Vila de Mazagão
Velho – 250 ANOS
BERÇO DA RELIGIOSIDADE E DA
CULTURA AFROAMAPAENSE
Há 22
anos, a partir de 23 de janeiro de 1998, a Vila de Mazagão Velho voltou a
festejar o seu aniversário de fundação. Esse fato teve a participação da Banda Placa, que apoiou uma
manifestação dos moradores da comunidade, feita através do Senhor Biló Nunes,
reivindicando esse retorno que passou a acontecer no Mazagão Novo.
Reinaldo
Coelho
Se você procura pela
mistura de cultura africana e cenários amazônicos incríveis precisa visitar a
Vila de Mazagão Velho, que completa seus 250 anos de fundação.
Nessa Vila respira-se
a história e a cultura das raízes legitimamente africanas, pois a Mazagão Amazônica
tem suas origens na Mazagão Marroquina.
É uma experiência de
completa imersão que você lembrará para sempre. A Vila se parece com as do
século 18, combinado com réplicas de casas que datam do século 16. Ali você encontrará
os personagens daquela época, vividos pelos próprios habitantes da vila, que
recriam a história de seus ancestrais, todo ano, através de uma representação
teatral a céu aberto.
ATRAVESSANDO O ATLÂNTICO E NAVEGANDO O RIO AMAZONAS
Mantendo vivo esse
elo da Mazagão Amazônica e a Mazagão Marroquina, que foi invadida por mais de
150 mil homens de Mulei Mohammed, filho do temível líder árabe Abdallah
el-Ghalib, faziam o cerco da morte aos portugueses sem muita disposição para
negociar. Ali estava o começo do fim da aventura lusitana em território
francês.
Os portugueses de imediato
bateram em retirada e teve início a história de Mazagão, a cidade africana que
atravessou o mar para começar tudo de novo na colônia portuguesa – ‘o Brasil’.
A Mazagão brasileira
se transformou no quinhão de terra nas bordas amazônicas povoado pela transferência
das famílias portuguesas retiradas às pressas da Mazagão Marroquina, protegidas
temporariamente em Lisboa e despachadas, indignadas e descrentes, à
desconhecida capitania do Grão-Pará e Maranhão em 1770, o futuro Estado do
Amapá.
Nesses 250 anos, ao
chegar à Vila de Mazagão Velho, o turista ou visitante encontra e caminha
em cenário histórico, cultural e religioso. A comunidade é considerada o berço
cultural do Amapá, as festas religiosas, os batuques, cantorias e folias, o
Marabaixo, as novenas são tradicionalmente cantadas e executadas como foram
criadas a centenas de anos.
Os turistas vem de
diversas localidades, a maioria são amapaenses que vivenciam essa cultura com
dedicação, respeito e fé. Os habitantes desde as crianças aos idosos, e esses
são centenários, são acolhedores e nas varandas oferecem a hospitalidade e os
causos dessa vila.
Tradição garantida garoto toca caixa de marabaixo em Mazagão, Amapá Foto JULIO MARIA ESTADÃO |
O tambor do menino da
Mazagão Amazônica tem assim quase 250 anos de mistérios e esconde o espírito de
um velho escravo. São dezenas de festas
religiosas e culturais o que aumenta a atratividade turística entre as cidades
do interior do Amapá, afinal está intrinsecamente ligada à história da ocupação
portuguesa da Amazônia.
UMA MUDANÇA QUE ABALOU A COMUNIDADE
A histórica Vila de
Mazagão Velho era a sede de Mazagão, porém em 1915 foi transferida para Mazagão
Novo e os festejos que aconteciam a dois séculos passaram a acontecer na nova
sede administrativa, o que entristeceu os habitantes da Mazagão Velha.
Em uma visita as
terras mazaganenses, Carlos Augusto Gomes, Carlitão, em 24 de agosto de 1997, a
convite de Juvenal Canto, integrante do Grupo Pilão, para assistir os festejos
do Dia do Divino Espírito Santo (Marabaixo de Rua), esse foi o primeiro contato
com a comunidade, e lá se vão 22 anos. Carlitão conta que aconteceu "um momento um tanto mágico. Estava vendo
aquele povo cantando e dançando aquela música de marabaixo, algo emocionante".
Esse elo se fechou
quando o líder do Grupo Banda, em uma roda de conversa com os moradores da
vila, recebeu um apelo para que ajudassem no retorno dos festejos do dia da
fundação de Mazagão, para a comunidade.
Esse apelo veio
através de Biló Nunes e os preparativos começaram a acontecer, através de
encontros e reuniões, parcerias com instituições públicas. De acordo com
Carlitão a tarefa foi árdua, mais conseguiram o retorno dos festejos de
fundação para sua origem: Mazagão Velho.
