alguns já foram levados pelos assaltantes. “Já existem algumas áreas aqui em Macapá que os Carteiros não estão mais entregando Cartas (Jardim Marco Zero e Baixada do Para), nesses dois locais só com escolta devido ao grande número de assaltos. A polícia Federal está realizando um trabalho nesse sentido”.
 
Carteiros de todo o país já utilizam smartphones para atualizar em tempo real informações sobre encomendas
Uma confiabilidade destroçada

Clientes da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) ainda tem as características como economia, segurança, regularidade confiabilidade – antes orgulho dos Correios – têm deixado de ser sinônimo dos serviços da empresa. A estatal, que outrora podia se vangloriar de feitos superlativos, como a "maior operação logística do planeta", de ter realizado o "maior concurso público da história do país" e de ser "a única empresa presente em 100% dos municípios do Brasil", hoje amarga prejuízos econômicos e sua reputação, em meio à mais grave crise financeira de seus 355 anos de história.

Enquanto colocavam em vigor medidas de redução de custos e de reestruturação da folha de pagamentos, os Correios continua caindo no conceito de seus clientes – e de toda a sociedade. Reclamações sobre correspondências chegando atrasadas (quando chegam), encomendas extraviadas, entregas retidas e uma peculiar necessidade de, na alegada ausência de carteiros, o cliente ter de ir até um Centro de Distribuição buscar remessas em vez de recebê-las em casa têm se somado e minado a confiança que um dia se teve na empresa, que já foi considerada referência nacional e apontada como responsável por um dos melhores serviço postais do mundo.
Assaltos a carteiros têm sido constantes no Amapá, diz sindicato (Foto John PachecoG1)


Correios no Amapá

A reportagem conversou com Heráclito Mendes da Costa Junior, Superintendente dos Correios no Amapá e funcionário de carreira da empresa desde julho de 2013. Nos Correios já chefiou a Seção de Segurança Empresarial-SESE e Gerência de Negócios-GENEG
De acordo com o superintendente Heráclito Mendes, os problemas com a EBCT, quando se tornou Estopim do escândalo do mensalão, pois os Correios virou feudo político. “Começou com uma propina para um servidor na época, logo demitido. E como uma empresa pública, o correios tem influência políticas e na atual conjuntura os ministérios são designados a partidos políticos. A partir disso assumem as gestões pessoas de foras da EBCT, que desconhecem a realidade da casa. Hoje, em todas as superintendências, estão tendo governanças por servidores da casa”.
As crises políticas e moral que desde 2013 vem afligindo a sociedade brasileira, atingiu os Correios, pois ele está inserido nessa sociedade. “Os correios é a única empresa que está em todos os municípios brasileiros e não fica ao largo dessas questões e sofre com essa situações”.
Com 355 anos os Correios precisa se adaptar à realidade das novas tecnologias. Quanto tempo faz que você não recebe e não envia uma carta? Faz tempo, essa realidade é de muitas pessoas. Em média de dez pessoas, ao menos cinco não recebem ou não enviam cartas e é essa ‘cartinha’ é que o monopólio dos Correios, em tese, seria o monopólio de mercado de uma empresa público de um serviço que está em declínio.
“Há cerca de dez anos atrás essa receita representava 75% da rentabilidade da empresa postal. E agora estamos trabalhando no serviço de encomendas. As que são feitas através de empresas que vendem pela internet”.

Enfrentando a crise

A partir de 2015 o Brasil começou a passar pela Crise econômica que abalou os alicerces de toda a sociedade brasileira e dos órgãos públicos, principalmente os prestadores de serviços, caso dos Correios. “Desde 2015 saímos de um cenário de lucro operacional para prejuízos (2015 a 2016) que chegou na ordem de R$ 4 bilhões. Em 2017 tivemos a oportunidade de ter uma nova gestão e fechamos no azul, na ordem de R$ 700 milhões”, detalha Heráclito Mendes.
Com esse resultado ficou mantido que a empresa dos Correios é rentável, que dá resultados. “Para manter essa situação temos procurado manter o serviço de qualidade, melhorando essa relação com o nosso usuário, que acabou com tempo arranhado, não foi por culpa de nossos funcionários, mas pelo descrédito que o brasileiro está tendo com a política que rege o País. É o descontentamento social”.
Porém a realidade dos Correios no Amapá está na contramão da realidade brasileira, enquanto lá fora estão sendo fechadas agências, aqui está abrindo novas agências. “O Brasil reduziu pessoal, aqui reduzimos, mas não perdemos a qualidade operacional. Em 2017 éramos uma das últimas superintendências e hoje somos a terceira melhor operacionalmente. Tudo que chega no Amapá, entregamos”.

Logística

Um dos gargalos na operacionalização do Correio no Amapá e a situação geográfica do Estado. “Nós somos um estado-ilha, pois não temos interligações rodoviárias e dependemos do Estado do Pará, qualquer problema lá nos afeta”, define o superintendente no Amapá.

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