domingo, 29 de julho de 2018

Equinócios das Letras







A literatura e o Amapá: identificações – parte 2

            De acordo com o meu sistema de identificação apresentado no artigo anterior, teríamos doze classes de autores literários de alguma forma relacionados ao Amapá, com outras cinco possíveis, mas bem improváveis. Das doze, considero como certas mesmo as seguintes: 2, 5, 6, 9, 14, 17 e a 18.
            Isso porque é realmente difícil que uma pessoa natural de um lugar só fale dele ou jamais faça isso, bem como alguém de outro lugar que só fale de onde atualmente mora ou que jamais fale dele. Da mesma forma, seria muito improvável haver alguém nascido num Estado e de passagem por outro falando apenas deste. Resta definir quem são o nativo, o residente e o indivíduo apenas de passagem.
            Considero o “nativo” ou “natural” o indivíduo que nasceu no que se entende por Amapá, quer como Estado, como território ou, ainda, como parte do que já foi o Grão-Pará, mas não apenas isso. Também creio que seja fundamental considerar que o indivíduo tenha crescido e começado a sua produção literária por aqui ou, se tiver crescido noutro lugar e para cá retornado, que tenha aqui começado sua carreira como escritor e/ou passado a maior parte da sua vida.
            Do contrário, um indivíduo que apenas tenha nascido e passado uns anos por aqui, tendo deixado o Amapá antes de iniciar sua vida literária é um “nativo de passagem”, correspondente às classes 7, 8 e 9, sendo possível encaixar nesta última a cantora, compositora e escritora Fernanda Takai, nascida na Serra do Navio e que por aqui ficou até os 9 anos.
            Quanto ao “residente”, que talvez fosse melhor chamar de “domiciliado” ou mesmo “radicado”, é o indivíduo que não é natural do Amapá, mas mora ou morou no Estado a maior parte da sua vida, sendo incluídos aqui aqueles que para cá vieram ainda durante a infância. Creio que a maior parte daqueles identificados como “escritores amapaenses” pertença a esta categoria.
            A diferença entre esses e os autores classificáveis como “de passagem” é sutil, mas significativa, já que estes últimos caracterizam-se por apenas terem passado um tempo no Amapá, durante o qual produziram literariamente, mas, eventualmente, retornaram para suas terras natais. A meu ver, para ser encaixado nesta categoria, o indivíduo deve ter passado menos tempo residindo no Amapá do que em seu local de origem.
            É importante salientar que a naturalidade do indivíduo que produz literatura não deve ser vista como diretamente relacionada à qualidade das obras dele, mas creio que essa diferenciação, ou melhor, identificação de quem são as pessoas que produziram e produzem literatura e que, de alguma forma, se relacionam ao Amapá seja de fundamental importância para entender se efetivamente existe uma “literatura amapaense” e, no caso de existir, o que ela seria e qual a sua constituição.
            No próximo artigo desta série, falarei a respeito da produção literária que tem temática restrita ao Amapá e da que não tem, bem como qual a importância disso e de que forma essa “necessidade” por uma literatura que (só) fale das coisas relacionadas a esta terra poderia ser utilizada alternativamente.

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