sexta-feira, 27 de setembro de 2019

CORTE NO ORÇAMENTO DA ESTATAL DE PESQUISA PODE GERAR CRISE NOS PROJETOS QUE BENEFICIAM OS PEQUENOS AGRICULTORES


EMBRAPA
CORTE NO ORÇAMENTO DA ESTATAL DE PESQUISA PODE GERAR CRISE NOS PROJETOS QUE BENEFICIAM OS PEQUENOS AGRICULTORES



 Nos últimos anos estabelecemos prioridades e vamos continuar fazendo o possível para atender as expectativas dos produtores e a sociedade. Entretanto, maiores restrições de recursos tenderão a fazer com que a Embrapa demore mais tempo para oferecer as soluções que o agricultor espera, muitas vezes com urgência



Reinaldo Coelho

O mundo passa por um momento onde as transformações se dão em velocidade muito alta, isto devido dentre outras coisas à capacidade de geração de conhecimento pelas instituições de pesquisa, à mobilidade e conectividade das pessoas. Muitos dos conhecimentos gerados em um centro de pesquisa rapidamente são transformados em tecnologias e incorporados aos sistemas de produção se constituindo em inovação de impacto positivo e no Brasil a EMBRAPA tem uma grande responsabilidade pelos avanços tecnológicos na agricultura brasileira, principalmente da agricultura familiar.
Porém essas atividades estão ameaçadas pois o orçamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma das principais fontes de novas tecnologias para o setor agropecuário, poderá sofrer corte de 45% em 2020.


Em 2019, os recursos destinados para estatal foram de R$ 3,6 bilhões. A proposta do governo federal para o ano que vem é de R$ 1,9 bilhão e está em análise no Congresso Nacional.

O texto já começou a ser discutido na Comissão Mista de Orçamento, que é composta por deputados e senadores. Eles vão dar o primeiro parecer sobre a previsão de gastos do governo federal para 2020.

O deputado Domingos Neto (PSD-CE), relator do orçamento, disse que a previsão de cortes atingiu todas as áreas, mas reconhece que o setor agropecuário tem um papel estratégico no desenvolvimento da economia do país.
“O setor do agro tem todo o apoio necessário para garantir a proteção de um setor que é o que move a nossa economia. O nosso trabalho nos próximos meses vai ser olhar onde tem recurso a mais para poder cortar e remanejar para onde se precisa mais”, explica Neto.

Em outubro, os parlamentares devem apresentar as emendas ao projeto de orçamento. A votação final está prevista para dezembro.

A editoria do Tribuna Amapaense, consultou a Embrapa Nacional que enviou uma nota explicando a realidade e as perspectivas da entidade para essa queda orçamentária.

Em nota a Embrapa explicou que não existe, por enquanto, um corte definido no orçamento da Embrapa. As leis que definirão este assunto estão sendo discutidas pelo Congresso Nacional. Assim, não é possível estimar impactos na atuação da Embrapa.
Porém, explicou que os contingenciamentos e as reduções eventuais aplicadas no orçamento da Embrapa nos últimos quatro anos levaram a Diretoria e os gestores das Unidades a realizar uma série de ações que racionalizaram os custos de operação da empresa, tais como a diminuição do número de contratos com empresas prestadoras de serviços, a dispensa de terceirizados, a redução de estagiários, a limitação no consumo de energia, água e materiais de consumo, além da reorganização do número de projetos, que buscou reduzir as dispersões e duplicidade de esforços na sua programação de pesquisa.

Na nota foi detalhado que recentemente, a Embrapa reduziu o número de centros de pesquisa (46 para 43) e também de unidades administrativas (de 17 para 5) e ainda diminuiu o seu quadro (cerca de 1,3 mil empregados estão deixando a empresa com um programa de demissão incentivada).

Após quatro anos de cortes e contingenciamentos, nossos centros de pesquisa continuaram entregando inovações importantes para a agricultura brasileira. “Nos últimos anos estabelecemos prioridades e vamos continuar fazendo o possível para atender as expectativas dos produtores e a sociedade. Entretanto, maiores restrições de recursos tenderão a fazer com que a Embrapa demore mais tempo para oferecer as soluções que o agricultor espera, muitas vezes com urgência”. (o destaque é nosso).

