DOIS DE NOVEMBRO, DIA DE FINADOS.
HOMENAGEM AOS MORTOS
Hoje é dia de silêncio, de meditação,
Dia de viver os nossos mortos.
Aos nossos mortos queridos, nossas lembranças doídas. Nosso profundo amor e nossa profunda saudade!
Reinaldo Coelho
Finado significa o que se finou, findou, acabou, morreu. O culto aos mortos está presente em quase todas as religiões, desde a Pré-história, e tem significados e manifestações muito diferentes nas diferentes culturas. No Brasil, nesse dia, é costume visitar as sepulturas e levar flores aos mortos. A data é solene, e está ligada à tradição católica. Para lembrar as pessoas queridas, acendem-se velas pelas suas almas e fazem-se orações.
“O outro lado da vida está repleto de pessoas
amadas, que ocupam o nosso pensamento e confirmam o pedacinho de tempo que
passamos na terra, peregrinos que somos de um mundo mutável, finito. Somos
pequenas gotas de orvalho, que vão, aos poucos, se evaporando e se avolumando
na eternidade. Somos a contradição entre a debilidade física, que nos faz
vulnerável e mortal e a força psíquica, que impulsiona a inteligência e nos
leva a voos espetaculares, vencendo os imensos espaços do universo”. (Izabel Sadalla Grispino/Supervisora aposentada)
Seja com
lágrimas ou com risos, homenagear os mortos parece ser uma necessidade
universal, uma maneira de reverenciar nossos antepassados e de lembrar que,
como eles, nós também somos mortais.
Esse
ritual que acontece em todas as
religiões, cada uma com seus objetivos espirituais, tem no brasileiro,
principalmente no nortista uma maneira diferenciada, principalmente nas
comunidades ribeirinhas e interioranas.
O Dia de Finados quando ocorre numa sexta ou sábado ,casa desse ano de 2019, desde a
segunda-feira, já era grande o movimento de pessoas que se organizavam para
fazer a limpeza assim como a construção ou reconstrução dos túmulos. Embora alguns já tivesse feito esse trabalho, especialmente próximo a datas comemorativas (Dia
das Mães, Dias dos Pais, Dia das Crianças e Natal), quando o cemitério recebe
grande fluxo de pessoas.
Desde a minha
infância, não participo do processo de limpeza dos túmulos, somente acendia as
velas no cruzeiro em frente ao Cemitério Nossa Senhora da Conceição e quem me
levava, minha avó, Dona Neném, que já se
encontra enterrada naquele espaço.
Nesse período,
as frentes dos cemitérios estão lotados de ambulantes, que vendem de tudo:
velas, coroas de flores, baldes, vassouras, areia, cimento e tem os
profissionais autônomos (pedreiros e carpinteiro) que estão de plantão
oferecendo seus préstimos e como não deveria faltar os vendedores de lanches e
água. É hora de faturar e com a ajuda dos finados.
Homens e
mulheres, geralmente, são acompanhados por crianças, a fim de que estas possam
ajudá-los na limpeza dos túmulos. Chegam carregando vassouras, baldes, garrafas
pet vazias, escovas de limpeza, panos e todo o material necessário para que os
túmulos estejam no melhor estado de conservação possível.
O
Cemitério de N. S. da Conceição (Centro) onde se encontram sepultados meus avós
paternos (Mestre Benedito e Dona Josefina) e o São José (Buritizal), onde estão
a maioria dos meus familiares (Meus avós maternos (Minervina e Odorico), meu
irmão Arnaldo Coelho e minha mãe Zoraide Coelho, que saudade) são os primeiros cemitérios
da cidade de Macapá e, portanto, padecem de superlotação, não possuindo
alamedas, o que ocasiona um caminhar difícil por entre os túmulos.
É muito
comum pisar na borda de alguma sepultura feita, passar por cima delas ou até mesmo
pisar sobre as sepulturas, já que o espaço para o tráfego de pessoas é mínimo.
Os mais jovens sempre seguram nas mãos dos mais velhos, ajudando-os a passar
por cima das sepulturas e impedindo que escorreguem e caiam.
Ao
entrarmos no cemitério, há uma alameda central, pavimentada, que leva até à
capela e escritório da administração do cemitério. Bem no meio desta alameda,
entre o portão principal e a capela, há um Cruzeiro, local usado para o
acendimento de velas para os entes queridos que não estão enterrados no local
ou, o que é bastante comum, de quem não se sabe mais o local exato onde estejam
enterrados dentro do próprio cemitério.
Se
durante o dia predomina a arrumação das sepulturas com lindas flores e vasos,
ao fim da tarde e durante a noite o apogeu é a ILUMINAÇÃO DOS MORTOS à noite.
Lembro
bem, pois morávamos uma quadra do cemitério Central, que as luzes das velas,
que pareciam invisíveis durante o dia, agora aparentavam dançar sobre as
sepulturas. Dessa forma, a etapa ritual de iluminação dos mortos ganha maior
sentido, visto que a luz das velas desafia o escuro da noite, assim como a
claridade da vida desafia a escuridão da morte.
Por mais
que o cemitério esteja bem iluminado (e pelas velas que ajudam a iluminar ainda mais o local), a
dificuldade para caminhar é tamanha, o grande
trânsito de pessoas e a superlotação de sepulturas no cemitério dificultam
muito o tráfego naquele espaço. Estabelecendo-se um grande agrupamento de
pessoas e túmulos, andar de um ponto para outro do cemitério faz com que o
tempo a ser percorrido seja muito maior do que em outro período do dia.
Essa data
transforma o entorno dos cemitérios das cidades, onde a população procura
homenagear seus entes queridos e destacando o cemitério como ponto central de
congregação de pessoas a partir de troca de afetos e, principalmente,
reintegrando os mortos ao próprio tecido urbano da cidade, tendo em vista que
muitos creem que seus entes falecidos
estão presentes, congregando com os vivos, no ritual de iluminação.
A
Iluminação dos Mortos, na verdade, os mortos iluminam, simbolicamente, os
vivos, apresentando-lhes um sentido de continuidade para a vida ou, melhor
dizendo, fazendo-os crer na imortalidade. Para além de relações que remetem à
espiritualidade, o ritual de Iluminação dos Mortos evidenciou as relações
sociais que são desencadeadas a partir da reverência aos mortos, motivando
também o afeto e a reciprocidade entre os vivos.
QUE TODOS
DESCANSEM EM PAZ!
Vida
curta! Vida enigmática!
Hoje é dia de silêncio, de meditação,
Dia de viver os nossos mortos,
Cobrir-nos com o manto da saudade, da oração,
Povoar nossas mentes com as lembranças que voltam.
Hoje, a brevidade da vida fica patente,
A estrada do infinito fica mais que evidente,
Trabalha-se a alma, reformulam-se conceitos,
O ponto de chegada tem peso de efeito!
A morada dos mortos é o nosso amanhã,
Quanto mais o tempo passa, mais dela nos
aproximamos,
Poucos conseguem delinear tamanha certeza!
Poucos se afinam com as leis da humana natureza!
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