terça-feira, 7 de maio de 2019

SARAVÁ! 8 DE MAIO


SARAVÁ!
Ao Dia Estadual da Cultura Afro amapaense


"Sempre que eu abro o terreiro, eu faço pensando em Deus".  Sacerdotisa  Dulce Moreira

Reinaldo Coelho
Comemorado em 8 de maio, o Dia Estadual dos Cultos Afros foi instituído pela Lei nº 0933/2005. A data foi escolhida em homenagem à Dulce Costa Moreira, a “Mãe Dulce”, uma das precursoras da cultura afro-religiosa no Amapá e fundadora do Terreiro de Santa Bárbara. Ela teria tocado pela primeira vez o Tambor de Mina no Estado, no dia 8 de maio de 1963, depois que veio do estado do Maranhão.
Em relação ao dia 8 de maio, o culto afro já é celebrado em todos os terreiros amapaense. O objetivo foi fazer com que a data seja reconhecida pelo poder público, dando garantias de apoio institucional.  Socorro Moreira, filha da mãe Dulce, deu continuidade à missão da mãe, e considera a lei  uma conquista para o segmento.
“É o poder público reconhecendo que somos casa religiosa. É uma grande conquista, ainda falta muito, mas é um início. Ainda sofremos com tanta discriminação, mas nessa luta diária, uma conquista nos faz seguir adiante”, falou Socorro.
Como começou
Mãe Dulce contava que começou a desenvolver o dom desde os 13 anos, aos 27 começou na umbanda. Sofreu com o preconceito que existia na época, mas nunca deixou de lado sua fé nos santos, nas entidades e caboclos. Muitas pessoas a procuravam para tratar de doenças, problemas financeiros e atrapalhos.
Além de negros, filhos de “macumbeiros”, era assim que os filhos de Dulce Moreira eram taxados. Ela contava na época que “meus filhos tiveram que aturar ser chamados de ‘filho da macumbeira’ pelos colegas da escola. Mas eu não deixava isso me atingir".
Novo ritmo
Os trabalhos realizados no terreiro de Mãe Dulce causaram grande estranheza em quem assistia ao ritual do Tambor de Mina  pela primeira vez. O rito prestava homenagens às entidades, pretos velhos e caboclos.
Até hoje, tradicionalmente, bate-se o tambor no dia 8 de maio, sempre em homenagem à cabocla Mariana. Os mais populares pais e mães de santo de outros terreiros, e seus pretos velhos, caboclos e caboclas, faziam-se presentes no terreiro. Dona Dulce dizia que sempre procurou explicar que as religiões de origem africana não são um bicho de sete cabeças, e que nada de ruim pode acontecer a quem as usa com amor e com o pensamento voltado para coisas boas.
Cultos afro-religiosos
Com mais de 60 anos dedicados aos cultos afro-religiosos, ela adorava cantar e dançar, e considerava uma importante vitória para os praticantes de cultos afros o decreto que determina o dia estadual da causa. "Fui muito perseguida, principalmente pelo povo e por padres, que não aceitavam nossa religião e cultura. Depois da lei, sabemos que temos tanta liberdade quanto os evangélicos ou católicos de nos manifestarmos".
Para as novas gerações de umbandistas a anciã mandava um recado: "É preciso trabalhar com respeito e muita fé".
Tambor de Minas

Dona Dulce fala que várias pessoas tiveram reações que causaram grande estranheza em quem assistia ao ritual do Tambor de Mina. "Muita gente 'caiu' (incorporou) naquele dia e começaram a dizer que eu tinha jogado feitiço pra que aquilo acontecesse e que o feitiço que causou as reações neles, vinha da fumaça da minha defumação. Eu expliquei pra eles que eu não fazia nada, que não era a defumação e que aquilo acontecia porque aquelas pessoas tinham a predisposição, a sensibilidade e que isso se manifestava naturalmente.   

Atualmente


Para os que tomam conta do terreiro de Mãe Dulce na atualidade, o dia dos Cultos Afros significa uma oportunidade para que a população seja convidada a refletir sobre a intolerância, que oprimiu durante muito tempo as religiões afrodescendentes.
Na Umbanda são realizados os "trabalhos", geralmente para pedir ajuda às entidades para solucionar algum problema. Mãe Dulce dizia que os trabalhos mais procurados são os de sucesso e amor.  O Terreiro de Santa Bárbara, no alto de seu 52 anos de existência, ainda resiste à ignorância daqueles que desconhecem o valor de uma história de luta contra o preconceito aos cultos afros-religiosos e que conseguiu através dessa luta, se fazer reconhecer e aceitar. O Terreiro, conforme a vontade de Mãe Dulce, continua com suas atividades, sob o comando de suas filhas Socorro de Oxum e Jaguarema de Ogum, que com muito afinco e responsabilidade, dão continuidade aquilo que Mãe Dulce acreditava.
Sacerdotisa  Mãe Dulce

Dulce Moreira foi casada com João Batista Moreira, mais conhecido por “Piloto” (falecido). Ambos trouxeram para o Amapá a hierarquia de São Sebastião, originada da Encantaria do Rei Sebastião da Praia do Lençol, no Maranhão.
Nossa pioneira era natural da Ilha do Marajó, Estado do Pará, porém, Dulce Moreira era amapaense de coração. Junto com a família, instalou em Macapá o primeiro terreiro de Umbanda. Há vários anos presidiu a Federação Umbandista do Amapá e também era tradicional integrante da Ala das Baianas da Escola de Samba Maracatu da Favela.
Aos 82 anos, em 2007, sofreu uma queda e veio a falecer por conta de complicações respiratórias. Recebeu homenagens especiais no seu enterro. Os brincantes e membros da direção da escola homenagearam a ex-integrante da Ala das Baianas com toques de tambor e sambas de enredo da Maracatu. Em seu lugar, como sacerdotisa, ficou sua filha Maria do Socorro, mãe Socorro de Oxum.
Como mãe-de-santo, Dulce Moreira foi uma mulher fundamental na afirmação dos cultos afros na sociedade amapaense.
 Mãe Dulce teve 15 filhos amapaenses e continuou trabalhando em prol do Tambor de Mina e da Umbanda. A Umbanda é uma religião criada em Niterói no final do século XIX, que tem sincretismo com o cristianismo e o espiritismo kardecista.
Na Umbanda são realizados os "trabalhos", geralmente para pedir ajuda às entidades em algum problema. Mãe Dulce dizia que os trabalhos mais procurados eram os de sucesso e amor.

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