LÁGRIMAS DE POETA
Porque
o poeta é assim mesmo. Derme de sensibilidade aflorada. Os sentimentos
vincam-lhe o rosto de igual maneira. Difícil saber se está radiante de alegria
ou natimorto de infelicidade. O rosto é
o mesmo. Desgosta-lhe o filho? As lágrimas caem-lhe aos pés. Casa-se a filha?
Os olhos são duas fontes de salinidade.
Várias
vezes flagrei o Poeta Isnard Lima chorando, em sua alcova repleta de sonhos.
Alcy chorava, chamando a todos de “mamãe”, e autoproclamando-se Nenê na
intimidade”. Fernando Canto chora a saudade de sua Óbidos... Manoel Bispo é um
pote de saudades.
Mas
e eu? Por que estou chorando?
Estou
chorando da genuína alegria. Estranha alegria sem motivo ou razão aparente.
Autênticas lágrimas de felicidade como as que a muitos séculos não me molhavam
o peito.
No
mais, é respirar fundo e arrancar titubeantes e promissoras notas musicais de
meu velho trombone.
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Não
sei até quando. Mas estou aqui. O pouso foi tranquilo a comida é boa e a cama
guarda ainda o perfume da amada de sempre.
Quando
cheguei já encontrei o jardim florido.
Outras
flores eu mesmo plantei e aguardo seus frutos.
A
mulher amada já me disse (as palavras vieram com um sorrisinho sacana) que
ainda este ano a família aumenta.
Ainda
bem que o quarto é espaçoso! Entre o rack do velho pecê e o guarda-roupa vou
acomodar uma pequena cama...
oOo
YORKSHIRE
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Sou
um poeta solitário e triste. Um vate macambúzio. Um menestrel repleno de dor e
de amargura.
No
meu jardim as flores já não cantam. E os pintassilgos de celofane multicor
olvidaram-me o florir.
Mas
meu derradeiro poema ainda traz em si a majestade sublime das pedras.
oOo
NOTURNO
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Dizem
que lá em cima o piso é de esmeralda e as lâmpadas no teto possuem filamentos
de ouro de mina.
Dizem
que lá mora aNega Fulô vizinha de Circe e
Desdêmona num puxadinho de Madame Bovary.
A
escada é lisa. Escorrega sob nossos joelhos e nos dias de chuva subir é
impraticável.
Mas
é o meu fado. Que de baixo eu vim etenho que subir. Subir. Subir.
-Vem
Comigo?
oOo
ESCALERA
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Levanto.
Ergo as mãos e vou-me embora trocando passos pela estrada afora levando aos
lábios flores que colhi.
Pensando
coisas de que sou cativo. As coisas que vivi e que não vivo. As coisas que não
vivo e que vivi.
E
assim até romper-se a Corda-Prima resignado cumpro minha lida.
Pois
a vida me leva pela rima e a catar palavras levo a vida.
oOo
SENDERO LUMINOSO
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Poeta,
meu amigo! Seresteiro das noites de Belém, das belas noites! Tu que versejas
beijos e açoites! Tu que vês quando o sol nasce primeiro!
Presta
atenção em mim.... Estou passando em frente à tua vida. Estou lembrando das
coisas que larguei pelo caminho; do pássaro a cantar dentro do ovo que afaguei,
afaguei e devolvi à segurança de seu próprio ninho.
Quando
me deito na grama das praças... quando me vês ali, entregue às traças
entrego-me também ao desespero.
E
se eu disser que vivo como os loucos... quando eu disser que estou morrendo aos
poucos... creia Poeta não há exagero!
oOo
PENÚLTIMOS VERSOS
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Sei
que um dia virás num burburinho rascante feito o vento no verão silvando entre
as folhas do caminho e mudecendo os versos da canção.
Haverá
lodo e sangue no teu manto. Haverá lodo e sangue no teu canto. Haverá sangue e
lodo em teu olhar
Mas
estou calmo. Estranhamente calmo. Feito uma garça a velejar nas nuvens. Feito
um peixinho a volitar no mar.
Não
tenho medo de ti nem tenho pressa. Nem sei quando virás. Ou quando irei que
morto já estive. E não estou! oOo
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