O mundo e os árabes
Bruno Pereira
Abril, 17h00, em Belém do Pará, e eu
estou saindo de uma de uma grande rede de supermercados local quando vejo uma
cena revoltante: taxistas de uma cooperativa se recusam a transportar um casal
de árabes. Fugindo da guerra civil em seu país de origem, o casal entrou no
Brasil como refugiados e hoje vive legalmente ganhando a vida como
comerciantes. Ambos possuem boa formação superior, o que chamou atenção de um
empresário paraense que contratou a senhora Zariff* para o cargo de gerência em
sua empresa, o que fez o casal mudar de São Paulo para Belém.
Após alugar um apartamento na área
central da cidade, foram ao supermercado realizar as primeiras compras do mês.
Na saída, o que seria algo normal, transformou-se em um martírio. Ela usava o
hijab, uma espécie de lenço que cobre parte do rosto feminino, e ele, de vestes
esportiva, usava o masbaha, um terço árabe. Isso foi suficiente para sofrerem
preconceito por parte dos taxistas, que além de rejeitarem a corrida,
gargalhavam fazendo chacotas, um deles chegou a dizer que o casal era do Estado
islâmico e que iria explodir o quarteirão todo, já que o casal estava com uma
mochila além das sacolas. Creio que esses motoristas devem ter esquecido que o
mercado não está favorável para táxi, também não tenham analisado que esses
imigrantes fugiram de uma guerra causado por terroristas e não lembraram que o
Brasil é conhecido, internacionalmente, por sua hospitalidade e respeito para
com todos.
Imediatamente, me ofereci para acionar um motorista via aplicativo para deixá-los em sua residência. Eles aceitaram. Como o objetivo de acompanhar a chegada, dei o meu número de telefone. Logo depois, recebi uma mensagem que haviam chegado bem e que o motorista foi supergeneroso. Para a minha grata surpresa, recebi, no outro dia, uma mensagem com convite para um café da tarde na residência do casal. Fui! Ao chegar, fui recebido com sorrisos e alegria digna de novela. Hahahaha. Tive uma segunda surpresa: ela era cristã maronita, e ele muçulmano. Ela me disse que usa o Hijab porque cresceu em uma cultura muçulmana e se adaptou ao uso. Já ele, brincou dizendo que a esposa é tão bonita que se tirar o hijab vão achar que é uma princesa. O bom humor deles é sensacional.
Passados 40 minutos de muita prosa, risos e comilança, resolvo tocar no assunto que deu origem ao encontro e descubro que o casal já havia sofrido manifestações do tipo, em São Paulo, em uma em abordagem realizada pela polícia militar; e uma segunda por um grupo de jovens de uma igreja neopentecostal que os cercaram e começaram a orar para que para tirar "o demônio terrorista". Esse segundo fato foi filmado por um amigo do casal. Tive a oportunidade de assistir e fiquei impressionado com tamanho desrespeito.
Já na minha casa, fui refletir sobre a conversa e sobre história de vida dos Zariff's*, cheguei à conclusão que estamos vivendo um período de ignorância coletiva, que se iniciou em 11 de setembro de 2001 e é fomentada até hoje por desastrosas políticas externas, movimentos religiosos e midiáticos que veem o Islã como um perigo a humanidade, tentando, de forma veemente, associar a religião a grupos terrorista.
Na próxima semana, iremos rever alguns fatos históricos e como chegamos até essa onda de preconceito aos povos árabes e a comunidade muçulmana no Brasil.
*Zariff é um nome fictício a fim de
preservar a identidade da família
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