terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Vila de Mazagão Velho – 250 ANOS


Vila de Mazagão Velho – 250 ANOS
         BERÇO DA RELIGIOSIDADE E DA CULTURA AFROAMAPAENSE



Há 22 anos, a partir de 23 de janeiro de 1998, a Vila de Mazagão Velho voltou a festejar o seu aniversário de fundação. Esse fato teve a participação da Banda Placa, que apoiou uma manifestação dos moradores da comunidade, feita através do Senhor Biló Nunes, reivindicando esse retorno que passou a acontecer no Mazagão Novo.

Reinaldo Coelho


Se você procura pela mistura de cultura africana e cenários amazônicos incríveis precisa visitar a Vila de Mazagão Velho, que completa seus 250 anos de fundação.

Nessa Vila respira-se a história e a cultura das raízes legitimamente africanas, pois a Mazagão Amazônica tem suas origens na Mazagão Marroquina.

É uma experiência de completa imersão que você lembrará para sempre. A Vila se parece com as do século 18, combinado com réplicas de casas que datam do século 16. Ali você encontrará os personagens daquela época, vividos pelos próprios habitantes da vila, que recriam a história de seus ancestrais, todo ano, através de uma representação teatral a céu aberto.

ATRAVESSANDO O ATLÂNTICO E NAVEGANDO O RIO AMAZONAS 

Mantendo vivo esse elo da Mazagão Amazônica e a Mazagão Marroquina, que foi invadida por mais de 150 mil homens de Mulei Mohammed, filho do temível líder árabe Abdallah el-Ghalib, faziam o cerco da morte aos portugueses sem muita disposição para negociar. Ali estava o começo do fim da aventura lusitana em território francês. 

Os portugueses de imediato bateram em retirada e teve início a história de Mazagão, a cidade africana que atravessou o mar para começar tudo de novo na colônia portuguesa – ‘o Brasil’.
A Mazagão brasileira se transformou no quinhão de terra nas bordas amazônicas povoado pela transferência das famílias portuguesas retiradas às pressas da Mazagão Marroquina, protegidas temporariamente em Lisboa e despachadas, indignadas e descrentes, à desconhecida capitania do Grão-Pará e Maranhão em 1770, o futuro Estado do Amapá.

Nesses 250 anos, ao chegar à Vila de Mazagão Velho, o turista ou visitante encontra e caminha em cenário histórico, cultural e religioso. A comunidade é considerada o berço cultural do Amapá, as festas religiosas, os batuques, cantorias e folias, o Marabaixo, as novenas são tradicionalmente cantadas e executadas como foram criadas a centenas de anos.
Os turistas vem de diversas localidades, a maioria são amapaenses que vivenciam essa cultura com dedicação, respeito e fé. Os habitantes desde as crianças aos idosos, e esses são centenários, são acolhedores e nas varandas oferecem a hospitalidade e os causos dessa vila.
Tradição garantida garoto toca caixa de marabaixo em Mazagão, Amapá
 Foto JULIO MARIA  ESTADÃO

O tambor do menino da Mazagão Amazônica tem assim quase 250 anos de mistérios e esconde o espírito de um velho escravo. São dezenas de festas religiosas e culturais o que aumenta a atratividade turística entre as cidades do interior do Amapá, afinal está intrinsecamente ligada à história da ocupação portuguesa da Amazônia.

UMA MUDANÇA QUE ABALOU A COMUNIDADE

A histórica Vila de Mazagão Velho era a sede de Mazagão, porém em 1915 foi transferida para Mazagão Novo e os festejos que aconteciam a dois séculos passaram a acontecer na nova sede administrativa, o que entristeceu os habitantes da Mazagão Velha.

Em uma visita as terras mazaganenses, Carlos Augusto Gomes, Carlitão, em 24 de agosto de 1997, a convite de Juvenal Canto, integrante do Grupo Pilão, para assistir os festejos do Dia do Divino Espírito Santo (Marabaixo de Rua), esse foi o primeiro contato com a comunidade, e lá se vão 22 anos. Carlitão conta que aconteceu "um momento um tanto mágico. Estava vendo aquele povo cantando e dançando aquela música de marabaixo, algo emocionante".
Esse elo se fechou quando o líder do Grupo Banda, em uma roda de conversa com os moradores da vila, recebeu um apelo para que ajudassem no retorno dos festejos do dia da fundação de Mazagão, para a comunidade.
Esse apelo veio através de Biló Nunes e os preparativos começaram a acontecer, através de encontros e reuniões, parcerias com instituições públicas. De acordo com Carlitão a tarefa foi árdua, mais conseguiram o retorno dos festejos de fundação para sua origem: Mazagão Velho.

