sexta-feira, 30 de novembro de 2018

POLÍCIA CIVIL DO AMAPÁ


Combate à criminalidade no estado é intensificada e os resultados são positivos


"Polícia forte, Estado forte. Polícia fraca, Estado fraco". Entrevista com o Delegado Geral de Polícia Civil do Estado do Amapá, Antônio Uberlândio Gomes.

Reinaldo Coelho

No fim de abril deste ano, tomava posse o novo delegado-geral de Polícia Civil do Amapá, Antônio Uberlândio Gomes, que assumiu a pasta com o comprometimento de aprimorar o setor de investigações e de captação de recursos. O novo delegado-geral afirma que o sistema dentro das delegacias vai ser organizado de acordo com as hierarquias previstas para cada cargo.
“Faremos uma grande e única equipe, onde cada um vai cumprir seu papel. Delegado vai cumprir seu devido papel, escrivão e agente, também, pautados pela hierarquia funcional, da qual não vamos abrir mão”, ressalta Gomes.
O governador do Amapá, Waldez Góes, durante a solenidade de posse, ressaltou a importância do compromisso com a segurança pública. “Vivemos um momento difícil em todo o país com o combate à criminalidade, principalmente, relacionada ao tráfico de drogas e armas”, relatou Góes.
Nesses últimos dias de 2018 entrevistamos Uberlândio Gomes que apresentou um rápido histórico das ações da polícia judiciária amapaense no enfrentamento das batalhas criminosas que envolvem tráficos de drogas, de pessoas, assaltos execuções e principalmente aos grupos criminosos que   estão implantados no Amapá, acompanhe:

Doutor Uberlândio Gomes
Tribuna Amapaense –Doutor Uberlândio Gomes, como estão as ações da Policia Civil do Estado do Amapá no combate a criminalidade?
Uberlândio Gomes – A polícia judiciária do Amapá, tem feito ao longos desses anos um grande trabalho e principalmente apresentado uma nova metodologia que estamos aplicando dentro da Polícia Civil desde o momento em que tomamos posse no dia 23 de abril e uma das fases dessa metodologia e as ações reiteradas e que culminaram com operações e com números épicas como os da 'Operação Anjos da Lei', que no Amapá culminou com a prisão de 142 elementos que foram tirados de circulação. Essa foi a maior operação da polícia civil e de todas as forças de segurança do Estado do Amapá.Não existem dados sobre um resultado dessa envergadura, e diga-se de passagem um trabalho de inteligência tão bem feito que nenhum tiro foi disparado. Nenhum policial e nem presos lesionados. Isso demonstra a lisura da operação e o trabalho de excelência que foi colocado em prática pela polícia civil.

TA –O crime organizado está implantado no Amapá?
UG – Essa é uma indagação que vem sendo feita há muito tempo e vimos que alguns responsáveis pela segurança pública do Amapá, quando eram indagados, se esquivavam e diziam que o crime estava controlado e que aqui não existia facção criminosa, e isso infelizmente é uma falácia. Para você enfrentar o crime e as organizações criminosas e qualquer problema você tem que primeiro reconhecer para enfrentá-los. E a nossa política hoje é da transparência, seja ela uma notícia positiva ou negativa, vamos falar sempre a verdade. Porque a sociedade está vendo a segurança públicado nosso Estado. Mas também eu não vou dizer que isso é uma peculiaridade do Estado. O crime organizado se difundiu em todo o Brasil desde a menor até a maior cidade. O Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais são alguns exemplos. E vemos agora o modismo dessas facções se alastrando por todo o Brasil, e evidentemente aqui eu confesso que ela está sim implantada no Estado do Amapá e não é só uma facção, são várias que ficam hoje se digladiando com a disputa por territórios para comercialização de drogas, disputa de poder entre eles e quem tiver mais força paradominar o Estado. Eu faço essa confissão, tanto que a maioria dos crimes é entre eles. Os crimes de homicídios, mais de 90% é praticado pelas facçõescriminosas e as vítimas são pessoas que compõem outras facções criminosas para que essa tenha o monopólio do crime no Estado e recorrentemente chegam a óbito. Então é um momento delicado que estamos vivendo. Temos de reconhecer isso, bolar estratégias operacionais para desbaratarmos e desarticular essas facções, que infelizmente tem assombrado toda a sociedade brasileira. E esse problema é tão grave que vimos aqui no início do ano o governo federal criar um ministério especifico da Segurança Pública, nunca antes criado no Brasil.Existia, sim, o Ministério da Justiça com uma secretaria específica para a segurança. E, através de um decreto presidencial, foi decretado a intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Temos o Exército Brasileiro há um bom tempo combatendo essas facções no Rio de Janeiro. Temos assim o maior órgão de segurança brasileiro instalado dentro do Estado carioca, especificamente dentro dos morros, onde as facções dominam e até agora eu desafio alguém a dizer se surtiu efeito, e que a criminalidade no Rio está controlada? Pelo contrário, o Governo Federal, com todo seu aparato armado, instalado no Rio de Janeiro para combater o crime e até agora não podemos dizer que a União está vencendo o crime.

