APAGÃO NO AMAPÁ - FALHAS EXISTIRAM E AINDA PERSISTEM
A Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), operada pela ISOLUX, foi adquirida pela GEMINI ENERGY em dezembro de 2019
Aparentemente, há problemas e há, pois o Amapá está sete dias com problemas energéticos, cinco completamente na escuridão e suas consequências sociais. Primeiro, por que o sistema de proteção contra descargas atmosféricas (raios) não foi capaz de proteger o transformador? É preciso ter o famoso para-raio. O que estava instalado lá não funcionou. É possível ter havido erro de projeto ou de manutenção. Segundo, por que houve danos em dois transformadores? Deve ser erro de projeto também
Reinaldo Coelho
A empresa oficialmente e legalmente responsável pela operação da Subestação de distribuição de Macapá, a Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), era da espanhola Isolux, que tem histórico de maus serviços prestados em outros países. Mas, no fim do ano passado a linha foi comprada pela Gemini Energy, que pertence a dois fundos de investimentos: a Starboard e a Perfin. Ainda não foi esclarecido se a possibilidade de multa, prevista pela decisão judicial, se estende à Gemini.
Incapacitada tecnicamente, e estruturalmente o grupo multinacional espanhol que controla a concessionária Linhas do Macapá não conseguiu resolver o problema e pediu socorro para os trabalhadores da Eletrobras. A estatal brasileira está enviando técnicos dos estados do Pará, Maranhão e Rondônia para ajudar no reparo. O problema é que nem um gerador substituto, nem peças de reposição, a Isolux possui no local.
De acordo com os técnicos especialistas e servidores da estatal Eletrobrás, a Isolux não tem capacidade técnica, nem trabalhadores em números suficientes para manutenção, nem recompor a energia em pouco espaço de tempo, por isso os técnicos da Eletrobras foram chamados para prestar socorro.
O presidente do Sindicato dos Ubanitários do Amapá (STIU-AP), Jedilson Santa Bárbara de Oliveira, critica ainda o desmonte da Eletronorte no estado. Segundo ele, a empresa tinha no estado do Amapá, 220 trabalhadores em 2007, mas com a sanha privatista de Michel Temer (MDB-SP), hoje conta com apenas 110 trabalhadores.
Apesar da gravidade da situação, o ministério das Minas e Energia e o governo local, preveem que a situação só se normalize em 15 dias, podendo se estender por outros 15.
A demora, dizem os técnicos, é que um novo gerador só deve chegar em duas semanas porque ele pesa cerca de 100 toneladas e seria levado de barco, o que dificulta ainda mais a logística operacional. A esperança para a população é que o fornecimento de energia seja restabelecida em 70% em todo o estado do Amapá, conforme prometeram as autoridades governamentais.
Enquanto lutam contra o tempo para restabelecer pelo menos parte da energia nos 13 municípios afetados (apenas três estão com energia: Laranja do Jari, Vitória do Jari e Oiapoque, por serem abastecidos pela usina de Coaraci Nunes, sistema independente da linha de transmissão da Isolux
“Toda essa situação poderia ser evitada se a empresa que ganhou a concessão da linha de transmissão contratasse profissionais com qualificação, mas ela só se interessa em pagar baixos salários, colocando a população em risco”, critica Jedilson.
O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) ao tomar conhecimento da situação da população amapaense, frente a catástrofe do apagão causado pela força da natureza, somado a irresponsabilidade de uma empresa que opera o sistema de energia amapaense com o Sistema Interligado Nacional (SIN), expôs em seu site a preocupação ocorrido no Amapá e a insegurança e confiabilidade das outras unidades federativas aque estão tendo seus sistemas privatizados.
"O que a gente sabe é que, definitivamente, a Isolux não tem um corpo técnico suficiente e capaz para atuar num tipo de intercorrência como esta. Tanto é que o Ministério das Minas e Energia acionou a Eletronorte, uma estatal, para ajudar na recuperação do sistema no Estado do Amapá. A Eletronorte já mobilizou técnicos de vários estados da Região Norte para recuperar o sistema da Isolux. Vão tentar colocar o segundo transformador que sofreu algumas avarias com o incêndio para alivar o estado", expôs o Sinpro-DF
Além disso, a estatal Eletronorte, que não tem nenhuma responsabilidade pelo fato ocorrido, emprestou outro transformador de propriedade dela, disponível, porém, terá de ser removido do Estado de Roraima. Trata-se de uma operação que irá demorar algum tempo.
“Não podemos fazer acusações levianas, precisamos de apuração, mas podemos tirar lições desse problema do Amapá. Aparentemente, há problemas. Primeiro, por que o sistema de proteção contra descargas atmosféricas (raios) não foi capaz de proteger o transformador? É preciso ter o famoso para-raio. O que estava instalado lá não funcionou. É possível ter havido erro de projeto ou de manutenção. Segundo, por que houve danos em dois transformadores? Deve ser erro de projeto também”, analisa Ikaro Chaves, engenheiro eletricista da Eletronorte e diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (Aesel).
