sábado, 16 de março de 2019

Envelhecer é uma loucura, não é para maricas” – Rita Lee


Envelhecer é uma loucura, não é para maricas” – Rita Lee


“Sei que ainda há quem me veja malucona, doidona, porra-louca, maconheira, droguística, alcoólatra e lisérgica, entre outras virtudes. Confesso que vivi essas e outras tantas, mas não faço a ex-vedete-neo-religiosa, apenas encontrei um barato ainda maior: a mutante virou meditante. Se um belo dia você me encontrar pelo caminho, não me venha cobrar que eu seja o que você imagina que eu deveria continuar sendo. Se o passado me crucifica, o futuro já me dará beijinhos. […] Enquanto isso, sigo sendo uma septuagenária bem vivida, bemexperimentada, bemamada, careta, feliz e bonitinha. Lucky, lucky me free again*. Tempo para curtir minha casa no mato, para pintar, cuidar da horta, paparicar meus lhos, acompanhar minha neta crescer, lamber meus bichinhos, brincar de dona de casa, escrever historinhas, deixar os cabelos brancos, assistir novela, reler livros de crimes que já esqueci quem eram os culpados, ler biografias de celebridades com mais de setenta anos, descolar adoção para bichos abandonados, acompanhar a política planetária, faxinar gavetas, aprender a cozinhar, namorar Roberto e, se ainda me sobrar um tempinho, compor umas musiquinhas.”
– Rita Lee, no livro “Rita Lee – Uma autobiografia“. São Paulo: Globo Livros, 2016.
*Trecho da canção “Free again”, de Barbra Streisand. Em tradução livre, “Sorte, sorte minha, estou livre novamente”.



Durante o lançamento da sua aguardada autobiografia, Rita Lee, nossa roqueira maior, posa com exclusividade para a revista QUEM aqui reproduzida, afirma que o essencial da vida é amar os bichinhos e colher a própria comida.
– por Guilherme Samora (texto e fotos)

Os números são astronômicos: maior vendedora de discos do Brasil, mulher que tem a maior quantidade de hits nas paradas do país e campeã de músicas em aberturas de novelas. Os sucessos – dezenas – embalaram e continuam a embalar diferentes gerações. Os discos são vendidos no Brasil e fora dele. Mas, aos 68 anos, vivíssima e cheia de graça, Rita Lee considera:“O maior luxo da vida é dar amor aos bichos e ter uma horta”.

E continua: “Quanto mais simples, melhor. Fazer economia é chique e ecológico. Nessa visão, poder comer da própria horta é um luxo. Eu não quero ter uma Ferrari e ficar me exibindo em rua esburacada. Eu não tenho deslumbre. Não vou me entupir de coisas materiais sem sentido, mansões genéricas…Eu gosto de ficar bem na minha, com meus bichos, que são entidades com as quais divido minha vida. Eu fico comovida quando eu lido com eles, quando os trato, quando trocamos figurinha telepaticamente. É um luxo! Vivo cercada de bichos por carência do divino. E eles são o divino”.



A melhor terapia
Avessa a badalações e curtindo os bichos e a família, a vida da grande artista – cujo nome já está gravado entre os maiores da música mundial – se torna naturalmente alvo de curiosidade. Aposentada dos palcos – mas não da música –, Rita compõe, grava quando quer no estúdio que tem em casa, e, nos últimos tempos, dedicou-se a escrever sua autobiografia, que está sendo lançada pela Globo Livros. “Ao escrever o livro, achei que falar dos traumas da vida seria muito mais pesado do que foi. Senti que foi bom: percebi que nada era tão ruim quanto eu achava. Esses assuntos ficavam como uma nuvem na minha cabeça, em cantos meio escuros, sem que eu pensasse muito neles. Colocar no papel foi a melhor terapia que fiz na vida. Me fez um bem danado. Escrevi e me libertei. Aliás, escrever a bio foi como se eu estivesse me olhando de fora. Sabe quando dizem que antes da morte passa aquele filminho da nossa vida toda? Foi assim que aconteceu, vi o filminho. Mas com a diferença de que estou viva”, descreve, nessa raríssima entrevista cara a cara.

Bem viva, cheia de saúde (“Às vezes a coluna grita, mas não posso reclamar”) e linda com seus cabelos grisalhos, ela está em paz. “Estou gostando muito desta Rita de hoje. Ela é a mais familiar para mim. Sinto que sempre fui essa daqui e representei as outras. Gostei de várias delas, não gostei de outras. E, se eu quiser, às vezes puxo arquivos das outras: posso voltar à criança, à grávida… Mas sinto que essa sou eu, com meu cabelo branco, minhas rugas, de bem com tudo o que vivi e continuo vivendo”.



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