O pleiteante do
retorno Biló Nunes, agradeceu: “Nós tamos
com o coração satisfeito. Tem 60 anos, mas sempre brigando por este pedaço de
terra onde eu nasci, aonde eu me criê. Eu tenho que lutar por essa terra inté
o último dia da minha vida”.
Esse personagem e sua
história, assim como de dezenas de outros, estão com seus depoimentos gravados
pela equipe técnica do Grupo Placa. Assim a partir de 23 de Janeiro de 1998, a
Vila de Mazagão Velho voltou a festejar o seu aniversário de fundação.
Banda
Placa participa das comemorações de fundação de Mazagão Velho
A
partir de 1998, o elo entre a Banda Placa e a comunidade de Mazagão Velho se
intensificou, e levou o grupo musical a montar projetos e ações culturais e
oficinas de resgate as músicas, percussão, atividades recreativas e religiosas.
O
líder da Banda Placa começou a se integrar com pessoas da comunidade que tinham
os mesmo objetivos: trabalhar e promover a cultura local, divulgar as
atividades culturais inerentes a Mazagão Velho. Entre
esses destacou-se Jozué da Conceição Videira que abriu os caminhos e mostrou as
dificuldades para iniciar um trabalho com as crianças e jovens.
Uma
das primeiras decisões foi a realização de uma oficina de construção de caixa
de marabaixo na comunidade. A oficina possibilitou que os próprios moradores
construíssem seus instrumentos de percussão para utilizá-lo nos eventos.
Para
estreitar esse relacionamento, a Banda, ao gravar o seu terceiro CD “LUMIAR”,
convidou Jozué Videira e Biló Nunes, ambos moradores da comunidade para
participarem da gravação e Belém e eles o fizeram e foi sucesso, conquistando
mais respeito dos moradores.
A
partir daí as ações foram se desenvolvendo, entre elas o registro de eventos,
criação de acervos documentais (fotos e músicas) para o futuro Museu da Imagem
e do Som das manifestações culturais da Vila de Mazagão Velho.
A
Banda Placa ajudou a cria o Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo, direcionado a
todos as produções culturais locais.
Em
2000 um projeto executado foi a gravação do 1º CD de músicas de marabaixo e de
batuque, dividindo repertório com músicas autorais e algumas tradicionais
cantadas pelas pessoas da comunidade.
Destaque-se
que neste CD foi incluída uma música instrumental de Álvaro e de Alan Gomes,
que tinha origem no desabafo que Biló Nunes tinha feito no retorno dos festejos
de fundação de Mazagão Velho para a comunidade. Essa música tornou-se o carro
chefe do CD Mazagão Velho – 2 ‘Séculos de Cultura’, contando com o apoio do
então deputado Dalton Martins (falecido) e da Secretaria Estadual de Cultura, o
que levou a comunidade se sentir valorizada pela divulgação nas rádios do
próprio trabalho.
Com
o retorno dos festejos da fundação da vila para a comunidade de Mazagão Velho o
que se apresentava como dificuldade era o financeiro, o que levou a Banda Placa
a incluir em seu calendário o evento “CARNAVAL DO POVO”, passando a
caracterizar uma grande parceria com responsabilidades entre a Banda Placa,
Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo e a Comunidade de Mazagão Velho.
Em
2006 aconteceu a execução de um projeto esportivo, que fugia um pouco das
tradições e da cultura local, a Escolinha de Voleibol Acendino Jacarandá um dos
grandes pioneiros da comunidade. Um ano depois (2007) realizamos o festival de
voleibol Acendino Jacarandá, quando as crianças que participaram da escolinha
receberam seus certificados.
Em
2008 aconteceu a gravação do 2º CD – ‘NOSSAS TRADIÇÕES’ com 12 faixas, gravado
pelo Grupo Raízes do Marabaixo. Com produção de Álvaro e Alan Gomes e produção
executiva de Carlitão e Jozué Videira.
Em
2009 o Grupo Cavalaria de São Tiago foi incluído na organização dos festejos
dos 239 anos de Mazagão Velho, foi mais uma parceria que deu certo junto com o
Grupo Raízes do Marabaixo.
Em
2012, nos festejos dos 242 anos, o então prefeito José Carlos (Marmitão)
interessou-se em produzir um CD que fizesse o registro de algumas canções
incluindo comunidades tradicionais do municípios de Mazagão Novo. O CD teve
gravado seis canções – No Som dessa Caixa (Grupo Raízes do Marabaixo);
Pastorinhas no Marabaixo (Grupo Flores do Marabaixo); Mestre Jorge e Tia Flor
(Grupo São Benedito); Tambores (Banda Placa); Folia do Divino Espirito Santo
(Grupo Raízes do Marabaixo); Campo das Flores (in memoriam Biló Nunes).
Com direção geral de Carlitão/Jozué Videira, Direção e Produção Musical Álvaro
e Alan Gomes, direção executiva José Carlos (Marmitão).
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