Na avaliação dele, o problema do Amapá suscita a reflexão sobre como é encarada o setor elétrico no Brasil porque o que os governos colocam como prioridade para uma empresar ganhar um leilão desses é o menor preço. Mas, e isso é verdade, não existe uma fiscalização do projeto. Muitas vezes a empresa oferece o menor preço, mas não faz um projeto bem-feito, não utiliza o melhor equipamento e materiais e, inclusive, corta muita mão de obra, deixando o quadro de pessoa insuficiente para enfrentar todas as situações para baixar preço, ganhar leilão e maximizar os lucros.
Essa maneira de encarar o setor elétrico é outro aspecto que põe o País em risco. Essa é a lição que fica. Vai entregar as empresas do setor elétrico para empresas privadas que só visam o lucro? Todas as empresas privadas visam o lucro. A empresa privada existe para dar lucro ao dono dela. Não existe para outra coisa. Geralmente, esse lucro é feito em detrimento da segurança dos consumidores, dos trabalhadores e do próprio meio ambiente.
“O que acontece no Amapá é o espelho do que irá acontecer com a CEB após o leilão porque a empresa que irá concorrer será como todas as outras que cortaram mão de obra e investimentos para concorrer pelo menor preço e maximizar os lucros. Isso não é fato isolado. O que aconteceu no Amapá não é fato isolado: acontece frequentemente no Estado de Goiás, que deixa a população no prejuízo; em Rondônia, no Acre. Trata-se de uma tragédia anunciada”, assegura.
JUSTIÇA DETERMINA ATÉ DIA 10/11 A NORMALIZAÇÃO DA ENERGIA NO AMAPÁ
![]() |
Justiça-Federal-no-Amapá-da-3-dias-para-Isolux-retomar-energia-no-Estado |
A Justiça Federal da 1ª Região determinou na tarde de sábado, 7, que a empresa multinacional Isolux restabeleça completamente o fornecimento de energia elétrica no Amapá em até três dias, até terça-feira, 10. O não cumprimento acarretará em multa de R$ 15 milhões. Na decisão, o juiz faz uma série de críticas ao governo federal, especialmente por se responsabilizar pela reparação dos danos, sem ônus até o momento para a iniciativa privada.
Embora a ação tenha como um dos alvos a Isolux, a empresa entrou em recuperação judicial na Espanha e não existe mais. A concessão, formalmente chamada de Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), pertencia à Isolux, mas no fim do ano passado a linha foi comprada pela Gemini Energy, que pertence a dois fundos de investimentos: a Starboard e a Perfin. Ainda não foi esclarecido se a possibilidade de multa, prevista pela decisão judicial, se estende à Gemini.
COMO A ISOLUX ENTROU NO AMAPÁ
A empresa espanhola Isolux Ingenieria S/A venceu em 27 de junho de 2008, há 12 anos, a concessão dos dois lotes iniciais A e B que juntamente com o lote C, vencido pelo consórcio Amazonas compõem o linhão Tucuruí-Manaus-Macapá, com 1.829 quilômetros de extensão num empreendimento a ser construído na Floresta Amazônica.O prazo das concessões de transmissão é de 30 anos.
A espanhola Isolux Ingenieira S/A arrematou dois lotes. O primeiro, lote A, com a os trechos LT Tucuruí – Xingu (PA) e LT Xingu – Jurupari (PA) e duas subestações, com o deságio de 24,59% e Receita Anual Permitida em R$ 74.300.000,00. Para o lote B, LT Oriximiná – Jurupari (PA), LT Jurupari (PA) – Laranjal (AP), LT Laranjal – Macapá (AP) e duas subestações, a empresa ofereceu o lance de R$ 71.880.000,00, que representa um deságio de 16,90% em relação ao preço inicial.
A Receita Anual Permitida (RAP) estimada para os três lotes que formam o Linhão Tucuruí-Manaus-Macapá é de R$ 294,283 milhões por ano. Somente o lote C tem uma RAP estimada em R$ 109, 2 milhões, a maior receita definida para um lote.
- Este trecho, responsável por transportar energia elétrica do Sistema Interligado Nacional até Manaus, terá capacidade para transportar cerca de 2700 MVA, suficiente para atender a demanda prevista para cidade de Manaus em 2025.
Na ocasião foi propagado grandes vantagens dessa privatização, 20% a menos na conta de energia consumida pelos amapaenses, ao contrários, os preços estão destruidos a economia de milhares de familias, pois, aqpresentam valor absurdos, R$ 1.800,00, para quem sobrevive com um salário minimo.
Em entrevista coletiva, o diretor-geral da Aneel da época, Jerson Kelman, ressaltou a importância do leilão dos lotes A, B e C, que vão conectar parte da região Norte - cujo combustível para geração térmica é subsidiado pela Conta e Consumo de Combustíveis (CCC) - ao Sistema Interligado Nacional com benefícios diretos a população.
"Para o consumidor vai representar um valor 20% menor do que é hoje". declarou Jerson Kelman
Nenhum comentário:
Postar um comentário