Crônica da Semana: Saudades da Lagartixa
Nunca irei esquecer o destino
cruel de minha amiga lagartixa (in memoriam).
Lembro-me de quando a vi pela
primeira vez na parede do banheiro de casa. Levamos um grande susto. Eu, por
não esperar encontrar aquele bichinho tão branquinho e com os olhos
esbugalhados olhando pra mim e ela por não esperar encontrar um ser tão grande com
as calças arriadas se preparando para... tomar banho. Ao me ver ela correu por
uma fresta no forro de madeira de meu banheiro e desapareceu.
Depois desse nosso primeiro
encontro, sempre nos deparávamos um com o outro até que me acostumei com aquele
simpático e inofensivo bichinho.
A lagartixa era bem branquinha,
tão branquinha que chegava a ser transparente, dava até para ver seu pequeno
intestino e algumas artérias dentro dela. Tinha os olhos arregalados e uma
língua veloz e certeira na hora de comer pequenos insetos como aleluias, moscas
e pernilongos.
Sempre nos encontrávamos,
acredito que ela ficava esperando em sua toca até eu aparecer na porta e toda
feliz e faceira descia pela parede para me ver.
O mais interessante era que
essa amiguinha gostava de ouvir minha voz. Ela ficava paradinha me encarando
enquanto eu falava sobre minha vida, minhas alegrias e tristezas do dia-a-dia.
Quantas vezes eu acordava no
meio da madrugada com vontade de fazer xixi e ficava conversado com ela por
horas, até o amanhecer. A lagartixa podia até não falar comigo, mas também
tinha histórias para “contar”. Como na vez que minha prima de São Paulo chegou
para passar um final de semana em casa e no primeiro dia que entrou no banheiro
para tomar banho ao se deparar com a lagartixa aprontou um berreiro e saiu
seminua desesperada dizendo que tinha um bicho enorme tentando morde-la.
Foram muitas histórias
legais... até o dia em que entrei no banheiro e não a vi na parede, pensei que
a lagartixa estava em outro cômodo da casa e quando fechei a porta do banheiro
ouvi um barulho que nunca mais esquecerei
“Creeeecccc!!!
Foi o fim trágico de minha
amiga lagartixa... amassada no batente da porta. Não tenho remorsos de meu
pequeno assassinato, até porque foi um acidente, foi sem querer!
No mais... hoje estou feliz...
porque encontrei uma nova amiguinha: uma barata que mora em baixo da pia da
cozinha.
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga
(MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários
estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas.
Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela
editora Clube de Autores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário