EMBRAPA
CORTE NO
ORÇAMENTO DA ESTATAL DE PESQUISA PODE GERAR CRISE NOS PROJETOS QUE BENEFICIAM
OS PEQUENOS AGRICULTORES
Reinaldo Coelho
O mundo
passa por um momento onde as transformações se dão em velocidade muito alta, isto
devido dentre outras coisas à capacidade de geração de conhecimento pelas
instituições de pesquisa, à mobilidade e conectividade das pessoas. Muitos dos
conhecimentos gerados em um centro de pesquisa rapidamente são transformados em
tecnologias e incorporados aos sistemas de produção se constituindo em inovação
de impacto positivo e no Brasil a EMBRAPA tem uma grande responsabilidade pelos
avanços tecnológicos na agricultura brasileira, principalmente da agricultura
familiar.
Porém essas atividades estão ameaçadas pois o
orçamento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma das
principais fontes de novas tecnologias para o setor agropecuário, poderá sofrer
corte de 45% em 2020.
Em 2019, os recursos destinados para estatal foram
de R$ 3,6 bilhões. A proposta do governo federal para o ano que vem é de R$ 1,9
bilhão e está em análise no Congresso Nacional.
O texto já começou a ser discutido na Comissão
Mista de Orçamento, que é composta por deputados e senadores. Eles vão dar o
primeiro parecer sobre a previsão de gastos do governo federal para 2020.
O deputado Domingos Neto (PSD-CE), relator do
orçamento, disse que a previsão de cortes atingiu todas as áreas, mas reconhece
que o setor agropecuário tem um papel estratégico no desenvolvimento da
economia do país.
“O setor do agro tem todo o apoio necessário para
garantir a proteção de um setor que é o que move a nossa economia. O nosso
trabalho nos próximos meses vai ser olhar onde tem recurso a mais para poder
cortar e remanejar para onde se precisa mais”, explica Neto.
Em outubro, os parlamentares devem apresentar as
emendas ao projeto de orçamento. A votação final está prevista para dezembro.
A editoria do Tribuna Amapaense, consultou a
Embrapa Nacional que enviou uma nota explicando a realidade e as perspectivas
da entidade para essa queda orçamentária.
Em nota a Embrapa explicou que não existe, por
enquanto, um corte definido no orçamento da Embrapa. As leis que definirão este
assunto estão sendo discutidas pelo Congresso Nacional. Assim, não é possível
estimar impactos na atuação da Embrapa.
Porém, explicou que os contingenciamentos e as
reduções eventuais aplicadas no orçamento da Embrapa nos últimos quatro anos
levaram a Diretoria e os gestores das Unidades a realizar uma série de ações
que racionalizaram os custos de operação da empresa, tais como a diminuição do
número de contratos com empresas prestadoras de serviços, a dispensa de
terceirizados, a redução de estagiários, a limitação no consumo de energia,
água e materiais de consumo, além da reorganização do número de projetos, que
buscou reduzir as dispersões e duplicidade de esforços na sua programação de
pesquisa.
Na nota foi detalhado que recentemente, a Embrapa
reduziu o número de centros de pesquisa (46 para 43) e também de unidades
administrativas (de 17 para 5) e ainda diminuiu o seu quadro (cerca de 1,3 mil
empregados estão deixando a empresa com um programa de demissão incentivada).
Após quatro anos de cortes e contingenciamentos,
nossos centros de pesquisa continuaram entregando inovações importantes para a
agricultura brasileira. “Nos últimos anos estabelecemos prioridades e
vamos continuar fazendo o possível para atender as expectativas dos produtores
e a sociedade. Entretanto, maiores restrições de recursos tenderão a fazer com
que a Embrapa demore mais tempo para oferecer as soluções que o agricultor
espera, muitas vezes com urgência”. (o destaque é nosso).
A notícia do corte preocupa o ex-presidente da
Embrapa, Sebastião Barbosa, que foi exonerado pelo governo em julho deste ano.
