A crise ambiental
global colocará 5 bilhões de pessoas em risco até 2050
Por José Eustáquio Diniz Alves
“É triste pensar que a natureza fala e que a humanidade não a ouve”
Victor Hugo
Victor Hugo
Cinco
bilhões de pessoas em todo o mundo – especialmente aquelas de comunidades mais
pobres – deverão enfrentar, até 2050, um risco crescente de suportar
tempestades costeiras, poluição da água e perdas de colheitas ligadas à crise
climática causada pelo crescimento das atividades antrópicas.
Artigo
de Rebecca CHAPLIN-KRAMER, publicado na revista Science (10/2019), buscou
entender e mapear os locais onde a natureza mais contribui para viabilizar a
vida das pessoas e quantas pessoas podem ser impactadas pelas mudanças
climáticas e pela crise ambiental. Os autores se concentraram em três áreas nas
quais a natureza é considerada extremamente benéfica para as pessoas –
regulação da qualidade da água, proteção contra riscos costeiros e polinização
de culturas – e analisaram como elas podem mudar ao longo das próximas décadas.
Foi desenvolvido um mapa interativo para destacar os resultados.
Conhecer
a distribuição espacial das áreas mais afetadas pelas mudanças climáticas e a
degradação ambiental é fundamental para orientar a iniciativa privada e as
políticas públicas na tarefa de fazer a transição energética dos combustíveis
fósseis para as fontes totalmente renováveis e promover a restauração da
natureza para ajudar a evitar impactos mais catastróficos do aumento da
temperatura e do colapso dos ecossistemas.
O
estudo mostra que a atual governança ambiental – nos níveis local, regional e
internacional – não está incentivando as regiões mais vulneráveis a investir na
recuperação dos ecossistemas. Se o crescimento demoeconômico continuar ao longo
do século XXI, a ecologia não será capaz de fornecer o seguro natural diante
dos impactos induzidos pelas mudanças climáticas em alimentos, água e
infraestrutura. As populações da África e da Ásia serão as mais desfavorecidas pelos
“rendimentos decrescentes” da natureza.
Ou
seja, o “crescimento sustentado” que é a base do desenvolvimento global –
alavancado pelos combustíveis fósseis – gerou uma quantidade astronômica de
bens de consumo a serviço do elevado padrão de vida da humanidade, mas
ultrapassou a capacidade de carga da Terra. A perda de resiliência ecológica
fará a máquina insana de acumulação de riqueza perder a sua base natural e
entrar em regressão, pois sem ECOlogia não há ECOnomia.
A
extinção da vida natural e da vitalidade dos ecossistemas pode colocar em xeque
a própria existência da humanidade. Por conta disto o movimento “Extinction
Rebellion” (Rebelião ou Extinção) busca engajar as pessoas na luta contra o
colapso climático e ambiental, evitando o holocausto ecológico e o risco de
extinção. O objetivo da “Rebelião da Extinção” é exercer pressão sobre os
governantes e fortalecer a sociedade civil no sentido de enfrentar o caos
climático e a degradação dos ecossistemas.
O
grupo Rebelião ou Extinção tem três demandas centrais: 1) que o governo “conte
a verdade à população declarando uma emergência climática e ecológica”; 2) que
o governo “zere as emissões de gases de efeito estufa até 2025”; 3) que o
governo “crie uma assembleia popular, formada por cidadãos comuns e escolhidos
aleatoriamente, e siga suas decisões sobre o meio ambiente”.
Mais
de 11 mil cientistas de todo o mundo, de maneira reiterada, alertam a
humanidade sobre a ameaça de uma iminente catástrofe ambiental e declararam que
o Planeta está enfrentando uma emergência climática. O alerta diz que os
cientistas têm uma obrigação moral de alertar claramente a humanidade sobre uma
possível ameaça catastrófica que pode provocar “sofrimento humano incalculável”
(Alves, 13/11/2019)
O
trabalho de Rebecca CHAPLIN-KRAMER (Science, 10/2019) reconhece a situação de
emergência climática e é útil para mapear as áreas do mundo mais vulneráveis à
crise ambiental, fornecendo instrumentos para se criar políticas para minorar
os danos ecológicos que pode afetar cerca de 5 bilhões de pessoas no Planeta.
José Eustáquio
Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES,
JED. Cientistas alertam para a emergência climática e o crescimento
populacional, Ecodebate, 15/11/2019
https://www.ecodebate.com.br/2019/11/15/cientistas-alertam-para-a-emergencia-climatica-e-o-crescimento-populacional-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
https://www.ecodebate.com.br/2019/11/15/cientistas-alertam-para-a-emergencia-climatica-e-o-crescimento-populacional-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
CHAPLIN-KRAMER et al. Global modeling of
nature’s contributions to people, Science, 11/10/2019: https://science.sciencemag.org/content/366/6462/255/tab-pdf
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