TA –Esses crimes que estão começando a acontecer no Amapá com uma tipificação nova para os amapaenses, como o assalto ao Banco do Brasil, com armamentos de alta potência e chegando a constituir reféns em um supermercado. Isso está sendo realizado por quadrilhas do crime organizado de fora do Estado?
UG –São grupos faccionais. A diferença entre facções e crime organizado é de nomenclatura. O que não falta é coragem e armamento. Eles podem até ser armadores, mas o poderio bélico de enfrentamento a polícia, e eles procuram fazer isso, e graças a Deus eles tem levado a pior. Pois os nossos policiais são bem mais preparados e a regra dentro da Polícia Civil desde que assumi é policiar e eu vou interpretar a lei e falei para todos os delegados do Conselho Superior de Polícia: Basta de ficar interpretando lei a favor de bandido, vou privilegiar meu policial que coloca a vida em perigo para defender a sociedade sem nem conhecer aquele indivíduo. Eu vou no momento de instruir um inquérito ou de um procedimento administrativo vou interpretar contra ele? Não! Bandido armado, em um confronto com a polícia, seja Civil ou Militar, a interpretação será sempre a favor do policial. Até que se prove ao contrário ele ostenta sua lisura no cumprimento do dever.

TA –A Polícia Civil do Amapá tem mapeado quantas facções tem aqui no Estado?
UG –Temos sim e quais são as facções, mas vou me permitir aqui a não dar esses dados e peço a imprensa que não fique fomentando, pois a partir do momento em que você começa a dar destaque a determinada facção A, B, C ou D você começa a fazer apologia e a fazer propaganda daquele povo e há o empoderamento: "Olha, lá na emissora tal, no canal Y, estão falando da gente que somos os maiores matadores", como tem uma aí que é especifica para matar e a outra mais no tráfico de drogas. Então você começa a divulgar os números dos profissionais da segurança pública, quem são, quantos são, é propaganda, então temos de evitar. Nós temos mapeadotodas através do serviço de inteligência.

TA –As maiores facções do Brasil estão aqui dentro?
UG– As maiores do Brasil, o PCC e o Comando Vermelho, estão em todo o Brasil. Só que agora cada região e cada estado criou a sua também. Como forma de fazer com que essas maiores não dominem o mercado de drogas aqui. Para ter essa resistência é que temos esses confrontos e esse grande número de homicídios, aqui. As facções locais não querem que o PCC e o CV dominem o território como fizeram no Rio de Janeiro.

TA –O Estado tem condições de fazer um enfrentamento contra essas facções?
UG –O Amapá é um Estado diferenciado. O Estado do Amapá, como o Brasil todo, passou por quatro anos de crise de toda ordem, política, financeira, jurídica, enfim..., enfrentamos a crise, contratando pessoal para as polícias civil e militar. Nós da policia civil recebemos reforços extraordinários, mais de 200 homens, a PM está recebendo mais de 600 homens e temos visto ai para fora que concursos públicos para segurança não tem sido realizados. Em conversa com outros delgados, tem Estado que a polícia está três meses sem receber. Estive em Goiás e estão um mês sem receber. Aqui temos um lapso de dez dias. E num momento de maior crise que o País passa o Estado do Amapá investe em Segurança Pública. Não somente em pessoal, mas em viaturas e armamentos. Então eu digo, hoje, com as experiências que estou tendo com o Conselho de Delegados do Brasil, que a nossa segurança pública está muito bem servida em comparação aos demais Estados, que diga a 'Operação Anjo da Guarda' que fizemos recentemente foi a maior operação exitosa que se destacou em nível nacional. O que precisamos é de uma legislação mais forte, calcada em punir exemplarmente aqueles crimes de maior gravidade e vamos tratar a vítima com dignidade.
As nossas polícias Civil e Militar são respeitadas em outros Estados e nossos policiais são competentes e qualificados.Precisamos mudar a legislação, pois há duas semanas atrás prendemos 142, e lhes digo, se tiver uns vinte presos é muito.

