Morre a cantora
Beth Carvalho, aos 72 anos
Sambista estava internada no Rio
A cantora Beth Carvalho , um dos mais
importantes nomes do samba, morreu nesta terça-feira, no Rio. Ela estava
internada por causa de problemas na coluna que a atormentavam há anos. A
mangueirense Beth tinha 72 anos e a princípio cantaria no Vivo Rio no próximo
fim de semana, mas os problemas de saúde a obrigaram a cancelar. Seu
empresário, Afonso Carvalho, divulgou um comunicado na internet:
"Queridos amigos e fãs,
Nossa querida Beth Carvalho
partiu hoje as 17:33, cercada do amor de seus familiares e amigos. Agradecemos
todas as manifestações de carinho e solidariedade nesse momento. Beth deixa um
legado inestimável para a música popular brasileira e sempre será lembrada por
sua luta pela cultura e pelo povo brasileiro. Seu talento nos presenteou com a
revelação de inúmeros compositores e artistas que estão aí na estrada do
sucesso. Começando com o sucesso arrebatador de “Andança”, até chegar a Marte com
“Coisinha do Pai”, Beth traçou uma trajetória vitoriosa laureada por vários
prêmios, inclusive um Grammy pelo conjunto da obra. Assim que possível,
informaremos sobre o sepultamento".
CARREIRA
CARREIRA
A carreira de Beth Carvalho se
originou na Bossa nova. No início de 1968 participou no movimento Música nossa,
que foi fundado pelo jornalista Armando Henrique, e pelo hoje, maestro Hugo
Bellard. Os espetáculos eram realizados no Teatro Santa Rosa, em Ipanema, onde
teve a oportunidade de gravar uma das suas canções "O Som e o Tempo",
no longplay do Música nossa. Nesta época ela gravou com o cantor Taiguara, pela
gravadora Emi-Odeon. Em 1965, gravou o seu primeiro compacto simples com a
música “Por quem morreu de amor”, de Menescal e Bôscoli. Em 66, já envolvida
com o samba, participou do show “A Hora e a Vez do Samba”, ao lado de Nelson
Sargento e Noca da Portela. Vieram os festivais e Beth participou de quase
todos: Festival Internacional da Canção (FIC), Festival Universitário, Brasil
Canta no Rio, entre outros.
No FIC de 68, conquistou o 3º
lugar com “Andança”, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, e
ficou conhecida em todo o país. Além de seu primeiro grande sucesso, “Andança”
é o título de seu primeiro LP lançado no ano seguinte. A partir de 73, passou a
lançar um disco por ano e se tornou sucesso de vendas, emplacando vários
sucessos como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Olho por Olho”, “Coisinha do
Pai”, “Firme e Forte” e “Vou Festejar”, "Acreditar", "Mas quem
disse que eu te esqueço". Beth Carvalho é reconhecida por resgatar e
revelar músicos e compositores do samba. Em 72, buscou Nelson Cavaquinho para a
gravação de “Folhas Secas” e em 75, fez o mesmo com Cartola, ao lançar “As
Rosas Não Falam”. Diz o poeta que todo artista tem de ir onde o povo está.
Esses versos, além de grande verdade, definem com rara precisão a atitude de
Beth Carvalho diante da vida. Beth é inquieta. Não espera que as coisas lhe
cheguem, vai mesmo buscar. Pagodeira, conhece a fertilidade dos compositores do
povo e, mais do que isso, conhece os lugares onde estão, onde vivem, onde
cantam, como cantam e como tocam. Frequentadora assídua dos pagodes, entre eles
os do Cacique de Ramos, Beth Carvalho revelou artistas como o grupo Fundo de
Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Luis
Carlos da Vila, Jorge Aragão e muitos outros. Por essa característica, Beth
ganhou a alcunha de "Madrinha do Samba". Mais do que isso, a cantora
trouxe um novo som ao samba, porque introduziu em seus shows e discos
instrumentos como o banjo com afinação de cavaquinho, o tan-tan e o repique de
mão, que até então eram utilizados exclusivamente nos pagodes do Cacique.
