Informações da Agência Brasil
Empreendimentos
relacionados à obtenção de energia e atividades agropecuárias são os principais
fatores de pressão para as espécies do bioma
Detentor
do maior sistema fluvial do mundo e da mais expressiva variedade de anfíbios e
primatas, o Brasil contabiliza atualmente 1.173 espécies da fauna com sua
perpetuidade sob risco. Na Amazônia, são 180 espécies que correm risco de
extinção.
As
informações estão no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
2018, resultado de um estudo que contou com a participação de 1.270
pesquisadores e que foi divulgado, sexta-feira (25), pelo Instituto de
Conservação da Biodiversidade Chico Mendes (ICMBio).
Considerando
o conjunto de espécies avaliadas, a Amazônia é o bioma com maior riqueza de
espécies da fauna, seguido da Mata Atlântica e do Cerrado. A Mata Atlântica é o
bioma que apresenta maior número de espécies ameaçadas, tanto em números
absolutos quanto em proporcionais à riqueza dos biomas.
Tartaruga-da-Amazônia
Foto: Divulgação 
Do total
de espécies ameaçadas do Brasil, 15,3% se encontram na Amazônia, que
representam 180. Desse total, 124 espécies são endêmicas desse bioma, ou seja,
que existem apenas na Amazônia.
Por todo
o país, os principais fatores de pressão às espécies continentais estão
relacionados às consequências de atividades agropecuárias, seja pela fragmentação
e diminuição da qualidade do habitat em áreas em que a atividade está
consolidada ou pelo contínuo processo de perda de habitat onde a atividade está
em expansão.
Para as
espécies que ocorrem na Amazônia, os principais fatores de pressão identificados
são os empreendimentos relacionados à obtenção de energia, principalmente as
hidrelétricas, e atividades agropecuárias, afetando, respectivamente, 95 e 94
espécies que ocorrem nesse bioma. As hidrelétricas afetam de forma direta
majoritariamente os peixes e algumas aves, em especial as que necessitam de
ambientes de várzea, além dos mamíferos aquáticos (boto-cor-de-rosa, Inia
geoffrensis e o peixe-boi-da-amazônia, Trichechus inunguis).
Por
provocarem perda de habitat, afetam algumas espécies de aves, primatas e
mamíferos carnívoros. As atividades agropecuárias estão em expansão e têm
provocado fortes alterações ambientais nas porções leste e sul da Amazônia, no
chamado arco do desmatamento, região com muitas espécies endêmicas,
especialmente de aves.
A retirada
de indivíduos da natureza, incluindo caça, pesca e captura, é a terceira maior
causa que afeta a fauna da Amazônia, com 52 espécies afetadas pelas atividades.
Assim como a pesca, a caça tem como principal finalidade o consumo
(principalmente de mamíferos e aves), porém também é praticada como forma de
retaliação pela predação de animais domésticos. Já a captura de indivíduos
vivos é realizada principalmente para o tráfico de animais, para a criação como
animal doméstico e para a aquariofilia.
Outros
fatores, como mineração, extração florestal e empreendimentos de transportes
estão entre as causas para as espécies que estão sob risco de extinção na
Amazônia.
Livro
Vermelho da Fauna 2018
Diferindo
do mais antigo levantamento nacional já registrado, realizado em 1968 pelo
então órgão ambiental competente, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal (IBDF), o livro aborda, de forma inédita, o risco de extinção da vida
animal no Brasil, uma vez que abrange todos os vertebrados que existem no país.
Se considerada somente essa parcela, o total de espécies chega a quase 9 mil.
Com 4.200
páginas, a nova edição da lista oficial de animais sob risco de extinção dá
continuidade a relatórios produzidos em 2003, 2004, 2005 e 2008. Os números
vigentes revisam as listas publicadas pelo Ministério do Meio Ambiente no final
de 2014, conforme as portarias nº 444 e 445 da pasta, e o Livro Vermelho 2008.
Além disso, atualiza algumas das nomenclaturas de espécies anteriormente
empregadas nesses documentos.
Ao comparar
dados do livro de 2008 com a edição mais nova, é possível notar que 716
espécies animais do território brasileiro entraram para a lista daquelas
consideradas sob ameaça de extinção, enquanto 170 deixaram de integrá-la.
Conforme
o ICMBio, ao longo de todos esses anos, a quantidade de espécies ameaçadas só
cresceu. Da lista da década de 1960, por exemplo, constavam 44 espécies nessa
condição, incluindo mamíferos, aves e répteis, e ainda 13 da flora brasileira.
Desse total, 30 ainda são hoje mencionadas, por merecer alerta.
Para a
elaboração do Livro Vermelho 2018, os pesquisadores tiveram como escopo o exame
de 12.254 táxons (unidades de classificação de seres vivos), dos quais 226
(1,8%) foram incluídos na categoria Não Aplicável (NA) para a avaliação, por
não pertencer de fato à fauna local. "A maioria dessas espécies é de aves,
peixes marinhos ou mamíferos marinhos, muitas com comportamento migratório,
ampla distribuição fora do Brasil e ocorrendo apenas ocasionalmente em
território brasileiro", explica a autarquia.
Conservação
No livro,
o ICMBio lembra que as unidades de conservação (UC) são o instrumento de
proteção do habitat mais utilizado no país, hoje em dia. "Ao final de
2017, o Brasil tinha um total de 1.544.833 quilômetros quadrados de áreas
protegidas, ou 2.029 unidades de conservação em todo o país, 325 delas geridas
pelo Instituto Chico Mendes. Das espécies ameaçadas de extinção, 732 têm
ocorrência registrada em unidades de conservação, das categorias previstas no
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Incluem, por exemplo, os
registros de espécies que ocorrem apenas ocasionalmente nas UC, como por
exemplo, espécies marinhas que fazem grandes deslocamentos, como os cetáceos e
alguns elasmosbrânquios", escreve a autarquia em trecho do livro.
"Para
429 táxons não há registro em unidades de conservação, embora 29 deles tenham
ocorrência provável. Os peixes continentais são o grupo com o maior número de
espécies sem registro em UC e também o grupo com o maior número de espécies que
sabidamente não ocorrem em UC", completou.
O ICMBio
lembra ainda que, apesar do papel que vêm desempenhando as unidades de
conservação, a preservação da biodiversidade não pode delas depender, sendo
necessário desenvolver "uma matriz de conservação". O instituto
aponta as atividades feitas no âmbito dos planos de Ação Nacional para a
Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção (PAN) e os planos de Redução de
Impactos à Biodiversidade causados por Atividades Antrópicas (PRIM), que ainda
estariam sendo devidamente estruturados.
Conforme
a publicação, foram implementados, até o momento, 60 PANs, em conjunto com o
Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, tendo beneficiado 700
espécies ameaçadas, das quais 526 são espécies de vertebrados, 87 de
invertebrados e 91 da flora. 
O impacto
das ações de proteção foi, segundo Oliveira, algo que se confirmou com a baleia
jubarte, conhecida por sobrenadar o perímetro do Parque Nacional Marinho dos
Abrolhos, no litoral da Bahia. "Esse é o melhor exemplo. Vários esforços
de conservação de 20, 30 anos melhoraram sua avaliação [quanto ao risco de
extinção]."
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