TA –O senhor, como técnico, acredita que o modus operandi está correto?O tratamento que tem sido dado ao grupo organizado, ao bandido que tem convicção de sua atividade marginal, fortemente armado, como vimos nesse assalto, durante a semana finda, aqui em Macapá, que a polícia civil juntamente com o BOPE desbarataram. Esses bandidos estão sendo tratados de forma adequada pelo aparelho de segurança ou o aparelho está sendo manietado pelos clamores dos Direitos Humanos que acaba peando a ação do policial?
UG – Minha resposta vai ser bem incisiva: Não! E vou explicar o porquê. No nosso ordenamento jurídico penal existem 1050 crimes, desses apenas 28 crimes é que dá o encarceramento. São aquelas penas aplicadas acima de 8 anos, ou seja, menos de 3% de todas as condutas criminosas do nosso ordenamento jurídico a pessoa de fato vai cumprir pena no regime fechado. Então, temos 1008 crimes que são praticados e as pessoas praticam e vão responder necessariamente em liberdade ou quiçá condenado ele responde no regime aberto ou no semiaberto, onde ele passa o dia fora 'trabalhando', que sabemos que não, mas para ele o crime é trabalho e a noite se recolhe no IAPEN para dormir, é simplesmente isso. Então o nosso ordenamento jurídico é calcado numa política de desencarceramento. Toda a legislação penal que existe em nosso ordenamento é dizer: "Bandido, cidadão, pessoa comete um crime é que você vai, 'se' for condenado, vai cumprir pena em liberdade.  Evidentemente que isso fomenta o crime. Quando o cidadão tem,de antemão, ciência dos crimes praticadosele vai responder, via de regra, solto, e se condenado ele pode pegar até quatro anos ter a pena convertidaem pena alternativa, que é uma pena de prestação de serviços a comunidade ou pagamento de cesta básica, até oito anos, ele vai passar o dia fora praticando crimes. Vamos ser realistas, pois a verdade é essa e a noite ele se recolhe para dormir.

TA –Delegado, o senhor acha que nossa legislação está atrasada e que é necessário uma reforma nos nossos Código Penal e de Processo Penal?
UG –Sem dúvida alguma, a nossa legislação e ocódigo penal são de 1940, a realidade social era totalmente o inverso do que agora vivenciamos. Há 20 ou 30 anos atrás nossos pais sentavam-se em frente da nossas casas e conversavam na maior naturalidade possível, cientes que não iriam ser abordados por bandidos com uma arma na cabeça para roubar seus pertences. Momentos de Paz é perfeitamente possível, leis brandas. Momentos de exacerbação criminosaé evidentemente que temos de ter leis mais fortes e enérgicas para combater o crime. Pensava eu que a partir dessa onda de violência incontrolável em todo o Brasil e com a reforma de novo Código Processo de Penal teríamos o recrudescimento das penas, a política de segregação, tirar esses bandidos da rua, principalmente os que praticam crimes violentos.

TA – Vamos falar da políticaprisional, que é uma teoria que tem no Direito e se esse modelo dá certo da prisão por qualquer fato. Já é percebido que o sistema carcerário brasileiro está falido. Não nascemos para estarmos segregados, a segregação é um castigo, é uma pena. O cara entra lá e volta pior do que entrou. Se analisarmos os dados estatísticos dos que entram e dos que saem socializados, o resultado é pífio, a maioria volta recrudescido dessas rescendências só crescem. O período passado no encarceramento não forma pela universidade do crime, ele não se brutalizou ainda mais?
UG –O encarceramento para o cumprimento da pena tem duas vertentes. Tem o caráter punitivo– punir pelo mal que cometeu; tem o caráter preventivo – para que aquela pessoa punida as outras pessoas da sociedade saibam que se cometer crimes vai preso, então previne que outras pessoas não cometam delitos. E também pelo víeis ao contrario: o da ressocialização, quando a pena vai ressocializar o indivíduo que cometeu o crime. Isso é utópico. Isso está só nos livros, na realidade ela não existe. Diante dessa premissa grandes jurisconsultos, sociólogos, filósofos que não sabem a realidade, pois todos agora dão palpite na segurança pública sem participar dela. São aqueles 'estudiosos' que, em tese, dizem – 'olhe não pode encarcerar, ele vai para lá e vai sair pior do que voltou". Perfeito! É essa a política que está sendo aplicada no Brasil, a política do desencarceramento. Não vamos encarcerar e vamos criar mais leis para que ele cumpra aqui fora. Se estamos encarcerando pouquíssimas pessoas e não está surtindo efeito, e se deixarmos esse povo fora da cadeia, vai surgir efeito?Vamos deixar que as vítimas sejam de novo vítimas daqueles infratores.

