A literatura e o Amapá:
identificações – parte 2
De acordo com o meu sistema de identificação apresentado
no artigo anterior, teríamos doze classes de autores literários de alguma forma
relacionados ao Amapá, com outras cinco possíveis, mas bem improváveis. Das
doze, considero como certas mesmo as seguintes: 2, 5, 6, 9, 14, 17 e a 18.
Isso porque é realmente difícil que uma pessoa natural de
um lugar só fale dele ou jamais faça isso, bem como alguém de outro lugar que
só fale de onde atualmente mora ou que jamais fale dele. Da mesma forma, seria
muito improvável haver alguém nascido num Estado e de passagem por outro
falando apenas deste. Resta definir quem são o nativo, o residente e o
indivíduo apenas de passagem.
Considero o “nativo” ou “natural” o indivíduo que nasceu
no que se entende por Amapá, quer como Estado, como território ou, ainda, como
parte do que já foi o Grão-Pará, mas não apenas isso. Também creio que seja
fundamental considerar que o indivíduo tenha crescido e começado a sua produção
literária por aqui ou, se tiver crescido noutro lugar e para cá retornado, que
tenha aqui começado sua carreira como escritor e/ou passado a maior parte da
sua vida.
Do contrário, um indivíduo que apenas tenha nascido e
passado uns anos por aqui, tendo deixado o Amapá antes de iniciar sua vida
literária é um “nativo de passagem”, correspondente às classes 7, 8 e 9, sendo
possível encaixar nesta última a cantora, compositora e escritora Fernanda
Takai, nascida na Serra do Navio e que por aqui ficou até os 9 anos.
Quanto ao “residente”, que talvez fosse melhor chamar de
“domiciliado” ou mesmo “radicado”, é o indivíduo que não é natural do Amapá,
mas mora ou morou no Estado a maior parte da sua vida, sendo incluídos aqui
aqueles que para cá vieram ainda durante a infância. Creio que a maior parte daqueles
identificados como “escritores amapaenses” pertença a esta categoria.
A diferença entre esses e os autores classificáveis como
“de passagem” é sutil, mas significativa, já que estes últimos caracterizam-se
por apenas terem passado um tempo no Amapá, durante o qual produziram
literariamente, mas, eventualmente, retornaram para suas terras natais. A meu
ver, para ser encaixado nesta categoria, o indivíduo deve ter passado menos
tempo residindo no Amapá do que em seu local de origem.
É importante salientar que a naturalidade do indivíduo
que produz literatura não deve ser vista como diretamente relacionada à
qualidade das obras dele, mas creio que essa diferenciação, ou melhor,
identificação de quem são as pessoas que produziram e produzem literatura e
que, de alguma forma, se relacionam ao Amapá seja de fundamental importância para
entender se efetivamente existe uma “literatura amapaense” e, no caso de
existir, o que ela seria e qual a sua constituição.
No próximo artigo desta série, falarei a respeito da
produção literária que tem temática restrita ao Amapá e da que não tem, bem
como qual a importância disso e de que forma essa “necessidade” por uma
literatura que (só) fale das coisas relacionadas a esta terra poderia ser
utilizada alternativamente.
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