Crônica: Blocos de carnaval
Por Rodrigo Alves de Carvalho
No baile de carnaval,
os foliões que pretendem ganhar um troféu de melhor bloco, precisam caprichar
na originalidade das fantasias e das folias.
Pensando nisso
Roberto, que era um folião frustrado por seu bloco carnavalesco nunca ter
levado um troféu em todos os cinco anos de folia nos salões, decidiu inovar e
formar um novo bloco.
O primeiro passo foi
comprar uma dúzia de blocos (blocos de construção) numa fábrica de blocos da
cidade, depois enfeitou um a um, pintou olhinhos com sobrancelhas, boquinhas
sorridentes, narizes de vários formatos e em cada bloco colocou uma peruca de
cores diferentes e formatos diferentes. Batizou de “Bloco dos Blocos”.
Na última noite de
folia, lá estavam todos os doze blocos colocados numa posição estratégica do
salão, todos paradinhos e sorridentes para a surpresa dos outros foliões e das
pessoas que brincavam o carnaval.
E que carnaval!
A folia corria
solta, era gente que bebia, gente que pulava, gente que caia, gente que às
vezes nem parecia que era gente.
Perfume estranho no
ar, fumaça estranha no ar, odores estranhos no ar. Casais que dançavam juntos,
casais que trocavam de casais, mulher dançando com mulher, homem dançando com
homem. Era um verdadeiro carnaval.
Roberto observava
tudo, observava os outros blocos se agitando no salão e produzindo mais
agitação, enquanto o seu bloco, ou melhor, os seus blocos continuavam
paradinhos no canto do salão, às vezes algumas pessoas paravam e ficavam
olhando sem entender nada, outras vezes levavam tropeções em algum bloco, que
na visão do embriagado, este havia se colocado em seu caminho.
A folia durou até a
madrugada da quarta-feira de cinzas, quando o chefe de cerimônias se preparou
para divulgar o bloco campeão.
Houve um silêncio no
salão, as pessoas e em particular os responsáveis pelos blocos, estavam aflitos
com o resultado, pois para eles seria a compensação de um ano inteiro de
economias e preparativos para que em apenas alguns minutos seus esforços se
transformasse em alegrias ou em uma grande decepção.
O mestre de
cerimonias divulga o campeão e ainda faz uma piadinha:
- E o bloco campeão é
o Bloco dos Blocos, pela originalidade e também pelo comportamento exemplar.
Revolta geral no
salão, os outros blocos não aceitam a decisão do jure, ou melhor, não aceitam
serem derrotados por um monte de areia e cimento, e começa o quebra pau. Eram
cadeiras que caiam sobre as cabeças, eram confetes e serpentinas que caiam
sobre as cabeças, eram blocos que se quebravam sobre as cabeças. O clube quase
que caiu abaixo.
No final de tudo,
quatro pessoas foram internadas com traumatismo craniano, enquanto que dezenas
de outras pessoas foram premiadas com fraturas e arranhões.
Essas pessoas
passaram a quaresma tentando se recuperar do trauma causado por uma dúzia de
blocos. Que pensando bem, até que estavam bem bonitinhos naquele trágico
carnaval.
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