A notícia do corte preocupa o ex-presidente da Embrapa, Sebastião Barbosa, que foi exonerado pelo governo em julho deste ano.
"Se não tomar cuidado isso representa o fim de tudo que foi feito pela Embrapa ao longo dos anos. A pesquisa é uma coisa de longo prazo. Uma estatal para a pesquisa agropecuária é fundamental", afirmou Barbosa.

Avanços da Embrapa


A importância da Embrapa para o Brasil e para o homem produtor rural foi reconhecida em 2010 por uma das publicações mais respeitadas do mundo, a revista britânica The Economist, especializada em economia, publicou nesta semana extensa reportagem sobre "o extraordinário crescimento da Agricultura no Brasil".
Com o título O milagre do Cerrado, o artigo afirma que a EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA) é uma das principais razões para essa revolução no setor agrícola do País.
Graças a inovações tecnológicas desenvolvidas pela EMBRAPA, que melhoraram a qualidade das sementes e dos produtos agropecuários, em menos de 30 anos, o Brasil deixou de ser um grande importador de alimentos e passou a ser um dos maiores celeiros do mundo. Entre os números apresentados pela matéria estão os que mostram que o País está hoje, entre os cinco maiores produtores de grãos do mundo, com um crescimento de 365% somente na última década.

Ainda neste período, o Brasil multiplicou por dez a sua produção de carne, ultrapassando a Austrália como maior produtor mundial. Tornou-se ainda o maior exportador do planeta de carne de frango, de açúcar e álcool de cana-de-açúcar (etanol). Cerca de 70% dessas culturas se encontram no Cerrado, região que até há pouco tempo era considerada inútil para a Agricultura, por causa da alta acidez de seu solo.

Em um artigo assinado por Fernando Mendes Lamas da Embrapa Agropecuária Oeste, publicado em 2017, essa importância do uso da tecnologia nas pesquisas são primordiais.


Não existe qualquer tipo de dúvida que, os desafios postos à agricultura somente serão superados com a adoção de tecnologias modernas. Estas tecnologias deverão garantir a segurança alimentar em perfeita sintonia com a conservação ambiental.

Quando se fala em segurança alimentar está se referindo a disponibilidade de alimentos, produzidos em bases sustentáveis, onde a qualidade do alimento e como este alimento é produzido é essencial. A qualidade terá cada vez mais peso na hora do consumidor decidir sobre o que ele vai consumir. Também se deve considerar, além da qualidade intrínseca do alimento, a forma como ele foi produzido, ou seja, a rastreabilidade é algo que não é mais fictício.

A tecnologia é fundamental para o aumento da produção via aumento da produtividade, e para se fazer a gestão de todos os processos envolvidos com a produção de um produto alimentício. Isto, independente da escala de produção.
 
Prédio de Transferência de Tecnologia da Embrapa Amapá
Tecnologia, não deve ser confundida com algo fora da realidade. Na agricultura, a época de semeadura, a quantidade de sementes por unidade de área, a população de plantas, dentre vários outros, são exemplos de itens que interferem na produtividade, na qualidade do produto e no custo de produção. São tecnologias, simples, às vezes de custo zero.

O mundo passa por um momento onde as transformações se dão em velocidade muito alta, isto devido dentre outras coisas à capacidade de geração de conhecimento pelas instituições de pesquisa, à mobilidade e conectividade das pessoas. Muitos dos conhecimentos gerados em um centro de pesquisa rapidamente são transformados em tecnologias e incorporados aos sistemas de produção se constituindo em inovação de impacto positivo.

Resultados de pesquisa realizada na metade Sul de Mato Grosso do Sul e de São Paulo e na metade Norte do Paraná, pelo Rally da Safra (2017) apontam resultados preocupantes do ponto de vista de tecnologia agrícola. Na amostra realizada, em 83% dos casos, não se constatou a existência de terraços e em 63% dos casos, a semeadura de soja e milho não era realizada em nível. Práticas de controle a erosão como plantio em nível e uso de terraços, são tecnologias muito importantes quando se pensa em sustentabilidade da produção. Estas tecnologias são antigas, de custo relativamente baixo e proporcionam resultados extremamente importantes, pois controlam a erosão dos solos agrícolas, grave problema da agricultura brasileira. Controlar efetivamente a erosão é uma das estratégias para manter o potencial produtivo do solo.