A partir daí, esta sonoridade se
proliferou por todo o país e Beth passou a ser chamada de Madrinha do Pagode.
Sambista de maior prestígio e popularidade do Brasil, é aclamada também como
Diva dos Terreiros. Foram 51 anos de carreira, 31 discos, 2 DVDs e
apresentações em diversas cidades do mundo: Angola, Atenas (onde representou o
Brasil no festival “Olimpíada Mundial da Canção” em um teatro de arena
construído há 400 anos a.C. Hoje, Beth tem um busto na Grécia), Berlim, Boston
(na Universidade de Harvard), Buenos Aires (no Luna Park projeto “Sin
Fronteiras” da cantora e amiga Mercedes Sosa), Espinho, Frankfurt, Munique,
Johannesburgo, Lisboa (no show do jornal comunista “Avante”, para um público de
300 mil pessoas), Lobito, Luanda, Madri, Miami, Montevidéu, Montreux (onde
participou do famoso festival em 87, 89 e 2005), Nice, New Jersey, Nova York
(no Carnegie Hall), Newark, Paris, Punta del Este, São Francisco, Soweto,
Varadero (Cuba), Zurique, Milão, Padova, Toulouse e Viena.
No Japão, embora
nunca tenha feito shows, vendeu milhares de cópias de CDs e teve sua carreira
musical incluída no currículo escolar da Faculdade de Música de Kyoto. Beth
Carvalho recebeu 6 Prêmios Sharp, 17 Discos de Ouro, 9 de Platina, 1 DVD de
platina, centenas de troféus e premiações diversas. Em 1984, foi enredo da
Escola de Samba Unidos do Cabuçu, “Beth Carvalho, a enamorada do samba”, com o
qual a escola foi campeã e subiu para o Grupo Especial. Como o Sambódromo foi
inaugurado naquele mesmo ano, Beth e a Cabuçu foram as primeiras campeãs do
Sambódromo. Dentre todas as homenagens já feitas à grande cantora, Beth
considera esta, a maior de todas. E declara: “Não existe no mundo, nada mais
emocionante do que ser enredo de uma escola de samba. É a maior consagração que
um artista pode ter”. Em 85, Beth foi enredo novamente. Dessa vez, da escola de
samba Boêmios de Inhaúma.
Em 1997, viu a música “Coisinha
do Pai”, grande sucesso de seu repertório, ser tocada no espaço sideral, quando
a engenheira brasileira da Nasa Jacqueline Lyra, programou para ‘acordar’ o
robô em Marte.[5] Beth Carvalho gravou o 25º disco, “Pagode de Mesa” ao vivo,
em apresentação na gravadora Universal Music. Max Pierre, diretor artístico da
Universal, traduziu o que ela costuma fazer sempre: cantar o samba de raiz em
torno das mesas de quintais, terreiros e quadras, nos pagodes que reúnem os
melhores partideiros, músicos e poetas do gênero. Embora Mangueirense de
coração, Beth foi homenageada pela Velha Guarda da Portela, com uma placa
alusiva ao fato de ser a cantora que mais gravou seus compositores. Em junho de
2002, recebeu das mãos de D. Zica, viúva de Cartola, o Troféu Eletrobrás de
Música Popular Brasileira. A entrega desse Troféu, realizada no Teatro Rival do
Rio de Janeiro, tornou-se, com Beth Carvalho, um recorde de bilheteria da casa.
Carioca da gema e amiga de Cuba, foi solicitada pela presidência da Câmara
Municipal do Rio de Janeiro para entregar a Fidel Castro, o título de Cidadão
Honorário da cidade.[6] Seu 26º disco, “Pagode de Mesa 2”, concorreu ao Grammy
Latino na categoria melhor disco de samba. O 27° foi o CD “Nome Sagrado – Beth
Carvalho canta Nelson Cavaquinho”, seu compositor preferido, com participação
do afilhado Zeca Pagodinho, Wilson das Neves, Guilherme de Brito (parceiro mais
constante de Nelson). Este projeto foi tirado de uma gravação caseira do
arquivo de Beth e vendido em bancas de jornal. A cantora obteve grande
repercussão pela ousadia da empreitada e concorreu ao Prêmio TIM de Música
Brasileira como melhor disco de samba. Seu 28° CD, “Beth Carvalho canta
Cartola“, foi uma compilação idealizada pelo jornalista e grande fã de Beth,
Rodrigo Faour. Beth foi a intérprete preferida de Cartola e responsável pela
volta desse grande mestre à mídia.