TA –Não é tipo de delito, não é esse o X da questão? E temos o exemplo de um jovem que foi preso por ter capturado um passarinho, cometeu um crime ambiental e foi para o presídio, onde adquiriu o vírus da AIDS.
UG – A maioria dos crimes ambientais, eu não sei especificamente o que ocorreu nesse caso, no início da Lei 9.605/2006 eram considerados inafiançáveis e aí veio o STF que disse que cabia fianças, era uma incoerência, porque todos crimes de menor potencial ofensivo assinam um Termo Circunstanciado. Os crimes de menor potencial ofensivo a pena chega a dois anos e você pode prestar serviço a sociedades; os crimes de média potencialidade, de 1 a 4 anos, é o caso do crime de furto, não vai preso, somente se em rescendência. Essas penas são submetidas ao PRD (Penas Restritivas de Direito). E pela renovação do Código Penal vai ampliar para até 8 anos para não cumprir pena no IAPEN. Isso é péssimo na minha perspectiva, vocês está fomentando o crime. O bandido vai colocar a arma na sua cabeça e se não disparar ele não vai preso.

TA –Em 1979 o Brasil começou um processo de redemocratização, com a abertura e a devolução do regime, os militares se ausentaram e os civis assumiram e houve uma certa frouxidão. O que mais cresceu no Brasil em termos de delitos, de crimes praticados, de organizações criminosas, que floresceram e estão entranhados em todo o Brasil? A droga, ela virou um negócio, ela está entre as 10 grandes empresas, se considerarmos esse crime como um negócio licito. Se organizaram, formaram advogados, médicos, engenheiros estão financiando os políticos, ou seja é o Crime Organizado. Então essa criminalidade ela acontece no entorno desse negócio desgraçado que destrói vidas. Esse garoto que furta é vítima da droga, é um viciado. Não seria esse o grande focal da segurança pública nacional, não exterminar, pois ele pode voltar mais forte? O senhor concorda que para matar o câncer é preciso combater o traficante?
UG –O nascedouro dessa grande criminalidade começou a surgir no final da década de 1970, foi o nascedouro do tráfico e do consumo de drogas. É aí que emerge todos os demais delitos, como: homicídio e roubo; e, latrocínio. O tráfico e o traficante de drogas constituem o tipo de atividade ilícita que gera muito, muito lucro, e é fácil dele trabalhar com isso, pois coloca várias pessoas para distribuir e consequentemente vai aumentando seu poderio econômico. Se a polícia vai lá e apreende a droga ele perde o material e em via de regra, ele fica com poucas condições de ter capital para reintegrar o mercado de tráfico de drogas. E ele vai para onde? Para o assalto, para se recapitalizar e voltar a traficar. Se a polícia faz um trabalho intensificado de combate ao tráfico de drogas, aumenta o assalto. E enquanto eles estão no comando das drogas e trabalhando de boa, o que ocorre? As execuções, os homicídios. Porquê toas as facções estão na prática desse ilícito que é o tráfico de drogas. Eles começam a criar e hegemonia do tráfico – "Olha a Zona Norte é minha, se tu entrares aqui eu te mato". Evidentemente que nesse mundo do crime não tem respeito, não tem lei. Vem um outro que entra e começa a comercializar ali e eles vão lá e executam aquela pessoa. Como vemos todo o final de semana, morrendo cinco/oito pessoas, todos eles faccionados,e com uma passagem extensa pela polícia. E ai tem revide. Vem um mata do Comando Vermelho, vem outro mata da Família Terror do Amapá e a culpa é da segurança pública. Desses homicídios, mais de 90% é de membros de facções que vem disputando território para comercialização de drogas.

