segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

RECANTO LITERÁRIO






O ANJO DA PEDRA
            Obdias Araújo


O Anjo Voa silente em rota curta e pré-definida. Seu olhar penetra a lâmina do Rio e se pede entre as estrelas de onde veio. Agora o asfalto o posto bancário o sapo de cimento e o velho prédio da Academia de Letras. O anjo sabe bem aonde vai o que busca e onde encontrar.
Suas asas se fecham. Ele desce em flecha e pousa no balcão do Bar do Abreu. oOo O ANJO DA PEDRA 
*
O meu poema é dor. Repulsa e sangue. O meu poema zombeteiro paira acima de minha cabeça
Parecendo saber o ponto exato em que a medula perfura o âmago das vértebras.
O meu poema é gás de câmaras nazistas. Fogo de Prometeu Adaga de Teseu. Altar de Messalina
É lança de Aquiles tesoura de Dalila e martelo de Thor. oOo DÂMOCLES
*
Hoje eu te vi. Estavas linda sob meus olhos. Linda em teu ser e estar. A quanto tempo eu não te via? Um dia?  Meses? Anos?
A mochila pesou em meu ombro quando olhei para a janela por sobre o telhado do primeiro piso e te vi sorrindo com a  cadelinha no colo. A cadelinha foi resgatada de mãos tiranas assim como tirantes a mim das mãos boêmias da noite infinita.
Estou de volta. O homem e seu partir está de regresso.  Seu andar curvado. Suas dores cândidas e milenares.
A escada nunca lhe pareceu tão alta e os degraus parecem muito mais afastados. Lá no alto a grade a porta e o abraço bom da mulher de todas as esperas.
Amanhã o homem cansado partirá para um novo regresso. oOo O VAGAMUNDOS 
*
Eu fiz as malas viajei pro estrangeiro conheci o mundo inteiro com escala sem escala a mochila é minha mala. Um dicionário na testeira um calendário na cabeça o meu chapéu. O sol no alto queimando o luar me aliviando estrelas me orientando meu planetário é o céu!
Me pergunto :será efeito colateral reação alérgica ou minhas fotocromáticas reclamando substituição?
Ao despir-me no banho descobri que vestia duas cuecas sob a bermuda. Adocei meu café com farinha de trigo e fechei na segunda casa o primeiro botão da camisa.
O fim da picada foi confundir na rua o Benito di Paula com meu grande e não menos sambista amigo Alcione Cavalcante.
-Eu, hem! Nem pensar! oOo PVC
*
Caldo-de-cana da feira cachaça de botequim relógio de algibeira ensopado de aipim mel de abelha da jaqueira chá da flor da caneleira cadeira de angelim
Pelo andar da carruagem pela calça do perneta pelos passos da visagem pelo óculos do zambeta pelo rito de passagem pelo sinal de mensagem pelo morrer do gameta.
Credo em cruz  ave Maria valei-me meu santo amém sarapatel da Bahia pastelzinhos de Belém bacalhau da Escandinávia matsuri da Moravia acari de Santarém. oOo CULINÁRIA LOCAL
O poeta caminha solene à sombra das mangueiras. Sombra não que choveu a pouquinho e o sol perdeu o ar de sua graça. O poeta lê o filme do Olímpia e se lembra com saudade o tempo que passou. Onde o Guara-Suco de cima do Manoel Pinto da Silva? Adonde o Cristóvão Quilombra esmurrando as mangueiras? Quedê o chimango Aldo Anibal Arrais Arrais arguindo o mocorongo Rui Guilherme Paranatinga Barata?
Maria de Fátima Moura Palha de Figueiredo gravava o Especial de Fim-de-Ano sentada na escadinha do Coreto do Bastos. Eu lembro. Estava lá e ouvi a gargalhada xingando o Poeta de pernas quebradas que se arrastava de muletas em Fá Sustenido Maior :-SAI DA FRENTE ALEIJADO FILHUDUMAPUTAAAAA!
Que fim deram no N’adega do Rei -aquelezinho onde Ruy Barata sorvia silente o Cuba Libre de pijamas e onde a Fafá cantava Moreno de costas pra cidade?
E o Euclides Farias que nunca me diz da reabertura do Bar?

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