Em 2004, a cantora gravou seu
primeiro DVD Beth Carvalho - A Madrinha do Samba, que lhe rendeu um disco de
Platina. O CD que saiu junto foi disco de ouro e indicado ao Grammy Latino de
2005 como Melhor Álbum de Samba.[1] Depois de lançar este trabalho com sucessos
acumulados ao longo dos anos, em 2005 Beth Carvalho seguiu em turnê
internacional, fechada com chave de ouro no Festival de Montreux, exatamente 18
anos após sua primeira apresentação na Suíça. Este registro será lançado em DVD
pela gravadora Eagle, com distribuição na Europa, Japão, EUA e Brasil.[7] A
turnê mostrou sua força em números: mais de 10 mil pessoas assistiram ao show
em Toulouse, na França, platéia lotada no Herbst Theatre, em São Francisco e
lotação esgotada em Los Angeles. Em dezembro do mesmo ano, a cantora abriu o
Theatro Municipal do Rio de Janeiro para celebrar o Dia Nacional do Samba e seus
40 anos de carreira. O show antológico, que reuniu grandes sambistas da
atualidade, como Dona Ivone Lara, Monarco, Nelson Sargento, Zeca Pagodinho,
Dudu Nobre, entre outros, foi lançado em CD/DVD no fim de 2006, inaugurando seu
próprio selo “Andança”. Em 2007, a cantora lançou também pelo selo Andança, o
CD/DVD “Beth Carvalho canta o Samba da Bahia”, com um repertório de sambas de
compositores baianos, de diferentes gerações. O DVD foi gravado pela
Conspiração Filmes em agosto de 2006, no Teatro Castro Alves, em Salvador.
Entre os convidados , estavam Gilberto Gil, Maria Bethânia, Caetano Veloso,
Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Olodum,
Riachão, Danilo Caymmi, entre outros. O DVD traz ainda um histórico
documentário sobre o samba de roda da Bahia. Em 2013 recebeu homenagem da
escola de samba paulistana Acadêmicos do Tatuapé com o enredo "Beth
Carvalho, a madrinha do samba".
No começo de 2014, Beth gravou um
DVD no Parque Madureira, com antigos sucessos da época em que efervesceu o
Bloco Cacique de Ramos e novos sucessos do CD "Nosso Samba Tá Na
Rua", com participações especiais de Zeca Pagodinho e de sua sobrinha Lu
Carvalho e ganhou uma exposição sobre sua vida e carreira no Imperator - Centro
Cultural João Nogueira.[8] Beth também foi convidada pelo empresário José
Maurício Machline, diretor do Prêmio da Música Brasileira, para ser curadora da
25ª Edição do Prêmio, formando uma comissão de organização juntamente com Zélia
Duncan e o pesquisador e historiador Sérgio Cabral, resultando numa belíssima
premiação, com as músicas e artistas escolhidos por Beth e Sérgio Cabral e o
texto de Zélia Duncan. Mesmo ainda se locomovendo de cadeira de rodas e aos
poucos voltando a andar, Beth participou também da turnê do Prêmio, junto com
Arlindo Cruz, Dudu Nobre, Altay Veloso, Zélia Duncan e Mariene de Castro.
Beth participou também da gravação do DVD da
25ª Edição do Prêmio da Música Brasileira junto com Dudu Nobre, Beatriz
Rabello, Péricles, Xande de Pilares, Arlindo Cruz, Mariene de Castro, Zélia
Duncan e a cantora beninense Angélique Kidjo, com a a atriz Cris Vianna como
mestre de cerimônia.
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