
Mulheres nas
ciências: questão de lógica
Por
Paula Paschoal*
É
verdade que, ao longo do último século, nossa sociedade aprendeu a aceitar e
encorajar as mulheres a seguir carreiras em campos, digamos, não convencionais.
Mas também é preciso dizer que muitas barreiras ainda permanecem de pé.
Algumas
são familiares, outras tantas, econômicas, mas as mais complexas são as sociais
- até porque são invisíveis a olho nu.
Durante
minha carreira, pude assistir a alguns exemplos disso. Mulheres que perderam
oportunidades por ficarem
grávidas;
outras porque os chefes preferiam trabalhar com homens. Muitas vezes, nem mesmo
os fatos (eles também cansados de demonstrar o óbvio) são levados em consideração
na hora da contratação de pessoal para áreas de Exatas - espécie de feudo dos
homens. Já faz tempo que as mulheres estudam mais do que os homens no Brasil -
em todas as etapas da educação superior, diga-se de passagem. Segundo os
últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, das mulheres
ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% têm ensino superior completo,
enquanto que, entre os homens na mesma categoria, esse percentual é de 11%. A
escolaridade
das mulheres é maior também na esfera profissional. Elas são maioria nos cursos
de qualificação de mão de obra, de acordo com estudo do Plano Nacional de
Qualificação, do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). Os números
não mentem: de 2003 a 2012, do 1,8 milhão de alunos e alunas dos cursos de
qualificação, 713 mil eram mulheres, ou seja, mais de 60% do total.
Por
essas e muitas outras, é que precisamos nos esforçar, cada dia mais (um esforço
multifacetado e consorciado) para trazer mais mulheres para as chamadas
carreiras de STEM (sigla americana para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática),
além de garantir que aquelas que já estão nelas continuem a se destacar e
crescer.
O
que fazemos hoje, como sempre digo, terá impacto profundo no futuro das
mulheres nesses setores tão importantes para qualquer país que queira ser
grande. Mas quatro pontos me parecem essenciais e devemos nos dedicar a eles
já.
1.
Façamos com que as jovens se interessem por tecnologia logo no início de sua
educação. Isso porque as meninas geralmente não são incentivadas (ou até mesmo
desencorajadas) a buscar assuntos relacionados à tecnologia - como se fossem
naturalmente incapazes para a área. Uma certa Marie Curie teria muito a dizer,
ainda hoje, sobre isso... Ela é a única pessoa a ter dois prêmios Nobel em
categorias distintas, Química (em 1903) e Física (1911).
2.
Também precisamos transformar as mulheres que já se dedicam à tecnologia em
modelos. Modelos, como se sabe,
são
influências incrivelmente poderosas. Quanto mais modelos femininos existirem
nas carreiras de STEM, mais meninas enxergarão um futuro profissional promissor
nessas áreas. Vai dar trabalho, claro, mas não existe vitória sem esforço
pessoal e coletivo. Se queremos incentivar mais mulheres neste campo (e pagar
pelos esforços daquelas que vieram antes de nós), precisamos tornar esse tema
prioridade e dedicar tempo e ações a ele.
3.
Outro ponto importante: exigir apoio das esferas gerenciais. Elas precisam
demonstrar que as mulheres são
necessárias
e devem ser valorizadas nas carreiras de STEM. Diretores e diretoras têm de ser
capazes de comunicar, sincera e eficazmente, a importância de uma força de
trabalho equilibrada, de modo que toda a empresa veja isso como uma prioridade
da corporação - e não somente como uma iniciativa de bem-estar, por exemplo.
Como fazer isso? Garantindo igualdade de oportunidades, igualdade de
remuneração, infraestrutura e políticas para apoiar as mulheres com famílias e
se dedicando a criar um ambiente de diversidade na hora da contratação de
talentos. A igualdade para as mulheres no local de trabalho, seja em
remuneração, representação ou respeito, tem sido o artífice de grandes
progressos nas últimas décadas. É um fato!
4.
Além disso, precisamos trabalhar para que as mulheres percebam que ser mãe
dedicada e profissional competente, ao mesmo tempo, é, sim, possível. E mais:
fazê-las acreditar que têm o direito de ganhar o mesmo que seus pares
masculinos.
Ainda,
buscar oportunidades em empresas que representem os seus anseios. E, se não for
o caso, que sejam capazes de apostar nelas mesmas, empreendendo na área da
tecnologia e das ciências, criando o novo, fazendo diferença na vida das pessoas.
São
pilares fundamentais para que o País possa avançar em diversos aspectos da vida
corporativa e social. As carreiras de
STEM, há bastante tempo, se tornaram ícones do desenvolvimento das nações. Não
podemos perder mais tempo com preconceitos ancestrais.
06/02/2019
Mulheres nas ciências: questão de lógica - por Paula Paschoal*
Nenhum comentário:
Postar um comentário