UM ANO DEPOIS
Rodolfo Juarez
Um ano depois de ter entrado para o grupo de pessoas
acometidas da Doença Renal Crônica e que se submete à hemodiálise, pelo menos
três vezes por semana, volto a comentar sobre o assunto.
É uma situação em que os pacientes têm novas regras no
seu dia a dia e um compromisso de relevância social para minimizar as
preocupações da família que precisa compreender o que está acontecendo e buscar
equalizar a expectativa do paciente sobmetido à máquina de hemodiálise.
No Estado do Amapá apenas Santana e Macapá têm unidades
de nefrologia: a de Macapá conta com 38 máquinas, em dois salões na Unidade de
Nefrologia do Hcal, funcionando em quatro turnos, três durante o dia e um à
noite, atendendo a oito grupos de pacientes em hemodiálise. O quarto turno foi
criado devido à grande procura de pacientes encaminhados para fazer a
hemodiálise.
A máquina de hemodiálise, como máquina precisa estar em
funcionamento perfeito para ser usada pelos pacientes e, por isso, os
responsáveis mantêm técnicos de prontidão para qualquer emergência, afinal essas
máquinas funcionam ligadas ao corpo do paciente e movimentando todo o sangue
dele, filtrando-o ao máximo que puder, procurando substituir os insubstituíveis
rins.
No Estado do Amapá não são realizados transplantes de
rim, uma das alternativas para o paciente renal crônico. Os pacientes daqui
procuraram centros em outras cidades como: Fortaleza, Porto Alegre, Joinville,
entre outros.
Acontece que o tratamento fora de domicílio obriga ao
enfrentamento da burocracia local, a alegação da falta de recursos para os
pagamentos decorrentes, e lentidão do processo que, muitas vezes abre a porta
para a desistência ou para a morte do paciente.
Os médicos nefrologistas recebem o apoio de uma equipe
muito boa de enfermeiros, auxiliares de enfermagem, técnicos em enfermagem que
exercitam a dedicação como modo de tornar aquele momento menos difícil, mesmo
sabendo que nem sempre o resultado é o esperado ou imaginado.
Uma mesma pessoa administra a unidade de nefrologia do
Hcal, em Macapá, e a unidade de nefrologia do Hospital de Santana. Essa
situação prejudica, sobremaneira, a gestão que, ausente em pelo menos um turno,
se vê obrigada a agir sempre com atraso e chega a não perceber a aglomeração de
acompanhantes e pacientes, próxima ao balcão de atendimento, ambiente
apresentado como sala de espera.
O laboratório de análise de sangue dos pacientes em
hemodiálise nem sempre está funcionando. Este ano de 2020, por exemplo, o
laboratório não foi usado para um exame sequer. A alegação principal é a falta
de pagamento dos prestadores do serviço. Mesmo sabendo que os resultados dos
exames são fundamentais para a tomada de decisão dos médicos.
Durante uma sessão de hemodiálise de 3 horas, há 13 passagens
completas do sangue do paciente pelos filtros da máquina e, nesse processo os
nutrientes são retirados juntos com as impurezas. Um dos efeitos imediatos é o
aparecimento ou agravamento da anemia em quem se submete ao processo, além do
risco de ataques que enfraquecem os ossos.
A cada sessão o paciente é puncionado duas vezes para
permitir a movimentação do seu sangue fora do organismo e pelo mecanismo da
máquina. Um processo que exige a ligação, por dutos, do paciente à máquina, que
não pode parar durante a sessão.
Há um ano eu estou dependendo da máquina, acompanhando o
não funcionamento autônomo dos meus rins, assim como outros que no Amapá e
pelos outros estados do Brasil se submetem a esta alternativa que não trata,
mas mantém a vida.
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