APOLOGIA
-Datado de 1984, com prefácio do Imortal ISNARD BRANDÃO DE LIMA FILHO, este livro é o número um de minha vida de Poeta Publicado.
PREFÁCIO
Entre inquéritos e sindicâncias no ambiente frio de uma delegacia de polícia , onde diariamente tomo contato com as mazelas do mundo, for que um sopro de poesia mais uma vez me velo encontrar. Em minhas mãos " Apologia ", poemas de Obdias Araújo, poeta que surge para inaugurar seu canto na área verde da planície e imprime em versos ritmados a sua angústia e o seu deslumbramento multifacetados pelo trato de um cotidiano que se renova todos os dias .
Conheci entre a música e a cerveja, às vezes tocando flauta ou soprando de modo magistral o trombone de vara. Pela intimidade com a música, seus poemas , além do ritmo , são musicais; pela vivência de boêmio, trazem traços e retratos de noite e madrugada, falam de flor e de mulher e estão orvalhados de lírico etilismo . Porque o poeta para ser poeta tem de conhecer essas coisas , além de não ligar muito para as convenções sociais . Seus versos estão carregados de desencontros amorosos e deles flui um leve erotismo. Trazem também a marca do poeta participante que critica a sociedade e brada em voz alta: "Oh tu que dizes sempre ser cristão/Tem pena deste pobre desvalido/Cujo único pecado é ser banido/Por quem lhe dá desprezo e nega pão." O fracasso e os desníveis insulares do amor, em Desprezo, explodem em revolta: "Ah!/Eu daria as tuas entranhas/Às bestas do campo/Às aves do céu." Mas o conceito do amor aparece em Despedida: " Não existe amor à distância/Amar é possuir de perto./De fato e de direito./Nunca à revelia."
O pai de Obdias Araújo, mestre Zacarias Araújo, professor na antiga Escola Industrial de Macapá, de quem ful discípulo, deixou no poeta uma grande saudade. Nos versos de Apologla, ele relembra o pai, sapatelro e seleiro de renome, nordestino de pouco falar:
"Velava meu sono/Sorria meu riso/Enxugava meu pranto...../Este homem cuja sombra sempre esteve/Sobre mim/Este/Que sendo humano/Ao meus olhos sempre foi divino/Ao apagar das luzes/Não ficará sozinho/ :Ao cair do pano lá estarel eu!"
Macapá, nos meses de verão, entre agosto e setembro, mostra às margens do Rio-Mar um dos mais belos crepúsculos do Mundo. No trapiche Eliezer Levy, agora restaurado, o poeta, após um gole de "Redenção", em Chanson: "...Mãos limpas/E puro coraçåo/Assina de testemunha/:O Amazonas/Acaba de parir/O Sol".
Poesia, quando nåo é oficio praticado todos os dias, não se curva aos caprichos do poeta. O estro entrava e ficam bloqueados todos os caminhos para a construção do verso. Em lconoclasta, Obdias Araújo verbera a Musa, num desses momentos ocasionais: "A diaba protetora dos poetas/Em menopausa beijou-me os lábios/ E o cadafalso que me serve de abrigo/Ameaça ruir sobre minha cabeça".
Entre altos e baixos, piques e rasantes, Obdias Araújo em sua inauguracåo em livro demonstra a vocação de poeta e promete prosseguir no espinhoso roteiro da poesia, nossa irmå desamada e incompreendida.
Apesar da revolta contundente de alguns poemas, o poeta e irmão iniciante do fantástico (o poeta sem o saber às vezes também é um mago) pode afirmar em Esclarecimento:"Acontece que sou meigo/Tenho uma flauta/ E/ No último Verão/ Estive em Hamelin!"
ISNARD LIMA
-Macapá. 8 de ianeiro de 1984.
*
*
Pigarro/Tremedeira/Cidreira/E Sonrisal.
-Misturo tudo isso/E faço o carnaval.oOoCEFALAGIA II
*
Do alto deste quiosque/40 pares de olhos/Vos contemplam.
Blusa do I.E.P na bolsa/Camiseta/E peitinhos à mostra/Diana caça patos/Em plena praça/Da República.oOo NORMALISTA
Nenhum comentário:
Postar um comentário