sábado, 7 de julho de 2018

Artigo do Gato



Bancada desfalcada

“Naquela mesa está faltando ele, e a saudade dele está doendo em mim” ... Esse refrão imortalizado na voz de Nelson Gonsalves traduziu o meu sentimento com a perda do Juracy da Silva Freitas. Conheci o “Jupaty”, em 1986, na Associação Comercial e Industrial do Amapá. Mas só em 2011 estabelecemos uma amizade fraterna e sincera. Com um artigo de sua lavra, publicado no Tribuna Amapaense, em maio daquele ano, passamos a ter relações estreitas e fui, então conhecendo um homem sério e brincalhão. Jupaty era dotado de uma sabedoria capaz de balancear o conhecimento científico e o empirismo, base natural do saber popular.

Nossa relação se estreitou ainda mais quando fomos trabalhar juntos na Rádio 102,9 FM, no programa Tribuna no Rádio. Ao assumir o cargo de Diretor Presidente da Rádio Difusora de Macapá, em 2015, não hesitei em convidá-lo para ser o diretor administrativo da emissora. Lá se foram mais três anos e cinco meses de uma relação intensa, de irmãos. Dividimos novamente a bancada na RDM, nos programas “Jornal da Manhã” e “Amapá em Pauta”. Ali, protagonizamos grandes embates e comentários propositivos sobre temas ásperos, complexos da vida do Amapá, do Brasil e do mundo.
Juracy foi e ficará na memória como homem austero, inquieto e sempre disponível para ensinar. Apesar das múltiplas funções que ocupou, a da sua preferência era, sem dúvida, a de professor. Sentia seus olhos brilharem quando falava do magistério. Ele não escondia de ninguém a mágoa de ter sido impedido de lecionar no ensino superior, o fez com distinção por um curto período.
No seu velório, Dr. Iraçu Colares realçou um detalhe engraçado de nossa convivência. – Por alguns dias Iraçu sentou-se à bancada do Jornal da Manhã da Rádio Difusora, apelidada carinhosamente pelo jornalista e humorista Luiz Trindade de “Bancada da Bengala”. Isso em função da elevada idade de seus membros: Hercílio Mescouto (85), Azevedo Costa (79), Rodolfo Juarez (77), o septuagenário Iraçu e eu, sexagenário. Nossa bancada, realmente, se desfez. Está incompleta e jamais irá se completar. Juracy é insubstituível e não adianta dizerem, ninguém é. Sim, somos insubstituíveis. Cada um de nós guardamos peculiaridades ímpares.
Juracy não resistiu à ausência, como os escravos. Morreu de Banzo. Saudade da sua eterna namorada Maria Bastos Freitas. Depois que ela se foi, o nosso Jupaty nunca mais foi o mesmo. Percebi sua inapetência para as coisas. Aos poucos, num silêncio misterioso, foi saindo da bancada do Jornal da Manhã. Limitou-se a olhar de fora do aquário e cutucar a todos com um sorriso pálido e, por vezes, arriscava entrar no estúdio. Mas apenas para nos cumprimentar. Já não tinha a verve de um orador inflamado, que colocava as palavras com vigor e de forma escorreita.
Para Juracy a distância desse plano se deu após muitos anos da doença chegar de forma descarada e acintosa. A saudade de sua Maria foi a causa do desiderato que culminou com seu desembarque do Trem Bala, parceiro. Eu não choro a felicidade, eu louvo a vontade do Deus Todo Poderoso Criador do Céu e da Terra, Senhor da Vida e da Morte. Jura, irmão, vá e segure firme nas mãos de Deus e se acomode ao lado da sua Maria. E viva eternamente, pois enquanto vida eu tiver, você estará vivo em minhas lembranças, que digo a todos e a quem interessar possa, são muito boas. Um beijo, Jupaty!


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