quinta-feira, 31 de outubro de 2019

ARTIGO DO REI - DOIS DE NOVEMBRO, DIA DE FINADOS.


DOIS DE NOVEMBRO, DIA DE FINADOS.
HOMENAGEM AOS MORTOS


 

Hoje é dia de silêncio, de meditação,

Dia de viver os nossos mortos.
Aos nossos mortos queridos, nossas lembranças doídas. Nosso profundo amor e nossa profunda saudade!



Reinaldo Coelho


Finado significa o que se finou, findou, acabou, morreu. O culto aos mortos está presente em quase todas as religiões, desde a Pré-história, e tem significados e manifestações muito diferentes nas diferentes culturas. No Brasil, nesse dia, é costume visitar as sepulturas e levar flores aos mortos. A data é solene, e está ligada à tradição católica. Para lembrar as pessoas queridas, acendem-se velas pelas suas almas e fazem-se orações.


“O outro lado da vida está repleto de pessoas amadas, que ocupam o nosso pensamento e confirmam o pedacinho de tempo que passamos na terra, peregrinos que somos de um mundo mutável, finito. Somos pequenas gotas de orvalho, que vão, aos poucos, se evaporando e se avolumando na eternidade. Somos a contradição entre a debilidade física, que nos faz vulnerável e mortal e a força psíquica, que impulsiona a inteligência e nos leva a voos espetaculares, vencendo os imensos espaços do universo”. (Izabel Sadalla Grispino/Supervisora aposentada)

Seja com lágrimas ou com risos, homenagear os mortos parece ser uma necessidade universal, uma maneira de reverenciar nossos antepassados e de lembrar que, como eles, nós também somos mortais.
Esse ritual   que acontece em todas as religiões, cada uma com seus objetivos espirituais, tem no brasileiro, principalmente no nortista uma maneira diferenciada, principalmente nas comunidades ribeirinhas e interioranas.


O Dia de Finados quando ocorre numa sexta ou sábado ,casa desse ano de 2019, desde a segunda-feira, já era grande o movimento de pessoas que se organizavam para fazer a limpeza assim como a construção ou reconstrução dos túmulos. Embora alguns já tivesse feito esse trabalho, especialmente próximo a datas comemorativas (Dia das Mães, Dias dos Pais, Dia das Crianças e Natal), quando o cemitério recebe grande fluxo de pessoas.

Desde a minha infância, não participo do processo de limpeza dos túmulos, somente acendia as velas no cruzeiro em frente ao Cemitério Nossa Senhora da Conceição e quem me levava, minha avó, Dona Neném,  que já se encontra enterrada naquele espaço.

Nesse período, as frentes dos cemitérios estão lotados de ambulantes, que vendem de tudo: velas, coroas de flores, baldes, vassouras, areia, cimento e tem os profissionais autônomos (pedreiros e carpinteiro) que estão de plantão oferecendo seus préstimos e como não deveria faltar os vendedores de lanches e água. É hora de faturar e com a ajuda dos finados.

Homens e mulheres, geralmente, são acompanhados por crianças, a fim de que estas possam ajudá-los na limpeza dos túmulos. Chegam carregando vassouras, baldes, garrafas pet vazias, escovas de limpeza, panos e todo o material necessário para que os túmulos estejam no melhor estado de conservação possível.

O Cemitério de N. S. da Conceição (Centro) onde se encontram sepultados meus avós paternos (Mestre Benedito e Dona Josefina) e o São José (Buritizal), onde estão a maioria dos meus familiares (Meus avós maternos (Minervina e Odorico), meu irmão Arnaldo Coelho e minha mãe Zoraide Coelho, que saudade) são os primeiros cemitérios da cidade de Macapá e, portanto, padecem de superlotação, não possuindo alamedas, o que ocasiona um caminhar difícil por entre os túmulos.

É muito comum pisar na borda de alguma sepultura feita, passar por cima delas ou até mesmo pisar sobre as sepulturas, já que o espaço para o tráfego de pessoas é mínimo. Os mais jovens sempre seguram nas mãos dos mais velhos, ajudando-os a passar por cima das sepulturas e impedindo que escorreguem e caiam.

Ao entrarmos no cemitério, há uma alameda central, pavimentada, que leva até à capela e escritório da administração do cemitério. Bem no meio desta alameda, entre o portão principal e a capela, há um Cruzeiro, local usado para o acendimento de velas para os entes queridos que não estão enterrados no local ou, o que é bastante comum, de quem não se sabe mais o local exato onde estejam enterrados dentro do próprio cemitério.

Se durante o dia predomina a arrumação das sepulturas com lindas flores e vasos, ao fim da tarde e durante a noite o apogeu é a ILUMINAÇÃO DOS MORTOS à noite.

Lembro bem, pois morávamos uma quadra do cemitério Central, que as luzes das velas, que pareciam invisíveis durante o dia, agora aparentavam dançar sobre as sepulturas. Dessa forma, a etapa ritual de iluminação dos mortos ganha maior sentido, visto que a luz das velas desafia o escuro da noite, assim como a claridade da vida desafia a escuridão da morte.

Por mais que o cemitério esteja bem iluminado  (e pelas velas que ajudam a iluminar ainda mais o local), a dificuldade para caminhar é tamanha, o grande trânsito de pessoas e a superlotação de sepulturas no cemitério dificultam muito o tráfego naquele espaço. Estabelecendo-se um grande agrupamento de pessoas e túmulos, andar de um ponto para outro do cemitério faz com que o tempo a ser percorrido seja muito maior do que em outro período do dia.

Essa data transforma o entorno dos cemitérios das cidades, onde a população procura homenagear seus entes queridos e destacando o cemitério como ponto central de congregação de pessoas a partir de troca de afetos e, principalmente, reintegrando os mortos ao próprio tecido urbano da cidade, tendo em vista que muitos  creem que seus entes falecidos estão presentes, congregando com os vivos, no ritual de iluminação.

A Iluminação dos Mortos, na verdade, os mortos iluminam, simbolicamente, os vivos, apresentando-lhes um sentido de continuidade para a vida ou, melhor dizendo, fazendo-os crer na imortalidade. Para além de relações que remetem à espiritualidade, o ritual de Iluminação dos Mortos evidenciou as relações sociais que são desencadeadas a partir da reverência aos mortos, motivando também o afeto e a reciprocidade entre os vivos.


QUE TODOS DESCANSEM EM PAZ!



Vida curta! Vida enigmática!
Hoje é dia de silêncio, de meditação,
Dia de viver os nossos mortos,
Cobrir-nos com o manto da saudade, da oração,
Povoar nossas mentes com as lembranças que voltam.
Hoje, a brevidade da vida fica patente,
A estrada do infinito fica mais que evidente,
Trabalha-se a alma, reformulam-se conceitos,
O ponto de chegada tem peso de efeito!
A morada dos mortos é o nosso amanhã,
Quanto mais o tempo passa, mais dela nos aproximamos,
Poucos conseguem delinear tamanha certeza!
Poucos se afinam com as leis da humana natureza!

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