Alcinéa
Cavalcante: A pioneira do jornalismo esportiva
Alcinéa Cavalcante marcou o início da década de 70,
sendo a primeira mulher repórter de campo da história a cobrir o futebol
amapaense. Talvez a primeira e única do norte do Brasil.
Franselmo George
Alcinéa Maria Cavalcante Costa nasceu no dia 19 de fevereiro de 1956 em
pleno carnaval, no antigo bairro da Favela, hoje denominado de bairro Central.
Seus pais Alcy Araújo Cavalcante e Delzuite Maria Carvalho Cavalcante eram
paraenses. Chegaram no Amapá no início da década de 50 trazido pelo amigo e
poeta Álvaro Cunha para trabalhar no governo de Janary Gentil Nunes. Alcir
Araújo, era jornalista e poeta, trabalhou por muito tempo em Belém nos jornais
a Folha do Norte, O Estado do Pará e O Liberal. Delzuite Cavalcante era
professora.
Alcinéa Cavalcante marcou o início da década de 70, sendo a primeira
mulher repórter de campo da história a cobrir o futebol amapaense. Talvez a
primeira e única do norte do Brasil. Tanto que atuou na imprensa esportiva
paraense nos jornais o Estado do Pará e O Liberal. Época que o futebol
amapaense era um celeiro de craques, exportava atletas para todos os cantos do
país.
A ideia de se tornar repórter esportiva surgiu aos 17 anos pelo fato do
seu pai, Alcy Araújo, tido como um dos maiores jornalistas da Amazônia, já
dizia o famoso e velho ditado "Filho de peixe, peixinho é", pois é,
foi fundamental para Alcinéa. Em meados de 1973 o grande jornalista Haroldo
Franco que também trabalhou na Folha do Norte e foi editor do jornal o Estado
do Pará, hoje Diário do Pará, fundou o primeiro jornal diário do Amapá,
denominado de "Jornal do Povo", localizado na época na Avenida
Diógenes Silva quase de esquina com a Rua Leopoldo Machado, e convida Alcinéa
para trabalhar. Haroldo Franco dizia que Alcinéa era uma menina muito esperta e
escreve muito bem, aceitou o convite com o maior prazer. Assim teve início a
brilhante carreira de uma das grandes jornalistas do Estado do Amapá.
Alcinéia é enfática em dizer que não houve preconceito/machismo quando
atuou como repórter de campo no futebol amapaense. "Como eu tinha uma
ótima relação com os colegas principalmente das rádios Difusora e Educadora as
principais emissoras que transmitiam os jogos do campeonato amapaense de
futebol, o Jornal do Povo era o único jornal escrito que cobria os jogos. O
Horácio Marinho era o fotógrafo do jornal. Não havia preconceito.
"Trocávamos
figurinhas" durante os jogos com os repórteres Luca Melo(Luiz Melo), Zé
Roberto da Mota Borges, José Caxias ainda magrinho(Educadora); Milton
Sapiranga, Almir Menezes e Paulo Silva(Difusora). Os programas eram:
"Momento Esportivo" que passava meio-dia na Rádio Difusora,
apresentado pelo Humberto Moreira e o "RE dá Olé", da Rádio Educadora
São José de Macapá. Eu tinha uma boa relação com os jogadores, os técnicos e os
cartolas. Até porque sabiam que no outro dia estariam estampados nas páginas de
esportes dos jornais. Eles me davam muita atenção. Era muito legal. O jornal
era aquilo que você guardava, entrava para a história, diferente do rádio. No
rádio, dizia-se, o "vento leva as palavras". Já o jornal era uma
coisa simples que podia passar cem anos, e estaria ali, nas bibliotecas e em
outros locais. Então, eu me sentia muito bem no meio deles", recorda.
Alcinéa lembra a época que mulher não frequentava estádios em Macapá
para assistir jogos de futebol. "Foi quando a FAD(Federação Amapaense de
Desporto) fez um chamado, uma campanha junto com a gente convidando as mulheres
para ir aos estádios, onde mulher não pagava ingresso, incentivando as mesmas a
levar a bandeira do seu clube. O legal disso é que no final do campeonato a FAD
chamava a gente e recebíamos homenagens com direito a diplomas de honra ao
mérito e medalhas", conta.
