12 DE AGOSTO – DIA DOS PAIS E ANIVERSÁRIO DE MESTRE BENEDITO – 108 ANOS SE VIVO ESTIVESSE.
Reinaldo Coelho
A homenagem (in memoriam) a MESTRE
"BENÉ" – carpinteiro e marceneiro do Amapá, tem um sabor de saudades
e de orgulho. O Mestre Bendito, foi e é meu avó e meu pai de coração, pois
desde os meus dois anos de idade me acolheu, após a separação de meus pais,
Raimundo Moura do Nascimento e Zoraide Coelho do Nascimento, ambos já
falecidos.
O pai é sempre o pilar de uma família,
quando assume esse honroso papel. É o membro mais altivo de todos e faz com que
todos o respeitem de forma distinta de qualquer outro. O meu avó Benedito era
isso e muito mais. Ele conquistou uma coisa em vida muito importante chamada
imortalidade, pois com sua profissão e caráter, deixou um legado anônimo, mais
existente até hoje e utilizado por muitos amapaenses, sem saberem que ali teve
a arte de um carpinteiro e a gestão de um mestre de obra, hoje empreiteiro da
Construção Civil no início do hoje Estado do Amapá.
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| EU, REINALDO COELHO, COM MEU AVÔ E PAI MESTRE BENEDITO |
Ao longo da vida diversas pessoas
passam por nós, mas algumas são capazes de marcar a nossa trajetória para
sempre. Não só por ser meu avó e pai e estar sempre comigo, mas por suas atitudes,
palavras e conselhos, Mestre Benedito foi e é uma das pessoas mais importantes
de minha vida. Tudo aquilo que me ensinou e cada situação em que soube me
guiar, te fazem a pessoa mais especial do mundo e me fazem te amar cada vez
mais. Descanse em PAZ
Acompanhe a história desse grande
homem, sisudo, inteligente com apenas os dois primeiros anos do ensino primário.
Mas, honesto, competente e excelente chefe, pai, avó, esposo e ativista social
Há exatos 108 anos, numa
segunda-feira, nascia no município paraense de Curralinho em 12 de
agosto de 1912, Benedito Ferreira do Nascimento, Mestre 'Bené', um dos
grandes mestres de obras do Amapá.
De família atuante no roçado e na pecuária como todas as comunidades dentro do arco Marajoara, mestre Benedito Ferreira do Nascimento teve seus estudos primários paralisados na segunda série; era autodidata, possuía uma caligrafia corrida e era atento ao noticiário político do Brasil e do mundo, através das leituras diárias dos jornais impressos e de seu rádio à pilha, através das ondas d’A Voz da América’. A carpintaria era sua profissão e a marcenaria sua arte. Era o mais velho de uma família de três irmãos, (Benedito, Nestor, Alcídia).
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| MESTRE BENEDITO, MINHA IRMÃ MARI DAS GRAÇA, MEU PAI RAIMUNDO MOURA E MINHA AVÓ JOSEFINA MOURA |
Casado
com Josefina Moura do Nascimento, com quem gerou três filhos, sendo que as duas
gêmeas, pereceram de malária aos três anos de idade, que minava as matas
amazônicas, e o caçula Raimundo Moura do Nascimento, adoeceu da mesma endemia e
para evitar a perda do único filho o casal deslocou-se imediatamente para
Macapá, em 1939, passando a residir à Rua Beira da Praia, hoje orla de Macapá.
Nesse
período, Benedito Nascimento começou a trabalhar como carpinteiro e nas horas
vagas construía mesas, camas e utensílios diversos como marceneiro. Como o
serviço rendia pouco sua esposa Josefina, mais conhecida como Dona Nenê, passou
a 'lavar para fora' nas águas do caudaloso Rio Amazonas, e tinha no filho
Raimundo Moura do Nascimento, conhecido por Gatão, o entregador das roupas
lavadas e engomadas.
O
Amapá é transformado em Território Federal e com o advento das obras públicas
os trabalhadores pedreiros, carpinteiros e pintores se tornam mão-de-obra de
primeira linha. O governo Janary Nunes, contempla os grandes mestres e pequenos
construtores e os torna Mestres de Obras com assinatura de contratos, e assim
passam a construir a infraestrutura da capital amapaense, para as repartições
públicas que dariam o ponta pé inicial para o crescimento do novo Território.