Para que a agricultura possa continuar desempenhando o seu papel, produzindo alimentos, fibras e energia, é fundamental a adoção de tecnologias modernas, que assegurem o aumento da produtividade, a redução dos custos de produção e a oferta de alimentos com qualidade.

As instituições de pesquisa buscam continuamente desenvolver processos e/ou produtos que possam contribuir para a melhoria da produtividade e da qualidade dos alimentos, para a redução dos custos de produção, para o aprimoramento dos processos de gestão. Estes, cada vez mais necessários quando se pensa na melhoria do processo como um todo.

Segundo dados gerados a partir censo agropecuário do IBGE, em 2006, a tecnologia foi a responsável por quase 70% do crescimento da produção de grãos, enquanto em1996, a tecnologia era a responsável por 50% do aumento da produção de grãos. Esses dados, não deixam a menor dúvida sobre a importância da tecnologia no aumento da produção e, isso se dá fundamentalmente através do aumento da produtividade.

Ao mesmo tempo em que a tecnologia é fundamental para o aumento da produção, é preciso que os usuários tenham conhecimentos para que possam protegê-las. A vida útil de uma tecnologia pode ser muita curta se esta não for utilizada de forma adequada.

No Brasil, de acordo com dados publicados recentemente, vem crescendo o uso de herbicidas em áreas cultivadas com soja resistente ao glifosato. Em comparação ao ano de 2015/2016 houve um crescimento de 55% no uso de herbicidas complementares ao glifosato na cultura da soja no ano de 2016/2017. Esses dados revelam que alguma coisa não está certa. É provável que a tecnologia não está sendo utilizada de forma adequada, o que tem contribuído para o surgimento de espécies de plantas daninhas resistentes a vários herbicidas.

A tecnologia é a grande aliada do homem, na produção agrícola. No entanto, para que a tecnologia possa ser utilizada de forma adequada em beneficio do homem, cada vez mais se faz necessário o conhecimento. Somente através do conhecimento seremos capazes de utilizar de forma correta as tecnologias que são disponibilizadas a todo instante. Hoje já temos plantadeiras que são “auto propelidas”, ou seja, não precisam mais do trator para tracioná-las. As sementes, insumo da maior significância estão sendo comercializadas tendo como referencial de mensuração não mais “saco”, mas sim o número de sementes.

Poderíamos aqui enumerar centenas de tecnologias, sem esquecer que estamos na era da agricultura digital. Em recente evento realizado em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, sobre agricultura de precisão, temas ligados a agricultura digital tiveram destaque. “Como a transformação digital vai afetar a agricultura?”, esse foi um dos temas do 11º Congresso Brasileiro de Agroinformática (SBIAgro 2017), realizado de 2 a 6 de outubro, na Universidade Estadual de Campinas (SP).

Para que possa ser disponibilizado para a população alimentos, fibras e energia em quantidade e com a qualidade exigida, serão necessários sistemas de produção integrados e dinâmicos, fundamentados em ciência e tecnologia, tendo como fundamentos a economia de escopo.
Estamos na era da quarta revolução tecnológica na agricultura. “A agricultura 4.0”, com forte conteúdo digital e conectada.

Felizmente, temos muitas tecnologias disponíveis e em desenvolvimento. Tecnologias que com certeza irão contribuir para a melhoria de todo o processo de produção agrícola. No entanto, não podemos de forma alguma desconsiderar aquelas tecnologias, tidas como antigas por alguns, mas indispensáveis para assegurar níveis de produtividade dentro dos padrões almejados, especialmente quando estiver em jogo, recursos não renováveis como é solo.

Dada as dimensões e as diversidades existentes no Brasil, não podemos deixar de considerar os esforços necessários para que todos, tenham acesso às tecnologias disponíveis.




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