Crônica:
Jorge virou peixe
Por Rodrigo Alves de Carvalho
Jorge morava numa casinha meia
água com teto de zinco. A casa de Jorge ficava tão quente no verão que fazia
uma sauna parecer câmara fria.
Jorge detestava o calor de sua
casa. Tentou colocar ventiladores, mas apenas espalhava o mormaço; tentou jogar
água com uma mangueirinha sobre o telhado, porém, só gastava água e o calor não
diminuía.
Sua casa parecia um inferno de
tão quente naquele final de dezembro e inicio de janeiro.
Jorge sentia inveja dos peixes.
Os peixes viviam nas águas e
provavelmente não sentiam calor.
Por isso Jorge queria ser um
peixe.
Com suas minguadas economias
conseguiu comprar uma piscina.
Dessas piscinas plásticas para
crianças.
Mas não colocou a piscina no
quintal, mas sim bem no centro de sua sala.
Ficava o dia inteiro deitado na
piscina com a água até o pescoço se refrescando. E podia a casa com teto de
zinco estar pegando fogo, para Jorge a água o protegia, pois se sentia um
peixe.
Sua vontade de virar um peixe
era tanta que comentou com os amigos que um dia iria para o Amazonas e se
transformaria num Boto.
Por enquanto, Jorge estava
satisfeito com sua piscina e nos dias de folga do final de ano não saia de
dentro da água.
Assistia TV, comia e dormia
dentro da piscina, só saia para ir ao banheiro.
Na noite da virada do ano,
Jorge acabou dormindo na piscina e sua cabeça foi para dentro d’água, ficou
submerso durante toda noite e aos poucos se transformou em um peixe, mas não em
um Boto como queria e sim em um grande Pacu.
No outro dia os amigos chegaram
à sua casa para desejarem ano bom, mas não encontraram Jorge que dizia ir para
o Amazonas virar um Boto.
Encontraram apenas o Pacu
nadando alegre dentro da piscina.
Os amigos foram categóricos:
- Já que Jorge foi para o
Amazonas virar Boto, não vai se importar se a gente assar esse Pacu para nosso
almoço de ano novo.
Rodrigo Alves
de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui
diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes
coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro
individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.
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