"Se não tomar cuidado isso representa o fim de
tudo que foi feito pela Embrapa ao longo dos anos. A pesquisa é uma coisa de
longo prazo. Uma estatal para a pesquisa agropecuária é fundamental",
afirmou Barbosa.
Avanços
da Embrapa
A
importância da Embrapa para o Brasil e para o homem produtor rural foi
reconhecida em 2010 por uma das publicações mais respeitadas do mundo, a
revista britânica The Economist, especializada em economia, publicou nesta
semana extensa reportagem sobre "o extraordinário crescimento da
Agricultura no Brasil".
Com o
título O milagre do Cerrado, o
artigo afirma que a EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA) é uma
das principais razões para essa revolução no setor agrícola do País.
Graças a inovações tecnológicas desenvolvidas pela
EMBRAPA, que melhoraram a qualidade das sementes e dos produtos agropecuários,
em menos de 30 anos, o Brasil deixou de ser um grande importador de alimentos e
passou a ser um dos maiores celeiros do mundo. Entre os números apresentados
pela matéria estão os que mostram que o País está hoje, entre os cinco maiores
produtores de grãos do mundo, com um crescimento de 365% somente na última
década.
Ainda neste período, o Brasil multiplicou por dez a
sua produção de carne, ultrapassando a Austrália como maior produtor mundial.
Tornou-se ainda o maior exportador do planeta de carne de frango, de açúcar e
álcool de cana-de-açúcar (etanol). Cerca de 70% dessas culturas se encontram no
Cerrado, região que até há pouco tempo era considerada inútil para a
Agricultura, por causa da alta acidez de seu solo.
Em um artigo assinado por Fernando Mendes Lamas da Embrapa
Agropecuária Oeste, publicado em 2017, essa importância do uso da tecnologia nas
pesquisas são primordiais.
Não existe qualquer tipo de dúvida que, os desafios
postos à agricultura somente serão superados com a adoção de tecnologias
modernas. Estas tecnologias deverão garantir a segurança alimentar em perfeita
sintonia com a conservação ambiental.
Quando se fala em segurança alimentar está se
referindo a disponibilidade de alimentos, produzidos em bases sustentáveis,
onde a qualidade do alimento e como este alimento é produzido é essencial. A
qualidade terá cada vez mais peso na hora do consumidor decidir sobre o que ele
vai consumir. Também se deve considerar, além da qualidade intrínseca do
alimento, a forma como ele foi produzido, ou seja, a rastreabilidade é algo que
não é mais fictício.
A tecnologia é fundamental para o aumento da
produção via aumento da produtividade, e para se fazer a gestão de todos os
processos envolvidos com a produção de um produto alimentício. Isto,
independente da escala de produção.
Tecnologia, não deve ser confundida com algo fora
da realidade. Na agricultura, a época de semeadura, a quantidade de sementes
por unidade de área, a população de plantas, dentre vários outros, são exemplos
de itens que interferem na produtividade, na qualidade do produto e no custo de
produção. São tecnologias, simples, às vezes de custo zero.
O mundo passa por um momento onde as transformações
se dão em velocidade muito alta, isto devido dentre outras coisas à capacidade
de geração de conhecimento pelas instituições de pesquisa, à mobilidade e
conectividade das pessoas. Muitos dos conhecimentos gerados em um centro de
pesquisa rapidamente são transformados em tecnologias e incorporados aos
sistemas de produção se constituindo em inovação de impacto positivo.
Resultados de pesquisa realizada na metade Sul de
Mato Grosso do Sul e de São Paulo e na metade Norte do Paraná, pelo Rally da
Safra (2017) apontam resultados preocupantes do ponto de vista de tecnologia
agrícola. Na amostra realizada, em 83% dos casos, não se constatou a existência
de terraços e em 63% dos casos, a semeadura de soja e milho não era realizada
em nível. Práticas de controle a erosão como plantio em nível e uso de
terraços, são tecnologias muito importantes quando se pensa em sustentabilidade
da produção. Estas tecnologias são antigas, de custo relativamente baixo e
proporcionam resultados extremamente importantes, pois controlam a erosão dos
solos agrícolas, grave problema da agricultura brasileira. Controlar
efetivamente a erosão é uma das estratégias para manter o potencial produtivo
do solo.
