quarta-feira, 7 de agosto de 2019

13 ANOS DA LEI MARIA DA PENHA - MACAPÁ JÁ CONCEDEU 1.243 MEDIDAS PROTETIVAS


VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER




A cada 2 min, uma mulher recebe proteção contra violência doméstica no país e em Macapá 1.243 pedidos já foram concedidos.




Reinaldo Coelho


Nesta quarta-feira (7), a lei nº 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006 chega aos 13 anos. A legislação promulgada tinha como proposta dar mais segurança às vítimas de violência doméstica no país.

A sanção da Lei Maria da Penha mudou a forma de atuação do poder público na proteção às vítimas. A lei "pegou" e, em 2018, a cada dois minutos uma mulher no Brasil recebeu da Justiça medida protetiva para impedir que ela seja alvo da violência doméstica. Em três anos --de 2016, primeiro ano em que os doados começaram a ser colhidos, até 2018, últimos números disponíveis--, a concessão de medidas protetivas cresceu 35%. Segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) obtidos junto a tribunais estaduais de Justiça, o número saltou de 249 mil concessões, em 2016, para 336 mil, em 2018. Isso dá uma média de 922 mulheres atendidas por dia, ou uma a cada dois minutos.

No Estado do Amapá

Em Macapá, o número de medidas protetivas concedidas pela Justiça tem aumentado ao longo dos anos. Até terça-feira (6), 1.243 pedidos foram concedidos pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Macapá. O número é mais do que a metade se comparado com todo o ano de 2018, quando foram registradas 1.692 medidas protetivas.

Se fosse feita uma média das autorizações judiciais, no ano passado, foram 141 medidas protetivas concedidas por mês na capital; enquanto que, neste ano, o índice é de 177,5 por mês.

Por isso, o juiz Normandes Antônio de Sousa, titular do juizado, acredita que, até o fim do ano, o "saldo" desse tipo de mecanismo ultrapasse o de 2018. Ele relaciona o aumento das solicitações com o maior acesso às informações por parte da população.

"Isso é fruto das campanhas, dos esclarecimentos. A mulher está vendo nos jornais quase todos os dias uma situação de violência, casos de feminicídios sendo noticiados. E a mulher, vendo que consegue 'se livrar', a família e vizinhos ajudando, tudo isso contribui para esse aumento", disse o juiz.

A Lei Maria da Penha

A Lei Maria da Penha atua para proteger as vítimas do agressor e interromper o processo conhecido como escalada de violência --na qual a intensidade das agressões aumenta ao longo do tempo. Com a medida, é possível, por exemplo, exigir que o agressor mantenha uma distância mínima da mulher e dos filhos, além de outros meios de proteção. Em 2018, foram abertos 367 mil novos inquéritos de violência contra mulheres, o que mostra que quase todos resultam em uma medida protetiva. Apesar disso, havia ainda no ano passado 359 mil inquéritos pendentes --número que vem caindo, já que em 2016 eram 412 mil.

Para Rodrigo Capez, juiz auxiliar da presidência do CNJ, os 13 anos da lei serviram para prevenir crimes mas também para conscientizar sobre violência contra a mulher. "Essa é uma das maiores das virtudes da lei", diz ele. "A violência acabava sendo naturalizada, a mulher muitas vezes não conseguia entender como havia violência no ato de ofender, de humilhar. A grande vantagem de 2006 para cá é a conscientização da vítima de que ela não é um objeto", afirma.
A proteção pode ser solicitada em qualquer delegacia. Para isso, é preciso registrar um boletim de ocorrência e pedir a medida protetiva para a autoridade policial. Nesta etapa, o policial pode requisitar exame de corpo de delito e outros exames.
Feito o registro, a polícia deve enviar o pedido de proteção imediatamente a um juiz, que tem um prazo de 48 horas para atender a notificação. É o juiz quem vai ordenar como a medida deverá ser cumprida, salvo casos específicos. O descumprimento tem pena de três meses a dois anos de prisão.
Capez afirma que o instrumento protetivo é eficiente. Para exemplificar, ele cita uma pesquisa de 2018 do Instituto Patrícia Galvão que apontou que 97% das mulheres assassinadas não tinham medida de proteção, enquanto 96% não tinham sequer registrado Boletim de Ocorrência.

Todo mundo sabe o que é Lei Maria da Penha?

 Segundo a ex-secretária Nacional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (2007 a 2016) e hoje consultora na área de políticas públicas Aparecida Gonçalves, não há dúvidas de como a lei mudou o modo de se enxergar a violência contra a mulher. "Hoje, é uma das leis mais conhecidas no Brasil. As pessoas sabem que existe. Podem nem saber exatamente o texto, mas sabem que ela é para combater a violência." Entre os avanços estão a tipificação dos crimes de violência, seja psicológica, moral, sexual ou patrimonial.
"Isso é importante porque vai dar conta do que acontece principalmente dentro de casa. E a lei termina ferindo a questão de um um discurso naturalizado no Brasil de que em briga de marido e mulher não se mete a colher, ou o que acontece dentro de casa em casa fica", aponta. Entretanto, ela ainda vê "grandes desafios." "Nós ainda não conseguimos chegar a 10% dos municípios com serviços especializados. Onde tem o serviço, ele previne. Acho que não é suficiente nome de juizados especializados, não é suficiente o número de promotorias de defesa da mulher, e muito menos de defensoria pública", aponta.
Entretanto, ela ainda vê "grandes desafios." "Nós ainda não conseguimos chegar a 10% dos municípios com serviços especializados. Onde tem o serviço, ele previne. Acho que não é suficiente nome de juizados especializados, não é suficiente o número de promotorias de defesa da mulher, e muito menos de defensoria pública", aponta. Segundo dados do painel do CNJ, em 2016 existiam 106 varas exclusivas para casos de violência doméstica, e, em 2018, elas somavam 131.
Para Aparecida, o Judiciário também deve ser mais célere. "Quantos processos estão de fato sendo julgados? Quantos processos estão sendo arquivados nas prateleiras das delegacias ou do MP ou dos juizados? A medida protetiva é uma urgência, mas você tem que dar encaminhamento. Você tem que encerrar o processo. Quantos homens foram punidos ou responsabilizados?"
Caso você sofra com violência doméstica ou familiar, ligue para o número 180. A ligação é gratuita. Em 2018, o Ligue 180 recebeu 92.663 denúncias

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