Reinaldo Coelho
Romancista, poeta, ensaísta, educadora. São muitas as facetas de Maria Helena Amoras, um dos grandes nomes da educação e da cultura amapaense.
Nascida no município de Amapá é amapaense por duas vezes, ou seja, da ‘gema’ em 29 de maio de 1930, com 90 anos bem vividos e com sua história entrelaçada com a terras Tucujus, que tanto bem representa e que vem ajudando a escrever sua biografia, com testemunho de milhares de jovens que educou e formou e hoje muitos ocupam posições de influência no destinos do Amapá.

Aos 18 anos transferiu-se para a capital, Macapá, para cursar a Escola Normal no Instituto de Educação do Amapá (Ieta), hoje Universidade Estadual do Amapá (Ueap), já trazendo na bagagem algumas poesias. Entre outras atividades, foi diretora da Associação dos Professores do Amapá.

Em 2016 foi condecorada com a comenda Notável do Memorial do Estado Amapá. Aposentada, porém na ativa, Maria Helena Amoras hoje é uma intensa usuária da tecnologia e sempre presente nas postagens nas redes sociais. Além dessa contemporaneidade, nossa educadora, deu continuidade, expondo sua veia de escritora e poetisa a todos os seus conterrâneos e seguidores.
Para além do seu valor literário, seu percurso dentro da Educação mostra sua relevância como personagem para a cultura, ao colocar como pauta a produção literária amapaense e, mais especificamente, a existência de uma vertente feminina.
Na introdução do livro Macapá, um rastro de pirilampos, primeira obra literária de sua autoria, um romance-autobiográfico. Maria Helena escreve sua trajetória como desbravadora de uma terra recém transformada em Território Federal, e com falta de tudo, principalmente na saúde e na educação. No Amapá ela formou sua família e criou seus 11 filhos neste novo Território transfroteiriço no extremo norte brasileiro.
Em suas memórias, um trabalho de profunda reflexão e com uma narrativa envolvente, a autora convida os leitores a conhecer um pouco do seu mundo. Esse mundo das escritas, já é de muito tempo, começa quando se dedicou a área de Língua Portuguesa, cátedra que lecionou nas escolas que exerceu o magistério e se aposentou.
No início de seu texto, ao narrar o encontro do personagem que está caracterizado como sua pessoa, descreve o lindo encontro com o seu amado, que se tornaria ... seu companheiro, esposo e aminimigo também...
Três paragrafo depois ela define os homens e é bem sincera no que via naquela época após guerra.
[...] Sempre achei que o jovem não passa de um pão besuntado de manteiga ou mel. O homem maduro, um machão costumas, escravizador de mulheres; o velho, um porco chauvinista capaz de fazer guerras, só para ver jovens assassinados e não deixá-los gozarem os prazeres que a vida de paz traz aos outros.
[...] Posicionamentos de sua juventude que ainda persistem, infelizmente até hoje.
Como começou
Seu debute nos livros aconteceu em 1988 ao publicar seus poemas, crônicas e contos na Coletânea Amapaense Poesia e Crônica, lançada naquele ano. Em 2017 já reconhecida como escritora, Maria Helena Amoras, após o sucesso do livro ‘Macapá, um rastro de pirilampos’, lança seu primeiro livro de poesias, intitulado ‘Devaneios’. A obra reúne 58 poesias, uma variedade temática e estrutural tão grande, versando sobre questões que descortinam a vida de todos nós, como o bom ânimo, saudades e lembrança, entre outras.
Maria Helena, poetisa amapaense, não esquece seu rico torrão, tanto prova que veio a Macapá para lançar sua obra ‘Devaneios’ como forma de agradecimento por tudo que conquistou. O lançamento contou com presença de seus ex alunos, colegas professores, poetas e de um público ansioso para conhecer a poetisa.
O livro Devaneios, segundo a escritora, é formado por pedaços de vida e de sentimentos dos quais nenhum ser humano está imune.
“São sensações boas, momentos que parecem sofridos, como a saudade, fragmentos de felicidade que nos formam para vida, dores que nos fortalecem. Tudo isso que a gente sente ao longo da vida e que nos meus 87 anos quis compartilhar o meu olhar sobre”, contou a escritora em 2017.
Em entrevista a editoria do Tribuna Amapaense, a educadora e poetisa explicou porque a escolha do nome do seu primeiro livro de poesia.
“O nome do livro lançado é Devaneios, pois li em certa ocasião que Albert Einstein, o grande físico, descobriu a teoria da relatividade através de devaneios o que me deu a inspiração, para o meu livro de poesias”.
Os poemas escolhidos para comporem ‘Devaneios’, teve a sugestão dos filhos de Helena Amoras, com o apoio da poetisa. “São dezenas de poesias que já compus e apenas 72 poemas constam nesta publicação. A escolha foi feita por sugestão dos filhos com o meu apoio incondicional. Escrevi usando as linhas romântica e saudosista”.

Na ocasião Halda Amoras, filha da escritora, em nome da família afirmou: “Nascemos, crescemos, tornamo-nos pessoas adultas, buscamos uma profissão, trabalhamos, casamos, formamos família, construímos uma imagem de profissional, de mãe, mas fica lá no fundinho da alma algo que você gostaria de ao longo da vida poder ter oportunidade de fazer, algo que está muito intrínseco, muito íntimo no seu ser. No caso dela, mulher, mãe, educadora, poetisa, escritora, que tem uma sensibilidade ímpar, que desabrochou esta vontade, aí ela está colocando um pouquinho daquilo que ficou guardado no seu seio, por longo tempo, por longos anos, e veio para o papel, para compartilhar conosco sentimentos que estão também em nós.
Acredito que ainda falta muita coisa. Vamos conceber assim, o tempo às vezes é muito cruel conosco, porque a idade chega e as dificuldades emocionais vão crescendo, e você não consegue mais colocar isso no papel”.
Em 2019 a escritora amapaense lança “Mais de Mim - em prosas e versos”. Nessa sua mais recente obra, a poetisa descreve sua experiência com a nova tecnologia, e reconhece que foi arrebatada pelas redes sociais e os teclados da velha máquina de escrever, continuaram em frente ao monitor do computador e nonagenária é ativa nas postagens de suas poesias.
“O facebook conseguiu me abraçar porque, por meio dele reencontrei muitos amigos e parentes que não via décadas. Voltei a entrar em contato com ex-alunos de Macapá, algo tão imaginável para mim; e passei, a saber, diariamente dos filhos, noras, netos, bisnetos que moram distantes....”.
Maria Helena Amoras reconhece que não pode fugir de seu destino. “O meu é escrever, principalmente durante a madrugada, tão grande e sabia companheira. Ela que me faz lembrar que é preciso retirar as pedras do caminho, por mais pesadas que possam parecer. Você não sabe? Pedras nem sempre são de rocha. Podem ser de isopor, colocadas ali para amedrontar ou disfarçar a realidade”.
(Maria Helena Amoras dos Santos)
O sol veio…Despertou, subiu,
esquentou
declinou
e morreu dentro de mim…
E a lua veio…
Acenou, riu
e falou pra mim
palavras de amor:
– És fonte,
inspiração de vida.
Razão de harmonia.
Em cada lágrima caída
está a tua dita.
Não te queixes
porque tudo é fantasia:
sonhos
ilusões
paixões
e melancolia…
Levanta,
anda, corre e ri.
A vida é o amor
que ainda brota em ti
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