Senegal: "Os leões não morrem, dormem".
Único técnico negro na Copa: Aliou Cissé
O jovem técnico do Senegal Aliou Cissé é o
único negro na Copa do Mundo da Rússia, e com o menor salário rompe com os
estereótipos, procurando comandar a equipe no mesmo nível que alcançou em 2002
quando ele era o capitão em campo na disputa pela Taça do Mundo, na Coréia do
Sul e Japão.
O treinador que pilotou a classificação e a
estreia do Senegal em uma Copa, Bruno Metsu, era chamado de "leão
branco" e morreu em 2013.
Entre as escolhas desse mito Metsu, até hoje
homenageada pelos senegaleses estava o meio-campista, líder e capitão daquela
equipe, o homem de máxima confiança de Metsu, é agora, na segunda vez que o
Senegal ingressa na grande vitrine do futebol, o treinador da seleção. Aliou
Cissé, de 42 anos, é o treinador mais jovem da Copa, também o único negro e o
que tem o pior salário, são 200.000 euros anuais (cerca de 870.000 reais), ou
seja R$ 72 mil/mês.
Em 24 participações de seleções subsaarianas,
somente em cinco oportunidades, os técnicos nasceram no país que representavam.
Os demais eram europeus. Nesta Copa da Rússia a Nigéria se apresenta com o
alemão Gernot Rohr à frente. Ele encarna um repetido estereótipo, o do técnico
que transita por vários destinos do continente negro: antes de chegar à sua
atual equipe, tinha passado pelas de Burkina Fasso, Níger e Gabão.
Para Cissé esses debates o incomodam pois
para ele o futebol é um esporte universal e a cor da pele pouco importa. Ele
espera que se somem mais companheiros no futuro e possam dar o passo que deu
porque já tem muitos jogadores africanos nos melhores campeonatos.
Ele está há três anos à frente do Senegal, depois
de substituir o mítico ex-meio-campista francês Alain Giresse. Na Rússia é
acompanhado por três ex-companheiros daquela epopeia de 2002, Tony Silva,
Lamine Diatta e Omar Daf.
"Há menos treinadores negros porque
acham que somos estúpidos", clamou em sua época alguém que foi campeão do
mundo como zagueiro, Lilian Thuram. "Quando era jovem havia gente que
pensava que os negros não podiam atuar na defesa ou no gol porque somos fortes
e ágeis, mas não tínhamos capacidade para nos concentrar", denunciou.
Quando se observa os cinco grandes campeonatos europeus, somente três equipes
de um total de 98 acabaram com treinadores negros no comando: o holandês
Clarence Seedorf no Deportivo, o inglês nacionalizado irlandês Chris Hughton,
no Brighton, e o caledônio de passaporte francês Antoine Kombouaré, no
Guingamp.
Cissé chegou com apenas 16 anos à França.
Logo se integrou nas categorias de base do Lille e ali conheceu Metsu. Mais
tarde estiveram juntos já como técnico e jogador no Sedán antes de se voltarem
a ver na seleção. Diz que com ele aprendeu o rigor e ao mesmo tempo a
proximidade com os jogadores. Durante uma coletiva ele explicou que estava
muito preparado taticamente e procurava entender que por trás de um jogador há
sempre uma pessoa. Também explicou qual é a mentalidade de sua equipe.
"Somos africanos, queremos viver bem juntos, sentir o prazer de desfrutar
de tudo o que fazemos. Essa é nossa história e nossa cultura".
Mesmo em meio ao inédito predomínio de
seleções da "África Branca", a sensação do continente nesta primeira
semana de Mundial na Rússia é a única seleção que somou quatro pontos: Senegal,
da África Negra.
No domingo contra o Japão a equipe de Senegal
empatou com o Japão por 2 a 2 conquistando seu primeiro ponto e a vitória
senegalesa por 2 a 1 contra a Polônia, na terça-feira (19), mudou o status da
seleção que está de volta à Copa do Mundo após 16 anos ausente. No único
Mundial que participou, em 2002, Senegal terminou na sétima posição.
Em Moscou eram poucos, mas o potencial
demonstrado por Senegal na primeira rodada da Copa do Mundo é para algo próximo
de unir novamente a África em torno de uma seleção. Como em 2002, Cissé pode
conduzir sua equipe às oitavas de final e se transformar no segundo treinador
africano a chegar às oitavas de final de uma Copa – o primeiro foi o nigeriano
Stephen Keshi.
Na África, uma lenda faz sucesso: "Os
leões não morrem, dormem".
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