Bancada desfalcada
“Naquela mesa está
faltando ele, e a saudade dele está doendo em mim” ... Esse refrão imortalizado na voz de
Nelson Gonsalves traduziu o meu sentimento com a perda do Juracy da Silva
Freitas. Conheci o “Jupaty”, em 1986, na Associação Comercial e Industrial do
Amapá. Mas só em 2011 estabelecemos uma amizade fraterna e sincera. Com um
artigo de sua lavra, publicado no Tribuna Amapaense, em maio daquele ano,
passamos a ter relações estreitas e fui, então conhecendo um homem sério e
brincalhão. Jupaty era dotado de uma sabedoria capaz de balancear o
conhecimento científico e o empirismo, base natural do saber popular.
Nossa relação se estreitou ainda mais
quando fomos trabalhar juntos na Rádio 102,9 FM, no programa Tribuna no Rádio.
Ao assumir o cargo de Diretor Presidente da Rádio Difusora de Macapá, em 2015,
não hesitei em convidá-lo para ser o diretor administrativo da emissora. Lá se
foram mais três anos e cinco meses de uma relação intensa, de irmãos. Dividimos
novamente a bancada na RDM, nos programas “Jornal da Manhã” e “Amapá em Pauta”.
Ali, protagonizamos grandes embates e comentários propositivos sobre temas
ásperos, complexos da vida do Amapá, do Brasil e do mundo.
Juracy foi e ficará na memória como
homem austero, inquieto e sempre disponível para ensinar. Apesar das múltiplas
funções que ocupou, a da sua preferência era, sem dúvida, a de professor.
Sentia seus olhos brilharem quando falava do magistério. Ele não escondia de
ninguém a mágoa de ter sido impedido de lecionar no ensino superior, o fez com
distinção por um curto período.
No seu velório, Dr. Iraçu Colares
realçou um detalhe engraçado de nossa convivência. – Por alguns dias Iraçu
sentou-se à bancada do Jornal da Manhã da Rádio Difusora, apelidada
carinhosamente pelo jornalista e humorista Luiz Trindade de “Bancada da
Bengala”. Isso em função da elevada idade de seus membros: Hercílio Mescouto
(85), Azevedo Costa (79), Rodolfo Juarez (77), o septuagenário Iraçu e eu,
sexagenário. Nossa bancada, realmente, se desfez. Está incompleta e jamais irá
se completar. Juracy é insubstituível e não adianta dizerem, ninguém é. Sim,
somos insubstituíveis. Cada um de nós guardamos peculiaridades ímpares.
Juracy não resistiu à ausência, como
os escravos. Morreu de Banzo. Saudade da sua eterna namorada Maria Bastos Freitas.
Depois que ela se foi, o nosso Jupaty nunca mais foi o mesmo. Percebi sua
inapetência para as coisas. Aos poucos, num silêncio misterioso, foi saindo da
bancada do Jornal da Manhã. Limitou-se a olhar de fora do aquário e cutucar a
todos com um sorriso pálido e, por vezes, arriscava entrar no estúdio. Mas
apenas para nos cumprimentar. Já não tinha a verve de um orador inflamado, que
colocava as palavras com vigor e de forma escorreita.
Para Juracy a distância desse plano
se deu após muitos anos da doença chegar de forma descarada e acintosa. A
saudade de sua Maria foi a causa do desiderato que culminou com seu desembarque
do Trem Bala, parceiro. Eu não choro a felicidade, eu louvo a vontade do Deus
Todo Poderoso Criador do Céu e da Terra, Senhor da Vida e da Morte. Jura,
irmão, vá e segure firme nas mãos de Deus e se acomode ao lado da sua Maria. E
viva eternamente, pois enquanto vida eu tiver, você estará vivo em minhas
lembranças, que digo a todos e a quem interessar possa, são muito boas. Um
beijo, Jupaty!
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