TA –O ministro do STF, Alexandre de Morais, pautou no pleno da suprema Corte a descriminalização do usuário de drogas, aquele que só compra a droga para consumir. Sua opinião sobre isso?
UG –Só existe o tráfico, porque tem consumidor. Só existe o furto porque tem o receptador. Uma coisa está intimamente liga na outra, isso é fato. Ora, o Brasil vai agora descriminalizar o consumo de droga. E o que podemos dizer: O consumo vai aumentar e nos vamos ter o tráfico do varejo. Eles vão estipular, 10/20 cabecinhas, eu não sei, não é mais tráfico, mas sim portar droga para consumo, um fato atípico. Temos mais um viés contra a segurança pública. Não vamos mais pegar aquele cara transportando em quilo, o crack ou a cocaína. Eles vão dividir em porções e colocar seus 'aviõezinhos' para fazerem essa distribuição, pois se forem pegos dirão "não esse é para o meu consumo. Então teremos de uma forma indireta um tráfico de drogas autorizado pelo Estado.

TA –O senhor é favor para que tipo de encarceramento?
UG –Eu sou a favor do encarceramento para crimes graves, violentos e os financeiros. Não vamos colocar lá os políticos, porque lá é um deposito de fazer mais criminosos, de aprimorar mais a criminalidade. Não vamos colocar porque não temos espaço. Vamos construir presídios. O que não pode é a pessoa condenada por práticas criminosas ficar aqui fora e a vítima punida duas vezes. No Brasil estamos passando por uma inversão de valores, o que é certo na nossa concepção virou errado, e vice versa. Não pode ser encarcerado porque não tem vaga e só comporta oito e vai ferir os Direitos Humanos do cara, porque ele não pensou nisso antes. E a vítima que está aqui fora não é contemplada pelos Direitos Humanos. Vai sofrer a segunda/terceira vez o mesmo delito e o Estado está míope para isso. Ou seja, o Estado brinda melhor o bandido que a vítima. Veja isso: O bandido comete o crime, é preso e vai a uma audiência de custódia, onde o juiz vai verificar se a prisão está dentro dos conformes da lei e se foram obedecidos todos os direitos constitucionais, os direitos humanos, dele. Ali ele já é tratado como vítima. Isso melindra a polícia. Sabe porque? Porque esse policial que prendeu o bandido, terá de contratar advogado, para responder a processo administrativo na Corregedoria de Polícia e muitas vezes esse processo administrativo culmina num processo criminal, é uma inversão de valores. A polícia é a personificação do Estado, o Estado se materializa através da polícia. Polícia forte, Estado forte, polícia fraca, Estado fraco. E quando falo em Estado falo de União, Estado e Município. O Estado pune seu policial em detrimento daquele bandido.Aí faço uma pergunta: O Estado olhou para vítima? A vítima não foi nem atendida, se não morreu, nem foi atendida no hospital. Ao contrário do bandido que já recebeu toda a assistência do Estado, a vítima nem sequer recebeu a visita de nenhum agente do Estado. Está certo isso?

TA –Pela legislação o bandido tem que atirar primeiro para o policial reagir. Caracterizando assim a legítima defesa. Isso é incoerência, pois a pessoa que sai armada não tem boas intenções e o policial ainda sofre com a ações das Comissões dos Direitos Humanos?
UG –A nossa lei é assim, infelizmente. Direitos Humanos sempre interpretando numa forma benéfica aos bandidos. Tudo bem, não sou contra os Direitos Humanos, eles tem que ser respeitados, mas nessas circunstâncias eu acho que atuar assim não é humano.

TA –Os Direitos Humanos são para humanos direitos, está em voga essa discussão e a perspectiva, com a posse do presidente eleito Jair Bolsonaro, é que ele consiga fazer emendas no Código de Processo Penal que está vindo novamente apenas para beneficiar o réu.
UG –Está ampliando os benefícios, eu creio que ele ainda não tomou ciência disso, como percebi pelo seu discurso. Mas tive a oportunidade de ler o CPP e fiquei decepcionado. Se a segurança pública está tendo essa dificuldade, teremos doravante maiores dificuldades para enfrentar o crime. E lhes digo mais, não adianta duplicar o número de policiais civis e militares na rua, se não mudarmos nossa legislação. O policial tem que ter uma margem maior de ação e temos de ter uma legislação mais dura para os crimes violentos. Não estou aqui querendo banalizar que qualquer crime tem que ir para o IAPEN. Não. Vamos recrudescer os crimes considerados graves.