Alcinéa também fazia matérias esportivas para o Jornal O Liberal de
Belém do Pará. O jornal Liberal ofereceu para a FAD na gestão do então
presidente Manoel Antônio Dias onde Alcinéa produzia matérias sobre o
campeonato amapaense de futebol. Alcinéa não fazia só matérias sobre o futebol,
cobria o voley, o basquete, o judô e o tênis de mesa. Tinha uma página só de
esportes no jornal. Inclusive cobriu campeonatos nacionais. Entrevistou muitos
craques como da Seleção Brasileira Tricampeã de 70, Clodoaldo e Edu.
Alcinéa sente saudades do futebol amapaense do passado. "Era um
futebol melhor, a torcida se envolvia muito mais. Lembra da "Rebelde"
do Ypiranga Clube comandada pelo Antônio Rosa e da "Diabólica" do São
José comandada pelo Sucuriju. Era um negócio muito animado. Depois que foi
inaugurado os refletores do "Gigante da Favela", porque antigamente
os jogos começavam as duas horas da tarde, a preliminar era chamada de
"esfria sol" e a principal começava as quatro da tarde. Na
inauguração dos refletores o presidente da Federação era o Manoel Dias e o vice
Pedro Assis. Foi quando passou a ter jogos à noite nas quartas feiras. Eu cobri
a reinauguração onde veio a Seleção Olímpica. Inclusive fiz uma entrevista com
o Eder Aleixo e o título da matéria foi "Eder quer ir à Copa". O
maior sonho dele era disputar uma copa do mundo, logo depois foi convocado para
Seleção Brasileira", lembra.
Alcinéa era praticante do vôlei, judô e xadrez onde sangrou-se campeã
amapaense da modalidade. Perguntada quais craques do futebol amapaense que viu
jogar, diz que é complicado citar nomes porque poderia cometer injustiças e não
lembrar de alguns nomes. Mas citou alguns: Os cinco filhos do Herundino: Marco
Antônio, Haroldo Santos, Bira, Assis e o Aldo; os Trevizanis: Antônio Trevizani
e Mauro Trevizani(Nêgo); Piraca, Orlando Torres, Guara Lacerda, Batista, Bill
Maravilha, Goleiros: Zequinha, Emanuel o Aluízio. "Naquela época o futebol
amapaense tinha muitos craques. O pessoal jogava por amor à camisa. Uma vez fiz
uma matéria em Belém para o jornal - "Amapá continua sendo um celeiro de
craques". Estavam por lá naquela época: Bira, Aluízio, Albano, Célio,
Rodrigues Chevrolet, Cabecinha,..." conta.
Um fato marcante que emociona Alcinéa foi cobrir a chegada do Esporte
Clube Macapá no aeroporto de Macapá com o título inédito de campeão do primeiro
Copão da Amazônia em Porto Velho em 1975. "O time campeão trazendo e
erguendo a taça, foi um negócio superemocionante. Fui do aeroporto,
entrevistei, fiz tudo que tinha naquele dia, corrir pro jornal fiz a matéria e
depois fui para a sede do Macapá, festa que rolou a madrugada inteira",
lembra.
Alcinéa é jornalista profissional, filiada à Fenaj(Federação Nacional
dos Jornalistas), mas sua graduação é em Mecânica pela PUC do Rio de Janeiro. É
professora aposentada. Possui várias pós-graduações e uma delas é Comunicação.
Desde 1989, Alcinéa é correspondente do jornal O Estado de São Paulo(O
Estadão). Inclusive na inauguração do Estádio Olímpico Zerão em 17 de outubro
de 1990 inaugurado pelo presidente Fernando Collor de Melo e o secretário de
esportes Arthur Antunes Coimbra, o Zico, Alcinéa cobriu o evento pelo jornal O
Estado de São Paulo. Produz matérias para as mídias nacionais e internacionais.
Veja outros jornais e revistas da carreira: Jornal do Povo(o começo de tudo),
Marco Zero, Jornal do Dia, Amapá Estado, Liberal Amapá, Gazeta, O Liberal, O
Estado do Pará(atual Diário do Pará), O Globo, O Estado de Minas, Revista
Manchete, Revista Veja, Almanaque Abril, Agência Estado e Jornal The
Guardia(Inglaterra).
Atualmente, a jornalista e poetisa Alcinéa Cavalcante com seus quase 65
anos curte a vida em casa com a família, escrevendo seus livros, curtindo a
neta, a poesia, a literatura e produzindo matérias para o seu blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário