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Jefferson Costa prepara apresentação durante a quarentena — FotoArquivo Pessoal-efferson Costa |
Cultura tenta
sobreviver ao COVIDA-19
As live atende ao
público e quem paga a conta dos músicos?
A
música e os shows artísticos e teatrais, ajudam o cidadão a enfrentar a luta
pela sobrevida na pandemia e muitos cobram a empatia do artista, porém, a
maioria deles não tem como sobreviver e alimentar suas famílias.
Reinaldo Coelho
Dentre os setores
mais afetados pela crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19, a Cultura
amarga perdas significativas que afetam em cheio artistas, técnicos, produtores
e uma série de prestadores de serviço da cadeia criativa. Impedidos de dar
continuidade a projetos, grande parte destes profissionais tem convivido com
incertezas em relação ao futuro, e trabalha com adversidades para migrar para
as mídias digitais.
Com a súbita perda de
oportunidades de receita, decorrente do fechamento de teatros, museus, cinemas,
centros culturais e cancelamento ou adiamento de eventos públicos,
apresentações e produções, milhares de famílias que vivem da economia criativa
estão com dificuldades financeiras, e muitas já sucumbiram à vulnerabilidade.
Atualmente, algumas
estão recebendo doações de cestas básicas, a partir de ações coordenadas pelo
Município e pelo Estado, em parceria com instituições privadas e entidades
representativas. Mas isso não basta, pois na atual conjuntura, dependendo dos
casos está faltando dinheiro até para comprar gás entre os profissionais das
artes.
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Paulo Alfaia |
O produtor cultural amapaense, Paulo Alfaia destaca que apesar de a população estar “cada vez mais ligada em
conteúdos culturais durante o isolamento” e “ser justamente a Cultura um pilar
central do bem-estar neste momento”, a geração da renda por parte do artista causador
de conteúdo não é instantânea.
“Por isso a
necessidade de apoios emergenciais para o setor”, defende. Paulo Alfaia
ressalta que, por vezes, o auxílio emergencial “não é visto com bons olhos”. “No
entanto, neste momento é necessário garantir a sobrevivência das pessoas que
com o seu trabalho reconstruirão a economia mais adiante.”
A valorização da música e a desvalorização do músico
Nas respostas à crise
do coronavírus, a música tem sido uma das principais protagonistas. Nas
varandas, nas lives no Instagram e no Facebook, nas manifestações encabeçadas
por celebridades a favor do isolamento social, nos festivais virtuais
independentes ou patrocinados, só dá ela. A música até nos pareceu uma resposta
natural ao momento necessário de coletividade, união e conscientização, afinal
"music makes the people come together", já cantava a bola a hitmaker
Madonna na virada do milênio (em "Music", 2000).
Fazer música, nesta
crise humanitária, converteu-se em um sinal de altruísmo, de doação. O artista
que não entrar nessa onda de shows gratuitos pode até mesmo ser considerado
pouco empático à situação
Essa cobrança e até
mesmo queixa que têm assolado alguns artistas mostra que o público, muitas
vezes, está alheio a tudo o que pode envolver o fazer música ao vivo e online, como
direitos autorais, cinegrafistas, editores, qualidade de equipamentos de imagem
e som etc. A falta de empatia, para usar o termo do momento, talvez resida em
querer de graça a única coisa que tais artistas têm a nos oferecer: seus shows,
suas vozes e suas canções.
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Jeane Souza faz live solidária — FotoFacebookReprodução |
Quem paga a conta dos
músicos? Aplausos, visualizações e curtidas virtuais, via de regra, não enchem
os bolsos do artista nem de toda a cadeia produtiva que está por trás de uma
canção gravada, composta ou apresentada (destaquemos aqui a extensa rede de
produtores, instrumentistas, compositores, técnicos de som etc.).
Embora, em editais e
em negociações com casas de espetáculos, o alcance virtual de determinado
artista tem contado como um importante argumento para sua contratação, na nova
configuração da produção musical independente, é nos shows que a grande maioria
dos artistas ganha o seu pão.
Uma vez que todos os
shows, com toda a razão, foram suspensos para auxiliar no controle da pandemia
do Covid-19, de onde virá o sustento desses músicos que estão por aí sendo
intimados a disponibilizarem seu trabalho como se fossem voluntários em uma
espécie de Músicos Sem Fronteiras? O atual desamparo ao qual a classe artística
musical está submetida só expõe a fragilidade, a precariedade e a
vulnerabilidade do trabalho musical no Brasil nos últimos anos.
Todos querem consumir
música, mas nem todos querem remunerar os músicos. E isso não é de hoje: vem
desde o consumo musical fácil, rápido e gratuito através das plataformas
digitais. O que vemos agora, em um momento de fragilidade financeira de
músicos, que dependem de seus shows presenciais para tirar seu sustento, é só a
gota d'água de um processo que vem se acumulando há anos. Já passou da hora de
encararmos o trabalho do músico para além de altruísmo e, neste momento de
crise em que valorizamos a música, repararmos (nos muitos sentidos que o termo
traz) a sistêmica desvalorização dos músicos. (Fonte: Revista Bravo)
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