TA –Precisa que o Estado esteja mais presente. Que ele cumpra seu papel, que estamos somente punindo aquele cidadão que acabou ficando em vulnerabilidade social e que o Estado não alcançou. Tínhamos, na década de 1970, uma educação cívica e o respeito aos valores institucionais que regem a sociedade. E a criminalidade não tinha muito estímulo. Os garotos trabalhavam e recebiam formação técnica e não migrava para o crime, Hoje o Estado está totalmente acéfalo e maus exemplos estão vindo de cima e para quem fica aqui em baixo é a vítima.Os que moram em áreas de ressaca, consideradas residências sobre fossas a céu aberto, levam o garoto adolescente a buscar aquilo que lhe é apresentado na mídia no asfalto. Um tênis, uma roupa de marca, um celular...
UG –Verdade. O consumismo contribui para que haja essas atitudes. Continuo afirmando que sou a favor do encarceramento por crimes graves que devem ser atacadascom punição maior. Sou a favor de que o Estado invista lá dentro, vemos aqueles bando de presos ociosos e a educação é o melhor caminho, firmar parcerias com entidades que tragam cursos profissionalizantes para o presídio e sair com uma profissão. O preso tem que trabalhar para custear suas despesas, hoje ele é muito caro para a sociedade, custa mais de R$ 2.500 reais e ainda recebe Auxílio Prisão. Ele tem regalias que não temos aqui fora, não paga a energia elétrica que consome, exige alimentação e fixa o seu cardápio. O Estado tem que se atentar para essa política de ressocialização, através de cursos profissionalizantes dentro do sistema prisional, fazer com que ele trabalhe para se manter e que esses auxílios sejam revistos, pois temos pessoas de idade avançada com a maior dificuldade para se aposentar, aqui do lado de fora, enquanto eles, após trinta dias encarcerados, já começam a receber.

TA –O assunto da segurança pública é extenso. Agradecemos sua disponibilidade e colocamos o espaço para suas considerações finais.
UG–Eu é que agradeço pela oportunidade de discutirmos a segurança pública do Estado do Amapá, em especial da Polícia Civil e reafirmar que o nosso maior gargalo é a legislação atual e enquanto não acontecer essa mudança, vamos continuar brincando de fazer segurança pública. É o que digo reiteradamente, que a punição no Brasil é uma punição virtual. É o faz de conta que prende, que pune e imediatamente é solto. Isso é fato! E se quisermos enfrentar a criminalidade com responsabilidade temos de rever todos os conceitos, os conceitos sociais e jurídicos, para de fato termos condições de enfrentar o crime e vamos dar valor a quem dá valor a sociedade. É o policial de bem que esta enfrentando o crime para proteger a sociedade diuturnamente e esse não é valorizado pelo Estado, como um todo. Infelizmente nossa legislação é calcada para proteger, prestigiar, dar regalias aqueles queafrontam a sociedade. E as facções estão afrontando o Estado, e ele está ajoelhado assistindo a tudo isso. Esse é um momento de reflexão, que a sociedade tem que cobrar de nossos políticos, que são os encarregados para rever a legislação federal. Deputados Federais e Senadores, porque a Constituição Federal diz: Matéria de Direito Penal e de Processo Penal, quem legisla é a União através do Congresso Nacional. Sob pena de a cada ano esses índices de criminalidade aumentarem.

Perfil do gestor

Antônio Uberlândio Gomes é formado em direito pelo Instituto Luterano de Ensino Superior – ILES Santarém. Tem especialização em carreira jurídica, direito penal e ciências criminais. Já atuou como delegado de polícia plantonista do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (CIOSP) do Pacoval, em Macapá; da 1ª DP de Santana e da Delegacia Especializada na Investigação de Atos Infracionais (DEIAI).
Também já assumiu o cargo de delegado titular da Delegacia Especializada em Tóxicos e Entorpecentes (DTE). Já foi professor de direito penal e processual penal nas faculdades FAMA, CEAP, Faculdade Integrada do Tapajós, Universidade Luterana do Brasil, Centro Amazônico de Estudos Jurídicos e da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...