CONTRATO DE CONSTRUÇÃO DO TELHADO DA ESCOLA NORMAL DE MACAPÁ, HOJE UEAP - ASSINATURA DO GOVERNADOR JANARY NUNES E DO MESTRE DE OBRAS BENEDITO FERREIRA DO NASCIMENTO
Mestre
Júlio e Mestre Benedito capitanearam diversos operários e montaram suas
equipes. Ele, mestre na carpintaria, recebeu a incumbência de construir os
telhados do Hospital Geral de Macapá e da Maternidade Geral. Mestre Benedito
participou das obras de escolas e postos de saúde nos municípios, entre eles o
Barão do Rio Branco, a Escola Normal de Macapá e o Hospital Geral de Macapá
(primeira unidade de saúde pública do Amapá).
Com
o crescimento populacional de Macapá e a pretensão do governo em realizar
mudanças na frente da cidade, com a construção da residência oficial, Macapá
Hotel e as residências dos primeiros gestores do segundo escalão, Janary
começou a demarcação de terrenos a partir da General Rondon e os doou aos que
prestavam serviços ao governo.

Caso
do Mestre Benedito que foi agraciado com um terreno medindo 35 x 40
na Avenida Presidente Vargas, entre as Ruas Eliezer Levy e Odilardo Silva, que
recebeu o número 70, onde começou a construir sua residência; e sua esposa, com
a eficiência de seu trabalho de lavadeira, recebeu dos primeiros diretores a
missão de lavar os uniforme de Janary Nunes e do Promotor Público Dr. Hildemar
Maia, que mais tarde seria padrinho de casamento de Raimundo Moura do
Nascimento e de Zoraide Coelho do Nascimento.
Ao ser instalada a mineradora ICOMI no Amapá, o governador Janary Nunes, a pedido da empresa, indicou nomes de servidores operários de elevado padrão técnico, que haviam atuado nos serviços estruturais de instalação do governo do Amapá, que pudessem trabalhar com os engenheiros americanos. Mestre Bené foi um dos indicados e colocado à disposição da empresa.

Seu meio de transporte desde os primeiros anos foi sempre uma bicicleta Monark com a qual percorria a cidade e carregava seus instrumentos de trabalho.
Foi
um tratamento longo e dolorido, pois no Amapá não havia nenhuma estrutura
para atender esse tipo de doenças, somente no Pará, e a hemodiálise se tornou o
único meio de mantê-lo vivo; foram infindáveis viagens a Belém, com fretes de
avião.
A
luta foi inglória, mesmo com o esforço sobre-humano de profissionais da época.
Benedito
Ferreira do Nascimento faleceu em sua residência no dia 30 de abril de 1985.
Não viu o Amapá se transformar em Estado.
Mestre Bené, deixou no
Amapá a marca de seu trabalho.
Mesmo
autodidata e semianalfabeto curtia de Roberto Carlos a Mozart e adorava beber
seu Whisky ouvindo uma sanfona ou um violino na velha vitrola da sala de
visita, onde recebia a todos com elegância e educação.
Seu
domingo era sagrado para a família, com quem o almoço reunido com todos, era
importante. Mestre Benedito partiu em virtude de um câncer de próstata e teve assistência
do saudoso médico Dr. Antônio Pinheiro Teles, porém devido à falta de estrutura
para tratamento de alta complexidade no Amapá, como a hemodiálise e que
infelizmente ainda persiste com alguns avanços, mas muitos poucos para um
espaço de 40 anos.




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