Sob a égide da
desconfiança
Chegou
definitivamente a campanha eleitoral. Legalmente estamos na pré-campanha, mas a
caça ao voto está a todo pano, creiam.
Claro que essa não
é a novidade. Até porque novidade em eleição é muito difícil, mas nessa, em
particular, comportamentos se acentuam. Com a deflagração da Lava Jato e o
natural descrédito dos políticos com mandato, os novatos estão apostando todas
as fichas no discurso mais óbvio do Universo, o da honestidade. A turma acha
que a fórmula é a desqualificação dos veteranos. Isso pode funcionar ou gerar
uma desconfiança muito grande naqueles que fizeram do discurso da honestidade
seu mantra, até porque muitos dos que estão hoje na berlinda usaram esse mesmo
discurso quando estrearam.
Logo... A questão brasileira
não está no político, está no brasileiro desapegado da educação moral e do
civismo. Desapego às coisas coletivas. A má formação da sociedade brasileira
nos coloca muito na lógica do “quem cozinha e reparte e pra si não tira a
melhor parte é burro ou não entende da arte”. Se é que me entendem.
Fico olhando de
longe e quando algumas figuras que conheço de priscas eras vêm com o discurso
de que vão fazer diferente, saio de perto. Estou sim muito descrente, até
porque como já afirmei anteriormente o buraco é mais embaixo. Todos sabem que o
comportamento inadequado à frente da coisa pública não está restrito ao
Executivo e Legislativo, não é mesmo?
Quando olhamos
pela ótica antropológica percebemos que caminhamos muito atrás das sociedades
do Velho Mundo (Europa) e do Oriente (China e Japão) organizadas secularmente
antes da brasileira. Desde Heródoto, na Grécia, até o movimento iluminista
deflagrada na Inglaterra, com a Revolução Gloriosa, e consagrada da França com
a Revolução Francesa, que a sociedade mundial se organiza e se multiplica,
através das conquistas, como foi o caso dessa porção de terra dominada pelos
portugueses. Mas, nesse sentido, é importante frisarmos que a colonização
nacional foi de exploração, no início os portugueses não demonstraram nenhum
interesse de se assentar por essas bandas. Se não fosse Napoleão Bonaparte
colocar D. João VI pra correr de Portugal nosso atraso deveria ser muito maior.
Vejo nossa
sociedade ainda em maturação política, política no sentido amplo, não apenas
pela ótica partidária, que, aliás, cumpre apenas a exigência da Lei, pois a
pulverização de partidos não assegura ideologia distinta entre um partido e
outro.
Fico muito
ressabiado quando vejo os salvadores da pátria abordarem o eleitor cansado da
corrupção e da sacanagem, mesmo sendo percebido as escancaras que o eleitor
também gosta dos favores pessoais que lhe são ofertados de forma generosa. Aí a
eleição é mesmo uma relação promíscua entre eleitor e candidato, e o pior que
muitas das vezes que propõe a relação espúria é o próprio que depois com a
maior cara de pau reclama do mau desempenho daquele que lhe pagou o voto. É
isso, ou estou vendo fantasma.
Num paradoxo a
justiça eleitoral propõe festa democrática, impondo a obrigatoriedade do voto,
fala de liberdade de expressão, mas me restringe falar o nome do meu candidato,
a Constituição garante a propriedade do sujeito, mas o proprietário não pode
pintar seu muro, e a parede da casa dele do jeito que ele quer e pretende, e
sob a égide da isonomia o TSE distribui a verba do Fundo Partidário dando mais
para quem tem mais e menos para quem tem menos. Isso é isonomia? Vamos votar,
gente, e participar desse processo que apesar de todos os pesares é a única
forma capaz de transformar uma sociedade, desde que, votando com consciência.
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