sábado, 30 de junho de 2018

Por que evito usar o termo “literatura amapaense”? – Parte 1



        No primeiro texto que produzi para esta coluna no jornal Tribuna Amapaense, texto cujo título é “Uma nova esperança”, eu mencionei que prefiro não utilizar a nomenclatura “literatura amapaense” e disse que daria a explicação em outro momento. Pois bem, esse momento chegou.
        Basicamente, posso dizer com segurança que são dois motivos principais que me levam a evitar utilizar esse termo: a restrição semântica que o adjetivo “amapaense” naturalmente implica e a minha ojeriza a quase qualquer forma de separatismo. Esses dois motivos, na verdade, não são “principais”, mas sim “globais”, pois englobam variados outros motivos que acabam se relacionando uns aos outros. O motivo da restrição semântica que o adjetivo “amapaense” implica, por sinal, se relaciona também com o separatismo que eu identifico, mas os trabalharei de maneira separada, começando pelo primeiro mencionado.
        Literatura amapaense pode ser entendida como uma palavra composta e que se difere da literatura, da literatura brasileira, da literatura anglófona e da literatura jurídica, por exemplo. O termo se compõe do substantivo “literatura” e do adjetivo “amapaense” e, da mesma maneira que o sentido do termo “amor materno” pode ser escrito de outra forma, no caso, “amor de mãe”, “literatura amapaense” acaba sendo a mesma coisa que “literatura do Amapá” e é aqui que começam os problemas.
        O que é essa “literatura do Amapá”? O adjetivo “amapaense” pertence à categoria dos adjetivos pátrios, que são aqueles que identificam algo ou alguém como relacionado à determinada pátria, que nada mais é do que o país em que se nasce e ao qual se pertence como cidadão ou a parte do país em que se nasceu, ou seja, é a sua terra natal. Logo, o entendimento mais imediato e lógico que se pode ter a respeito do sentido do termo em questão é que ele se refere à literatura (de teor artístico) produzida por indivíduos naturais da região denominada como Amapá. Beleza?
        O problema nisso é que boa parte – eu diria a maioria – da “literatura amapaense” simplesmente foi e continua sendo produzida por indivíduos que não são naturais do Amapá (há aqueles que se consideram, mas não o são), como muitos dos poetas das chamadas “Primeira e Segunda Geração Poética do Amapá” (isso, aliás, é outro assunto a ser abordado). Estou, com isso, querendo dizer que os escritores que não são amapaenses de nascimento não fazem parte da “literatura amapaense”? Não, o que eu estou dizendo é que esse termo é equivocado mesmo e não deveria ser utilizado, já que a semântica dele exclui esses escritores.
        Esse, porém, não é o único entendimento que as pessoas acabam tendo em relação ao termo “literatura amapaense”, pois muitas pessoas entendem que determinado poema, conto, crônica, novela, romance ou o que quer que seja só é merecedor de ser classificado como “literatura amapaense” se e somente se tiver como temática a região e as coisas identificadas como próprias dela. Esse entendimento é outro equívoco, mas falarei especificamente sobre ele na continuação deste texto.


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