O pleiteante do retorno Biló Nunes, agradeceu: “Nós tamos com o coração satisfeito. Tem 60 anos, mas sempre brigando por este pedaço de terra onde eu nasci, aonde eu me criê. Eu tenho que lutar por essa terra inté o último dia da minha vida”.
Esse personagem e sua história, assim como de dezenas de outros, estão com seus depoimentos gravados pela equipe técnica do Grupo Placa. Assim a partir de 23 de Janeiro de 1998, a Vila de Mazagão Velho voltou a festejar o seu aniversário de fundação.

Banda Placa participa das comemorações de fundação de Mazagão Velho


A partir de 1998, o elo entre a Banda Placa e a comunidade de Mazagão Velho se intensificou, e levou o grupo musical a montar projetos e ações culturais e oficinas de resgate as músicas, percussão, atividades recreativas e religiosas.

O líder da Banda Placa começou a se integrar com pessoas da comunidade que tinham os mesmo objetivos: trabalhar e promover a cultura local, divulgar as atividades culturais inerentes a Mazagão Velho. Entre esses destacou-se Jozué da Conceição Videira que abriu os caminhos e mostrou as dificuldades para iniciar um trabalho com as crianças e jovens.

Uma das primeiras decisões foi a realização de uma oficina de construção de caixa de marabaixo na comunidade. A oficina possibilitou que os próprios moradores construíssem seus instrumentos de percussão para utilizá-lo nos eventos.

Para estreitar esse relacionamento, a Banda, ao gravar o seu terceiro CD “LUMIAR”, convidou Jozué Videira e Biló Nunes, ambos moradores da comunidade para participarem da gravação e Belém e eles o fizeram e foi sucesso, conquistando mais respeito dos moradores.

A partir daí as ações foram se desenvolvendo, entre elas o registro de eventos, criação de acervos documentais (fotos e músicas) para o futuro Museu da Imagem e do Som das manifestações culturais da Vila de Mazagão Velho.

A Banda Placa ajudou a cria o Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo, direcionado a todos as produções culturais locais.

Em 2000 um projeto executado foi a gravação do 1º CD de músicas de marabaixo e de batuque, dividindo repertório com músicas autorais e algumas tradicionais cantadas pelas pessoas da comunidade.
Destaque-se que neste CD foi incluída uma música instrumental de Álvaro e de Alan Gomes, que tinha origem no desabafo que Biló Nunes tinha feito no retorno dos festejos de fundação de Mazagão Velho para a comunidade. Essa música tornou-se o carro chefe do CD Mazagão Velho – 2 ‘Séculos de Cultura’, contando com o apoio do então deputado Dalton Martins (falecido) e da Secretaria Estadual de Cultura, o que levou a comunidade se sentir valorizada pela divulgação nas rádios do próprio trabalho.

Com o retorno dos festejos da fundação da vila para a comunidade de Mazagão Velho o que se apresentava como dificuldade era o financeiro, o que levou a Banda Placa a incluir em seu calendário o evento “CARNAVAL DO POVO”, passando a caracterizar uma grande parceria com responsabilidades entre a Banda Placa, Grupo Folclórico Raízes do Marabaixo e a Comunidade de Mazagão Velho.

Em 2006 aconteceu a execução de um projeto esportivo, que fugia um pouco das tradições e da cultura local, a Escolinha de Voleibol Acendino Jacarandá um dos grandes pioneiros da comunidade. Um ano depois (2007) realizamos o festival de voleibol Acendino Jacarandá, quando as crianças que participaram da escolinha receberam seus certificados.

Em 2008 aconteceu a gravação do 2º CD – ‘NOSSAS TRADIÇÕES’ com 12 faixas, gravado pelo Grupo Raízes do Marabaixo. Com produção de Álvaro e Alan Gomes e produção executiva de Carlitão e Jozué Videira.
Em 2009 o Grupo Cavalaria de São Tiago foi incluído na organização dos festejos dos 239 anos de Mazagão Velho, foi mais uma parceria que deu certo junto com o Grupo Raízes do Marabaixo.

Em 2012, nos festejos dos 242 anos, o então prefeito José Carlos (Marmitão) interessou-se em produzir um CD que fizesse o registro de algumas canções incluindo comunidades tradicionais do municípios de Mazagão Novo. O CD teve gravado seis canções – No Som dessa Caixa (Grupo Raízes do Marabaixo); Pastorinhas no Marabaixo (Grupo Flores do Marabaixo); Mestre Jorge e Tia Flor (Grupo São Benedito); Tambores (Banda Placa); Folia do Divino Espirito Santo (Grupo Raízes do Marabaixo); Campo das Flores (in memoriam Biló Nunes). Com direção geral de Carlitão/Jozué Videira, Direção e Produção Musical Álvaro e Alan Gomes, direção executiva José Carlos (Marmitão).

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