sexta-feira, 26 de junho de 2020

Cultura tenta sobreviver ao COVIDA-19

Jefferson Costa prepara apresentação durante a quarentena — FotoArquivo Pessoal-efferson Costa

Cultura tenta sobreviver ao COVIDA-19
As live atende ao público e quem paga a conta dos músicos?



A música e os shows artísticos e teatrais, ajudam o cidadão a enfrentar a luta pela sobrevida na pandemia e muitos cobram a empatia do artista, porém, a maioria deles não tem como sobreviver e alimentar suas famílias.

Reinaldo Coelho

Dentre os setores mais afetados pela crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19, a Cultura amarga perdas significativas que afetam em cheio artistas, técnicos, produtores e uma série de prestadores de serviço da cadeia criativa. Impedidos de dar continuidade a projetos, grande parte destes profissionais tem convivido com incertezas em relação ao futuro, e trabalha com adversidades para migrar para as mídias digitais.
Com a súbita perda de oportunidades de receita, decorrente do fechamento de teatros, museus, cinemas, centros culturais e cancelamento ou adiamento de eventos públicos, apresentações e produções, milhares de famílias que vivem da economia criativa estão com dificuldades financeiras, e muitas já sucumbiram à vulnerabilidade.

Atualmente, algumas estão recebendo doações de cestas básicas, a partir de ações coordenadas pelo Município e pelo Estado, em parceria com instituições privadas e entidades representativas. Mas isso não basta, pois na atual conjuntura, dependendo dos casos está faltando dinheiro até para comprar gás entre os profissionais das artes.

Paulo Alfaia
O produtor cultural amapaense, Paulo Alfaia destaca que apesar de a população estar “cada vez mais ligada em conteúdos culturais durante o isolamento” e “ser justamente a Cultura um pilar central do bem-estar neste momento”, a geração da renda por parte do artista causador de conteúdo não é instantânea.
“Por isso a necessidade de apoios emergenciais para o setor”, defende. Paulo Alfaia ressalta que, por vezes, o auxílio emergencial “não é visto com bons olhos”. “No entanto, neste momento é necessário garantir a sobrevivência das pessoas que com o seu trabalho reconstruirão a economia mais adiante.”
A valorização da música e a desvalorização do músico

Nas respostas à crise do coronavírus, a música tem sido uma das principais protagonistas. Nas varandas, nas lives no Instagram e no Facebook, nas manifestações encabeçadas por celebridades a favor do isolamento social, nos festivais virtuais independentes ou patrocinados, só dá ela. A música até nos pareceu uma resposta natural ao momento necessário de coletividade, união e conscientização, afinal "music makes the people come together", já cantava a bola a hitmaker Madonna na virada do milênio (em "Music", 2000).
Fazer música, nesta crise humanitária, converteu-se em um sinal de altruísmo, de doação. O artista que não entrar nessa onda de shows gratuitos pode até mesmo ser considerado pouco empático à situação
Essa cobrança e até mesmo queixa que têm assolado alguns artistas mostra que o público, muitas vezes, está alheio a tudo o que pode envolver o fazer música ao vivo e online, como direitos autorais, cinegrafistas, editores, qualidade de equipamentos de imagem e som etc. A falta de empatia, para usar o termo do momento, talvez resida em querer de graça a única coisa que tais artistas têm a nos oferecer: seus shows, suas vozes e suas canções.
Jeane Souza faz live solidária — FotoFacebookReprodução

Quem paga a conta dos músicos? Aplausos, visualizações e curtidas virtuais, via de regra, não enchem os bolsos do artista nem de toda a cadeia produtiva que está por trás de uma canção gravada, composta ou apresentada (destaquemos aqui a extensa rede de produtores, instrumentistas, compositores, técnicos de som etc.).
Embora, em editais e em negociações com casas de espetáculos, o alcance virtual de determinado artista tem contado como um importante argumento para sua contratação, na nova configuração da produção musical independente, é nos shows que a grande maioria dos artistas ganha o seu pão.
Uma vez que todos os shows, com toda a razão, foram suspensos para auxiliar no controle da pandemia do Covid-19, de onde virá o sustento desses músicos que estão por aí sendo intimados a disponibilizarem seu trabalho como se fossem voluntários em uma espécie de Músicos Sem Fronteiras? O atual desamparo ao qual a classe artística musical está submetida só expõe a fragilidade, a precariedade e a vulnerabilidade do trabalho musical no Brasil nos últimos anos.
Todos querem consumir música, mas nem todos querem remunerar os músicos. E isso não é de hoje: vem desde o consumo musical fácil, rápido e gratuito através das plataformas digitais. O que vemos agora, em um momento de fragilidade financeira de músicos, que dependem de seus shows presenciais para tirar seu sustento, é só a gota d'água de um processo que vem se acumulando há anos. Já passou da hora de encararmos o trabalho do músico para além de altruísmo e, neste momento de crise em que valorizamos a música, repararmos (nos muitos sentidos que o termo traz) a sistêmica desvalorização dos músicos. (Fonte: Revista Bravo)

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