Para que a agricultura possa continuar
desempenhando o seu papel, produzindo alimentos, fibras e energia, é
fundamental a adoção de tecnologias modernas, que assegurem o aumento da
produtividade, a redução dos custos de produção e a oferta de alimentos com
qualidade.
As instituições de pesquisa buscam continuamente
desenvolver processos e/ou produtos que possam contribuir para a melhoria da
produtividade e da qualidade dos alimentos, para a redução dos custos de
produção, para o aprimoramento dos processos de gestão. Estes, cada vez mais
necessários quando se pensa na melhoria do processo como um todo.
Segundo dados gerados a partir censo agropecuário
do IBGE, em 2006, a tecnologia foi a responsável por quase 70% do crescimento
da produção de grãos, enquanto em1996, a tecnologia era a responsável por 50%
do aumento da produção de grãos. Esses dados, não deixam a menor dúvida sobre a
importância da tecnologia no aumento da produção e, isso se dá fundamentalmente
através do aumento da produtividade.
Ao mesmo tempo em que a tecnologia é fundamental
para o aumento da produção, é preciso que os usuários tenham conhecimentos para
que possam protegê-las. A vida útil de uma tecnologia pode ser muita curta se
esta não for utilizada de forma adequada.
No Brasil, de acordo com dados publicados
recentemente, vem crescendo o uso de herbicidas em áreas cultivadas com soja
resistente ao glifosato. Em comparação ao ano de 2015/2016 houve um crescimento
de 55% no uso de herbicidas complementares ao glifosato na cultura da soja no
ano de 2016/2017. Esses dados revelam que alguma coisa não está certa. É
provável que a tecnologia não está sendo utilizada de forma adequada, o que tem
contribuído para o surgimento de espécies de plantas daninhas resistentes a
vários herbicidas.
A tecnologia é a grande aliada do homem, na
produção agrícola. No entanto, para que a tecnologia possa ser utilizada de
forma adequada em beneficio do homem, cada vez mais se faz necessário o
conhecimento. Somente através do conhecimento seremos capazes de utilizar de
forma correta as tecnologias que são disponibilizadas a todo instante. Hoje já
temos plantadeiras que são “auto propelidas”, ou seja, não precisam mais do
trator para tracioná-las. As sementes, insumo da maior significância estão
sendo comercializadas tendo como referencial de mensuração não mais “saco”, mas
sim o número de sementes.
Poderíamos aqui enumerar centenas de tecnologias,
sem esquecer que estamos na era da agricultura digital. Em recente evento
realizado em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, sobre agricultura de precisão,
temas ligados a agricultura digital tiveram destaque. “Como a transformação
digital vai afetar a agricultura?”, esse foi um dos temas do 11º Congresso
Brasileiro de Agroinformática (SBIAgro 2017), realizado de 2 a 6 de outubro, na
Universidade Estadual de Campinas (SP).
Para que possa ser disponibilizado para a população
alimentos, fibras e energia em quantidade e com a qualidade exigida, serão
necessários sistemas de produção integrados e dinâmicos, fundamentados em
ciência e tecnologia, tendo como fundamentos a economia de escopo.
Estamos na era da quarta revolução tecnológica na
agricultura. “A agricultura 4.0”, com forte conteúdo digital e conectada.
Felizmente, temos muitas tecnologias disponíveis e
em desenvolvimento. Tecnologias que com certeza irão contribuir para a melhoria
de todo o processo de produção agrícola. No entanto, não podemos de forma
alguma desconsiderar aquelas tecnologias, tidas como antigas por alguns, mas
indispensáveis para assegurar níveis de produtividade dentro dos padrões
almejados, especialmente quando estiver em jogo, recursos não renováveis como é
solo.
Dada as dimensões e as diversidades existentes no
Brasil, não podemos deixar de considerar os esforços necessários para que
todos, tenham acesso às tecnologias disponíveis.
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