O LUTO NA PANDEMIA
Vencendo e superando perdas
Reinaldo Coelho
Nossa vida é cheia de perdas e lutos, de altos e baixos. Nesses últimos noventa dias, com o estouro da contaminação pelo Novo coronavírus a humanidade está chocada, angustiada e incrédula pela nova realidade que o mundo se depara. E todos de uma maneira geral, de todas as classes sociais, gênero, cor, raça estão sofrendo pela perda de um ser que fazia parte de suas vidas, seja familiares, amigos, vizinhos, colegas e até os desconhecidos, todos sofrem pela empatia com a dor do seu semelhante.
Nessa pandemia essa é a parte
mais dolorosa de todos que estão perdendo seus entes queridos, não existe a
despedida, o adeus, o último olhar, o último beijo, a caricia meiga, não podemos
velar nossos mortos, não podemos enterra-los, não podemos receber os amigos e
familiares e dividir a dor, essa situação quebrou as regras da cultura humana,
e foi bruscamente sem preparação psicológica e espiritual. E a dor aumenta
muito mais. A ausência do líder religioso na encomenda do corpo e da alma é
mais um elo quebrado, uma vez que a
pandemia subverteu os rituais que ajudavam a lidar com as perdas. Essa contaminação pela Covid-19 não é somente
uma crise epidemiológica, mas também psicológica.
É a solidariedade na
dor do luto
A maior dor, porém, é
a perda de alguém muito querido, como pai, mãe, esposo ou esposa; alguém com um
laço afetivo muito forte. Geralmente, associamos a perda ao luto, mas existem
situações em nossa caminhada que são tão intensas que vivemos uma perda como um
luto.
Um exemplo são as
separações, as mudanças de cidade ou trabalho, o término de um namoro, a
mudança de escola, decepções, traições etc. É uma dor que precisa ser
enfrentada com realismo e muita ajuda pessoal, espiritual e, muitas vezes,
acompanhada por algum profissional ou alguém que tenha condições de vencer
conosco esses momentos difíceis. Quanto mais próxima a pessoa ou a situação que
se perde, mais difícil e delicado é o processo de recuperação. No entanto, é
possível viver bem e superar esses momentos de perdas e lutos.
O luto é o tempo de que
precisamos para retomar nossa vida. É um tempo difícil, mas muito importante.
Muitas vezes, a pessoa sente um misto de emoções: revolta, tristeza,
conformismo, raiva, angústia e indignação. É normal misturar sentimentos. O
coração não é uma mesa com várias gavetinhas onde separamos sentimentos,
emoções e outros bichos. Por isso, é preciso aprender a desabafar em Deus,
mostre-lhe seu coração ferido e machucado.
O MAIOR PROBLEMA HOJE É QUE NÃO
VIVENCIAMOS O LUTO.
O luto vivenciado ajuda a superar
os transtornos e as tristezas da sempre dolorosa perda de alguém querido. Pena
que muitos não pratiquem mais nenhum ritual de luto. Tudo aparenta ser normal.
Parece que nada mudou. No íntimo, todos sentem a perda. Precisamos viver as
etapas próprias do luto.
Velório, sepultamento, silêncio,
missa de sétimo dia, de um mês, de um ano. Durante os primeiros dias,
reservamo-nos para acolher melhor a dor da perda. Não adianta tomar remédio
para amenizá-la; ela não deve ser amenizada, mas sentida, saboreada de forma
madura e equilibrada.
No entanto, o distanciamento
social impede qualquer oportunidade de conexão, o que pode levar a um quadro
conhecido como síndrome do luto prolongado. Embora não seja possível fixar
prazos para superar a dor, no chamado luto complicado, todos os pensamentos da
pessoa estão relacionados à perda e ela não consegue realizar nem mesmo as
atividades costumeiras.
A psicóloga Sherry Cormier afirma
que é fundamental nomear a dor: “escrever ou manter um diário ajuda bastante,
assim como buscar o apoio de amigos e familiares. O isolamento não pode se
transformar em erosão do suporte social. Só assim conseguiremos resgatar a
confiança nos dias futuros”.

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